48 refugiados ucranianos chegaram de madrugada a Loulé em busca de paz

Autocarro partiu de Varsóvia e fez a viagem seguida, sem paragens, até Portugal

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Pouco faltava para as 6h00 da manhã, quando o autocarro chegou ao parque de estacionamento do hotel do parque aquático Aquashow, em Quarteira. Lá dentro, 48 refugiados ucranianos viam terminada uma longa de viagem de cerca de 48 horas, sem paragens, que os trouxe de Varsóvia para Portugal, em busca de uma vida em paz.

Depois de, nos últimos dias, terem chegado autocarros a Olhão e Albufeira, foi a vez, na madrugada deste sábado, 12 de Março, do concelho de Loulé.

No hotel do Aquashow, onde puderam descansar um pouco e tomar uma refeição, estes 48 refugiados foram recebidos pela Câmara Municipal, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Segurança Social e também por pessoal ligado à saúde.

A médica Maria Margarida Guilherme, do Algarve Biomedical Center (ABC), acompanhou toda a viagem.

À chegada, ainda mal refeita das muitas horas na estrada, contou aos jornalistas como tudo «decorreu sem problemas».

Ou melhor…quase tudo.

 

O autocarro a chegar – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

O momento de maior tensão deu-se quando um bebé de duas semanas, que vinha a bordo com a mãe, começou a apresentar sinais «de febre, dificuldades respiratórias e anorexia».

O recém-nascido acabou por ficar internado em Frankfurt, na Alemanha, onde testou positivo à Covid-19.

Mais tarde, veio-se a saber que um primo, igualmente bebé, mas de 14 meses e que estava a fazer a viagem, também estava infetado.

«Foi uma situação de maior tensão, mas que foi corrigida. Na altura, perguntei como deveria agir e disseram-me que não seria preciso testar os restantes passageiros. O bebé e a mãe ficaram num canto do autocarro, mais isolado, e retirei três pessoas idosas para mais longe», contou a médica.

Apesar de nenhum outro passageiro ter apresentado sintomas, todos foram testados hoje à chegada a Quarteira.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Aparte esta situação, a médica Maria Margarida Guilherme relatou como, durante a viagem, sentiu as pessoas «tranquilas».

«Havia uma família com o futuro mais incerto… Depois, há o facto de os homens, a maior parte, ter ficado na Ucrânia. Eu acho que a maior parte das pessoas ainda não sabe bem o que vai acontecer. No fundo, viram-se obrigados a fugir», disse.

Destas 48 pessoas, 17 são adultas (15 mulheres e dois homens) e 31 crianças. A maior parte destas pessoas fugiu de Kiev, lviv e Ivano Frankivsk, cidades que pouco eram conhecidas, mas que agora não saem das notícias, pelas piores razões.

Todas têm algum elo de ligação com o concelho de Loulé, como explicou Sandra Vaz, do departamento de Desenvolvimento Social e Saúde da Câmara de Loulé.

«Havia ligações ao concelho e isso facilitou e tranquilizou as pessoas», revelou. Prova disso é que, à espera, no parque de estacionamento do Aquashow, estavam alguns familiares destes refugiados.

 

Maria Margarida Guilherme e Sandra Vaz – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

A Câmara de Loulé, garantiu Sandra Vaz, vai agora trabalhar «para receber estas pessoas da melhor forma».

Até porque a «fase seguinte é a integração, com apoio nas áreas da saúde, da educação e do emprego», revelou.

Para a jovem médica Maria Margarida Guilherme, esta foi uma «experiência gratificante» que nem o cansaço consegue anular.

«No início, temos aquela ideia muito romântica e vamos de braços abertos. Claro que há situações de maior tensão, mas é tudo uma aprendizagem. As pessoas eram todas simpáticas e, mesmo não entendendo a língua, fomo-nos entendendo, com a ajuda do Google Tradutor, do intérprete», conclui, entre risos.

Esta iniciativa do Município de Loulé, que faz parte dos mecanismos de apoio e acolhimento aos refugiados deste conflito, foi realizada em estreita colaboração com a DOINA – Associação de Imigrantes Romenos e Moldavos no Algarve e validada pelo Alto Comissariado para as Migrações, Secretaria de Estado para a Integração e Migrações e Secretaria de Estado da Internacionalização. Contou ainda com o apoio do ABC – Algarve Biomedical Center.

 

 



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