Escola Secundária Pinheiro e Rosa tem sala de aula onde a matéria se come

Curso tem 32 alunos, divididos por três turmas

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Naquela sala, mais do que ser ensinada, a matéria come-se. Ou melhor, saboreia-se. É raro o dia em que os alunos do curso de cozinha da Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro, não põem as mãos na massa para confecionar os mais diversos pratos: seja no restaurante pedagógico, aberto a todos, nos menus take away ou na «ajuda preciosa» que dão ao MAPS – Movimento de Apoio à Problemática da Sida. 

São 10h00 de uma sexta-feira e, no quartel general do curso de cozinha da Pinheiro e Rosa, a preparação do almoço vai avançada.

Divididos por várias tarefas, os alunos, de jaleca vestida, preparam um arroz de tomate com peixe frito que será o almoço de famílias carenciadas, apoiadas pelo MAPS.

O professor André Pereira Rodrigues acompanha tudo a par e passo, mas a autonomia demonstrada pelos jovens aspirantes a cozinheiros leva a que mal tenha de intervir.

O projeto de apoio ao MAPS é, apenas, uma das muitas valências deste curso de cozinha muito especial.

«Nós começámos no ano letivo 2016/2017. Na altura, não tínhamos nada, mas, quando cá cheguei, a direção desta escola, que é fantástica, disse-me: “André, nós não temos nada, mas tu podes fazer tudo”», conta ao Sul Informação. 

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Com a ajuda de restaurantes e hotéis, que doaram material, e com a entrada do também professor Luís Almeida de Jesus, foi possível tornar os sonhos realidade.

«A nossa semana divide-se assim: à segunda-feira, fazemos ou menu take away ou restaurante pedagógico, aberto a qualquer pessoa. À quarta-feira, temos o restaurante-cozinha, mais elaborado e aberto a toda a gente, ou o menu take away. Por fim, à sexta-feira, é o dia em que ajudamos o MAPS», descreve André Pereira Rodrigues.

Os dois dias que faltam, terça e quinta-feira, são dedicados à teoria e «às técnicas que servem de base em qualquer cozinha».

Maria Pisten, 18 anos, é uma das alunas deste curso (no total, há 32 jovens a frequentá-lo, divididos por três turmas).

À reportagem do Sul Informação, conta que a experiência tem sido «mesmo muito boa».

«Eu estou no segundo ano e decidi escolher este curso porque, em minha casa, sempre se cozinhou muito. Quando os meus pais cozinhavam, eu assistia a tudo e fiquei com esse gosto», diz.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Depois de já ter feito um estágio, no final do primeiro ano, Maria começa a pensar no que será o futuro, após o final do curso. E tudo parece estar bem delineado.

«Primeiro, quero ganhar algum dinheiro para depois abrir o meu restaurante», conta.

Para a colega Linys Oliveira, a decisão de entrar no curso de cozinha não foi tão fácil, mas o balanço também é muito positivo.

«Eu ia ser cabeleireira», diz, entre risos.

«Só depois me interessei pela cozinha. Aqui na escola falaram-me do curso, tinha um amigo que me disse bem, acabei por vir experimentar e estou a gostar muito», acrescenta, prontamente.

Ao longo do percurso, Linys Oliveira, que veio do Brasil com os pais e tem o sonho de abrir uma confeitaria, conta como o apoio dos professores tem sido «excelente».

«Fazem-nos sentir que estamos quase a trabalhar num restaurante a sério», diz.

E é esse mesmo o grande objetivo de todo o dinamismo deste curso de cozinha.

«Os nossos cursos já são reconhecidos e isso, para nós, é maravilhoso. É a prova de que o nosso esforço tem resultado porque esta é uma oportunidade para os nossos alunos também», diz o professor André Pereira Rodrigues.

Os jovens que saem formados da Secundária Pinheiro e Rosa já são, inclusive, procurados no mercado de trabalho. Na turma do 3º ano do ano letivo passado, dos oitos alunos, três estão a trabalhar no ramo.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Nós, na altura mais forte da pandemia, quando começámos a colaboração com o MAPS, fizemos comida para 500 pessoas diariamente. Não tem noção da loucura que era», recorda o professor.

Atualmente, os alunos estão a fazer, todas as semanas, cerca de 60 refeições só para esta associação, num trabalho voluntário que também motiva muito os jovens.

«O facto de conseguir aliar o trabalho voluntário a estes cursos percebi que era uma mais valia, tendo sempre em conta que é importante dar-lhes experiência como chefs», diz André Pereira Rodrigues.

Na sala de aula, transformada em cozinha, o almoço está praticamente pronto. O peixe já está a ser frito e o arroz terminado.

Amanhã, há mais.

 

 



 

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