“Info.cuidador” surge para «apoiar e aconselhar cuidadores informais» do Sotavento algarvio

Projeto de inovação social do Centro Humanitário de Tavira da Cruz Vermelha pretende «ser alargado a todo o país»

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

Virgínia Santos, de 70 anos, cuidadora do seu companheiro que sofre de demência, é uma das mais recentes integrantes no “Info.cuidador”, um projeto promovido pelo Centro Humanitário de Tavira da Cruz Vermelha Portuguesa, que pretende dar apoio e aconselhamento aos cuidadores informais algarvios, através das novas tecnologias.

Vendo a sua vida «apenas dedicada a cuidar do marido», Virgínia, que não gosta de ser tratada por “dona”, soube do projeto “Info.cuidador” e «quis logo fazer parte dele», conta ao Sul Informação.

A fazer-se ouvir através de uma videochamada, Virgínia revela que «as conversas que tenho com a psicóloga têm ajudado muito à minha saúde mental», mas também «os restantes apoios e funcionalidades que o projeto tem, já me facilitaram a vida».

A funcionar em pleno desde Agosto, o “Info.cuidador” baseia-se «na implementação de um serviço online» que tenta «diminuir a sobrecarga emocional do cuidador, na medida do possível, de uma forma próxima, através das tecnologias», explica Andréia Dores, psicóloga e coordenadora do projeto.

A incidir nos quatro concelhos abrangidos pelo Centro Humanitário (Alcoutim, Castro Marim, Tavira e Vila Real de Santo António), a iniciativa «conta já com 17 cuidadores integrados», mas o objetivo é «chegarmos a 25 por concelho», uma «meta grande que acreditamos ser atingível».

Este é um projeto de inovação social, cofinanciado pelo CRESC Algarve 2020, Portugal 2020 e fundos europeus.

 

Andréia Dores, coordenadora do projeto “Indo.cuidador” – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

«No caso da Virgínia, as conversas que tenho puxam mais pela parte emocional, as dificuldades que sente, porque atrás disso tudo está uma grande história de vida», explica Andréia Dores. Mas «há cuidadores e cuidadores», realça.

«Normalmente, as pessoas associam o cuidador a pessoas mais idosas que cuidam do seu companheiro ou de uma pessoa acamada, mas não há um critério relacionado com a idade. Poderemos ter, por exemplo, uma mãe que cuida do filho, que é jovem, e que teve algum problema».

A coordenadora do “Info-cuidador” garante que este «não é destinado apenas à faixa etária mais idosa» e que «pode ser mesmo fundamental para ajudar qualquer pessoa, independentemente da idade».

«Muitos dos cuidadores, com todo o trabalho que têm com a pessoa cuidada, desenvolvem, por vezes, perturbações psiquiátricas, porque estão sujeitas a cenários de stress, ansiedade, depressão. E nós estamos cá para ajudá-los», realça Andréia Dores.

Para fazerem parte do projeto, os cuidadores interessados podem inscrever-se ou ser referenciados por outras entidades. É-lhes feita uma avaliação psicológica, «para percebermos se estão em sobrecarga emocional, uma realidade cada vez mais frequente, e qual a sua qualidade de vida».

Se o cuidador apresentar sobrecarga, «algo que verifiquei em todos os que avaliei até agora», será integrado e, numa fase seguinte, «vamos a casa da pessoa entregar um tablet que tem a aplicação do projeto, para o cuidador, e um smartwatch, para a pessoa cuidada».

A aplicação foi «pensada, idealizada e programada» apenas para este fim e «tem uma área onde o cuidador poderá realizar, de imediato, uma videochamada com um dos profissionais do projeto» e uma secção «onde ficam registados os sinais vitais da pessoa cuidada, recolhidos pelo smartwatch», explica a coordenadora.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

O “Info.cuidador” tem sete profissionais «prontos a ajudar quando for necessário»: enfermeiro (24h/dia), psicólogo, terapeuta da fala, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, assistente social e nutricionista.

Apesar de uma ampla oferta em termos de profissionais, Andréia Dores ressalva que esta não é uma linha de emergência, «não substituímos o 112», mas sim uma linha de apoio e aconselhamento «para as pessoas terem algum apoio ou esclarecerem alguma dúvida que tiverem».

«O cuidador é que é o nosso utente. Sempre que ele precisar, liga-nos, mas se não necessitar, a equipa procura sempre saber e manter um contacto próximo da pessoa, disponibilizando sempre algum tipo de acompanhamento», realça.

 

Manuel Marrafa – diretor do Centro Humanitário de Tavira – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

O cuidador informal «está à simples distância de um toque, ou seja, através de um clique na aplicação entra em contacto connosco», realça, por seu lado, Manuel Marrafa, diretor do Centro Humanitário de Tavira da CVP e um dos impulsionadores do projeto.

O Centro começou a ver «a necessidade de aparecer um projeto desta amplitude neste universo» dos cuidadores e «entendemos criar este “Info.cuidador” que acho muito interessante e que, tenho a certeza, terá um grande futuro nos próximos tempos».

«É fundamental ouvir as pessoas e há cuidadores que nos ligam a chorar por lhes termos melhorado um pouco a vida», explica Manuel Marrafa.

O “Info.cuidador” conta também com a parceria da Associação Nacional de Cuidadores Informais e, com esta colaboração, o diretor do Centro Humanitário de Tavira pretende «que o projeto seja alargado ao resto do país».

Os cuidadores interessados em aderir, desde que vivam nos concelhos abrangidos, devem contactar o Centro Humanitário de Tavira através do e-mail [email protected] ou do contacto telefónico 937 101 377.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 

 



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