Investigador considera alívio das restrições quando baixar mais a incidência e o número de mortos

Segundo Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular

O investigador Miguel Castanho considerou hoje que ainda é cedo para aliviar as restrições nesta fase da pandemia, defendendo ser necessário ter valores «bastante mais baixos» em termos de incidência, internamentos e óbitos por Covid-19.

«O que temos que decidir agora é qual é o ponto ideal para aliviar as restrições, que eu creio que não será já», disse à agência Lusa o investigador do Instituto de Medicina Molecular, a dois dias da reunião que junta peritos e políticos, para avaliar a situação epidemiológica de Covid-19 no país.

Para Miguel Castanho, o que há a fazer agora é reconhecer que todos os indicadores estão em fase descendente, nomeadamente a incidência, os internamentos e os óbitos.

«O R(t) [índice de transmissibilidade] está claramente inferior a 1, o que aponta para essa fase descendente (…) o número de vítimas mortais parece que começou a estabilizar, eventualmente a diminuir, mas não temos nada para celebrar porque o valor está bastante elevado», com «um número absolutamente incomportável de mortes diárias», sublinhou.

Apesar de, em termos proporcionais, o número de pessoas que morreram devido à variante Ómicron ser «muitíssimo menor» do que o observado com a Delta, como houve muitas pessoas infetadas, o número de mortes em termos absolutos «foi ainda bastante elevado».

Sobre se estes óbitos por Covid-19 poderão ter sido motivados por outras causas, o professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa afirmou ser «uma falsa questão».

«Ainda que a Covid-19 só tenha agravado a outra doença, o que é certo é que é um fator de contributo para a morte ou para o agravamento da condição daquela pessoa», que fica num risco muito maior, justificou, vincando que não se deve subestimar a gravidade da Covid-19.

Voltando à questão sobre o alívio das restrições, Miguel Castanho disse que deve acontecer quando se atingir «valores bastante mais baixo» de incidência, internamentos e vítimas mortais.

Estes valores devem aproximar-se dos definidos para a matriz de risco de 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias. «Agora ainda estamos à volta dos seis mil [casos] só para termos uma noção do desfasamento em que estamos em relação aos parâmetros iniciais», observou.

«Quando chegarmos a valores mais comparáveis com esses, quando estivermos claramente com um número de vítimas mortais bastante inferior ao que temos atualmente, e isso deverá ser no máximo metade daqueles que temos atualmente, aí estamos também mais próximos da primavera», altura em que poderá ser adequado fazer uma revisão das medidas de contenção.

O investigador indicou ainda que já se está a observar um relaxamento das medidas por parte da população.

Por um lado, há «um desejo muito forte» de passar esta fase, «uma tendência natural muito grande para atirar a pandemia para trás das costas», e, por outro, as pessoas têm a perceção de uma fase de melhoria e «o vírus já não será tanto uma preocupação».

A isso acresce a dificuldade que as pessoas já têm em acompanhar a mudança das regras, tendendo «a esquecê-las e a viver de acordo com a sua própria impressão».

Por essa razão, Miguel Castanho aconselhou as autoridades a não tomarem medidas pontuais e a explicar às pessoas que, a partir determinada altura, o país vai entrar numa nova fase e haverá um conjunto de novas regras.

«Se cada uma destas coisas é mudada pontualmente e isoladamente, às tantas, as pessoas não acompanham e não conseguem ser coerentes com as medidas que estão em vigor, além de que não entendem bem e, portanto, é mais difícil aderirem ao plano», argumentou.

O investigador disse ainda que se deve ser «muito cauteloso» quando se tomam medidas em comparações com outros países: «A lógica das transmissões, contágios, das infeções, das doenças é uma lógica muito local e devemos resistir às vezes a fazer comparações precipitadas entre países».

«Alguns países estão melhores que nós e, portanto, aliviam restrições e alguns países tinham restrições mais apertadas do que as nossas e estão a aliviá-las», notou.

 



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