Teatro de Palha na várzea de Aljezur marca nova temporada do Lavrar o Mar

Programação deste ano começa nos primeiros dias de Abril

Giacomo Scalisi, na várzea de Aljezur – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Sabe o que é um teatro de palha? É isso mesmo que pensou: um teatro construído com fardos de palha. E é mesmo isso que a programação do Lavrar o Mar tem para oferecer nesta nova temporada de 2022, lá mais para Junho.

A partir de desenho do arquiteto Pedro Quintela, será criado um espaço a céu aberto num terreno da várzea de Aljezur, construído com «esses verdadeiros tijolos gigantes que são os fardos de palha», revelou Giacomo Scalisi, dirigente da cooperativa cultural Lavrar o Mar, em entrevista ao Sul Informação.

E assim, durante quatro semanas, entre 25 de Junho e 17 de Julho, haverá espetáculos de música, cinema, teatro, dança, «quem sabe um baile», nos quatro fins de semana. Mas o Teatro de Palha ficará aberto durante a semana, podendo ser visitado todos os dias, até porque lá estará patente uma exposição com as melhores fotografias que João Mariano fez, ao longo dos anos, dos vários espetáculos do Lavrar o Mar (LoM).

O Teatro de Palha, como se pode ver no desenho abaixo, incluirá um palco, uma plateia, uma parede para um ecrã de cinema, espaço para camarins, uma galeria de exposições, bilheteira, casas de banho, enfim, tudo o que faz falta num teatro.

O programa ainda não está fechado, mas Giacomo adiantou que, para a programação de cinema, espera contar com a colaboração dos Cineclubes de Faro e de Tavira. «Ainda não o fiz, mas em breve vou contactar com eles».

«Gostaríamos muito de ter uma parceria com eles, ter sempre um dia durante o fim de semana em que houvesse cinema, depois música. Temos ideias de bailes, de aprender danças de salão, tango, valsa, etc».

O Teatro de Palha «vai ser o grande highlight na programação do Lavrar o Mar aqui em Aljezur. Porque é um projeto que estávamos a pensar há bastante tempo e agora, finalmente, concretiza-se», salientou Giacomo Scalisi.

 

 

Um dos problemas com que o Lavrar o Mar se depara é o corte nos financiamentos. «No ponto de vista financeiro, o Lavrar o Mar continua com o apoio das Câmaras Municipais de Aljezur e de Monchique, da DGARTES, que também financia este projeto e nada mais! Porque o 365Algarve, como sabemos, desapareceu. Na verdade, se acabou, não sabemos, porque ninguém nos disse nada. Ainda estamos à espera que alguém nos diga, oficialmente, que já não acontece. É uma pena, mas a verdade é que as Câmaras de Aljezur e Monchique são pequenas, têm orçamentos reduzidos e não nos podem dar mais dinheiro. E a DGARTES é um financiamento que vem de 2020 e este ano foi prorrogado devido a esta questão da pandemia», explicou.

Isso faz com que, neste momento, o LoM tenha «um orçamento que é quase metade daquele que estávamos a utilizar, nos primeiros três, quatro anos. Só o financiamento do 365Algarve era 180 mil euros, era muito dinheiro, chegávamos aos 400 mil euros, com a DGARTES, com as Câmaras, com a CCDR. No primeiro ano, conseguimos um ótimo financiamento, tínhamos um budget à volta dos 400, 500 mil euros».

Porque não quiseram diminuir a qualidade da programação, houve que cortar em alguma coisa: no número de espetáculos. «Não podemos ter a mesma força que a programação tinha. Não queremos baixar o nível , há projetos que gostaríamos de trazer cá, mas são muito caros e não conseguimos trazer. Mas, pronto, inventamos coisas. Como esta do Teatro de Palha que, no fundo, também é um projeto caro, mas são quatro semanas de programação. Não é um festival, é mesmo uma programação intensa a marcar o começo do Verão», acrescentou Giacomo.

 

 

Mas não se pense que a programação do Lavrar o Mar só começa em Junho, com esse Teatro de Palha. Tudo vai começar nos primeiros dias de Abril, com Novo Circo, com a companhia francesa Attraction Céleste e o seu espetáculo «L’Empreinte» (A Pegada). Nos dias 1, 2 e 3 de Abril, na Casa do Povo de Alferce, em horário ainda a definir, os palhaços Bibeu e Humphrey, ou seja, os atores-músicos Servane Guittier e Antoine Manceau dão a conhecer novas formas de teatro, continuando a aventura da pista com novas personagens sempre equipadas com seus instrumentos musicais.

«Trata-se de um verdadeiro mergulho no mundo da memória, mas também da amnésia, que será responsável por desencadear peripécias, jogos incríveis entre duas personagens. Uma delas esquece-se, engana-se, procura… as palavras entre ambas não se fixam, os objetos desaparecem, os acontecimentos ultrapassam-nos e, por vezes, até esquecem as suas melodias preferidas… é como se a memória fosse abaixo como um fusível…», explica a produção do LoM.

Em Maio, entre os dias 19 e 22, Aljezur vai receber o espetáculo «Work», que traz a companhia do coreógrafo Cláudio Stellato de novo ao Algarve e ao Lavrar o Mar, depois de cá ter estado (em Monchique), em 2017, num espetáculo na antiga serração que envolvia madeira, não deixando ninguém indiferente.

Desta vez, volta a trazer teatro, dança, novo circo, misturando, numa estranha bricolage, pregos, madeira, tinta, ferramentas e gestos quotidianos que parecem não ser importantes, revisitados e transformados num fantástico workshop de “do it yourself”.

«Como se seguissem um manual de montagem de um universo paralelo, as personagens/artífices trabalham num lugar onde todos têm um papel. Usam gestos precisos, resultado de horas e horas de rotina. Aqui, os esforços físicos são levados à exaustão, o que às vezes leva a um resultado absurdo».

«Ainda não temos confirmação, mas queremos fazer este espetáculo num espaço industrial que está abandonado há 30 anos, mas que tem condições muito boas para o que precisamos», explica Giacomo Scalisi.

Depois de mês e meio de paragem durante o pico do Verão, o Lavrar o Mar voltará em Setembro, com as Caminhadas com Arte, que regressam a Monchique e Aljezur.

Mas está também de volta a companhia belga Laika. Depois de se terem estreado com «Peep & Eat», em 2016 (Aljezur), os belgas regressaram com «Cantina», em 2018 (Monchique) e com «Balsam» (em conjunto com o coletivo Zefiro Torna), em Novembro do ano passado (Aljezur). Agora, segundo adiantou Giacomo Scalisi ao Sul Informação, trarão «o espetáculo para crianças “Soup’alapatate”: vão fazer uma sopa de batata na aula e depois os miúdos têm que comer a sopa».

Segundo a própria companhia Laika, trata-se de um «espetáculo atual, que trata da guerra e da perda, da fome e dos benefícios de uma boa sopa. Um ministério nomeou uma senhora para mostrar às crianças que se pode comer de forma saudável enquanto lambe os lábios. A sua missão: preparar sopa na sala de aula».

Depois, lá para finais de Novembro, com a chef Rosário Pinheiro, Giacomo voltará a apresentar “Comer com os Olhos”, mas desta vez ao vivo.

«Durante a pandemia fizemos os programas online “Comer com os olhos”. Desta vez, espero que a Covid nos deixe fazer, ao vivo, este espetáculo sobre a comida, com a Rosário. É a continuação do “Pasta e Basta”, numa nova aventura culinária teatral que vamos tentar apresentar na altura oficial do Festival da Batata-Doce, final do mês de Novembro, início de Dezembro».

 

 

Para a passagem de ano – e, mais uma vez, se a pandemia deixar… – está já confirmado o regresso do “Novo Ano, Novo Circo”. Monchique irá voltar a receber a companhia de novo circo “Akoreacro”, que, em 2017 já tinha apresentado «Klaxon». Desta vez, será «Dans ton Coeur», um espetáculo sobre o qual o jornal francês Le Monde escreveu; «inventivo, rápido, completo, musical, Dans Ton Coeur merece o sucesso que gera por onde passa». Depois do espanto que foi Klaxon, este novo espetáculo promete um fim de ano bem diferente.

E quanto ao espetáculo do Cirque Trottola, que era para ter sido apresentado no final de 2021, em Odemira e em Monchique, mas acabou por ser adiado devido à Covid?

«Estamos a tentar trazê-los cá em Fevereiro de 2023, porque eles estão com imensos espetáculos, é tão difícil tê-los. Ficámos dois anos à espera de uma data e depois, quando a conseguimos, tivemos que cancelar. Mas parece que em Fevereiro de 2023 há disponibilidade, em Odemira e depois em Monchique». Aguardemos, então.

Quanto ao trabalho da cooperativa LoM, certo é que, em 2022 há muito mais a acontecer e já dentro de dias. Logo ali ao lado, no Alentejo, decorre a programação «Lavrar o Mira e a Lagoa», que envolve os concelhos de Odemira e de Santiago do Cacém. Para saber tudo o que se lá vai passar, basta clicar e ler aqui.

A programação Lavrar o Mar só é possível graças aos financiamentos da Direção-Geral das Artes, Municípios de Aljezur e Monchique, e ainda dos programas Compete 2020, Portugal 2020 e do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, Institut Français e Embaixada de França em Portugal.

 

 



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