O “Caminho” de Rui Matos é para ser seguido no Museu de Tavira

Exposição poderá ser visitada até dia 14 de Abril

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

«Um escultor trabalha com a realidade, mas constrói também uma nova realidade». É esta a premissa que leva o escultor Rui Matos a trabalhar hoje exclusivamente o ferro e «a contar uma história» com cada uma das peças que faz. A reconstrução de todas as memórias do seu “Caminho” pode ser apreciada, até 14 de Abril, no Museu Municipal de Tavira.

A calma que o escultor Rui Matos tem, quando recebe os convidados à porta do Museu Municipal de Tavira, revela os vários anos de experiência como artista a expor as suas obras pelo país.

O antigo Palácio da Galeria é o palco da sua mais recente exposição, patente desde o dia 29 de Janeiro.

«Faço as esculturas de uma maneira muito pessoal, tentando contar uma história que me interessa», explica Rui Matos, enquanto sobe as escadas do museu que dão acesso às salas que acolhem a mostra.

«Cada obra corresponde a um corpo de origem única, que cresceu e se desenvolveu a partir de uma tensão interior», mas não é uma peça acabada, pois «pode aceitar objetos exteriores, integrando-os como utensílios».

 

Rui Matos – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Depois de décadas a trabalhar materiais como o barro, resinas sintéticas e pedra, há cerca de 13 anos que Rui Matos usa, principalmente, o ferro como matéria prima das suas obras. É mesmo esse o material das peças que, ou oxidadas ou pintadas, compõem esta exposição.

«Dediquei-me exclusivamente ao ferro, pois acho que este material tem muito mais a ver com a minha linguagem e com aquilo que quero transmitir», realça.

Para o artista, o ferro tem também, na História da Arte, «uma memória» que lhe interessa «muito»: o Construtivismo Russo.

«Pela primeira vez, houve um movimento que é sobretudo dedicado à escultura e que teve como grande matéria prima a utilização do ferro», evidencia.

Um dos aspetos principais da mostra é o tamanho das peças: grandes e que saltam logo à vista. Ainda assim, só algumas é que têm nome – um género de complemento, como explica Rui Matos.

Esses nomes «são algo mais do que uma mera frase. São algo que estabelece uma relação das formas que o público irá ver com um pensamento ou ideia. As pessoas podem depois estabelecer essa ligação ou não. Quem as vê, pela sua sensibilidade, inteligência, cultura, entre outras aptidões, acaba por fechar o significado da escultura».

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Para Rui Matos, as suas esculturas têm algo que toca aos visitantes, pois «há imensos pequenos objetos, quase identificáveis, mas que podem ser muitas coisas. Acho que isso dá às pessoas a capacidade de transformar o que veem em imensas coisas».

«Eu quero que as pessoas se identifiquem com aquelas pequenas coisas das esculturas que faço e que, de alguma maneira, encontrem o significado para fecharem as minhas peças», diz o artista.

Durante a visita à exposição, Rui Matos salienta que «todas as peças da mostra são marcantes», mas evidencia que, na primeira sala, «há duas peças que são as principais», intituladas “A sequência dos dias” e “Pesados Silêncios”.

 

O artista, com Ana Paula Martins, presidente da Câmara – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Para Ana Paula Martins, presidente da Câmara de Tavira, «esta é mais uma exposição que demonstra a versatilidade do Museu Municipal», um espaço que tem recebido «grandes artistas» e que, mesmo desde o início da pandemia em Portugal, em Março de 2020, «já recebeu três grandes exposições».

«A escultura é uma modalidade de arte que não tínhamos há algum tempo, pois as últimas exposições têm sido de pintura, mas fico contente por estes artistas escolherem a nossa cidade para aqui apresentarem as suas peças», explica a autarca que, quanto ao futuro, revelou que o Museu deverá acolher, em breve, uma exposição sobre Balsa.

Por enquanto, esta mostra de Rui Matos «pode ser visitada por pessoas de todas idades», mesmo que «não tenham conhecimento em Arte Contemporânea ou Arte Moderna», de terça-feira a sábado, entre as 9h30 e as 16h30.

Rui Matos nasceu na cidade de Lisboa em 1959 e, atualmente, vive e trabalha próximo de Sintra. Frequentou o curso de Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, entre 1980 e 1987, tendo sido, em 1993, bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.

Várias das suas esculturas em ferro já tinham sido expostas, em 2018, na Galeria de Arte do Convento Espírito Santo, em Loulé.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 

 



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