Investigadora da Universidade do Algarve recebe bolsa europeia com projeto “MATRIX”

O projeto MATRIX, explica a investigadora, «foca-se no período de transição de Neandertais para os Sapiens»

Vera Aldeias, investigadora do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve (UAlg), recebeu uma bolsa Starting do Conselho Europeu de Investigação (ERC), no valor de 2 milhões de euros. Esta é a primeira bolsa ERC atribuída à academia algarvia e a primeira vez que é atribuída, à área da arqueologia, em Portugal.

Das mais de 4 mil propostas submetidas, analisadas por cientistas de renome e investigadores de todo o mundo, foram selecionadas 397, entre as quais o projeto “MATRIX – Into the Sedimentary Matrix: Mapping the Replacement of Neanderthals by early Modern Humans using micro-contextualized biomolecules” da investigadora do ICArEHB.

Este projeto tem como objetivo analisar quais foram as dinâmicas que levaram à transição de homens de Neandertal para a nossa espécie, o Homo Sapiens, no continente europeu.

O projeto baseia-se numa nova abordagem para esta muito debatida questão: o uso de biomoléculas (ADN, proteínas e lípidos) preservadas nos sedimentos (na terra) dos sítios arqueológicos.

A ERC Starting Grant é atribuída por cinco anos a investigadores promissores que iniciam a sua própria equipa ou programa de investigação independente e as propostas selecionadas abrangem todas as áreas de investigação.

Após a primeira chamada à apresentação de propostas, 619 milhões de euros serão investidos no âmbito do novo programa Horizonte Europa, em projetos de excelência científica.

Para Vera Aldeias, esta ERC Starting Grant representa «um enorme orgulho por ter sido selecionada para um dos programas mais competitivos do mundo da ciência. Esta oportunidade irá possibilitar desenvolvermos ciência de ponta e ao mais alto nível a partir da Universidade do Algarve».

O projeto MATRIX, explica a investigadora, «foca-se no período de transição de Neandertais para os Sapiens – um momento fulcral na nossa evolução e que pode ajudar-nos a explicar porque é que a nossa espécie é hoje a única a habitar o planeta».

A equipa liderada por Vera Aldeias vai analisar um conjunto alargado de sítios arqueológicos, que se estendem desde a República da Geórgia, a leste, até Portugal, no extremo ocidental da Europa. O projeto vai estudar os sedimentos arqueológicos (a terra) com a ajuda de microscópios.

Depois, com o auxílio de novas tecnologias, vão conseguir-se extrair moléculas preservadas, nomeadamente pequenas porções de ADN que nos informam sobre que animais (incluindo que espécies humanas) viveram naqueles sítios através dos tempos.

Para Vera Aldeias, «a grande inovação proposta nesta bolsa é conseguirmos extrair não só ADN, mas também proteínas e lípidos a partir de pequenas amostras para as quais conhecemos exatamente como foram depositadas e, portanto, podemos confiar na sua veracidade».

Este projeto irá, assim, «contribuir para estabelecer uma metodologia inovadora que integra a arqueologia à microescala com análises de biomoléculas para perceber quais foram as dinâmicas por trás desta transição e se foram sempre as mesmas em diferentes zonas da Europa».

Para Maria Leptin, presidente do Conselho Europeu de Investigação, «deixar os jovens talentos prosperar na Europa e irem atrás das suas ideias mais inovadoras – este é o melhor investimento no nosso futuro, tendo em conta a competição cada vez maior a nível global. Devemos confiar nos jovens e nas suas perceções sobre as áreas que serão importantes amanhã».

«Então, estou muito feliz por ver estes vencedores das Bolsas de Iniciação ERC prontos para abrir novos caminhos e formar as suas próprias equipas. Alguns deles voltarão do exterior, graças às bolsas do ERC, para fazer ciência na Europa. Devemos continuar a assegurar que a Europa continue a ser uma potência científica», acrescentou.

O ERC, estabelecido pela Comissão Europeia em 2007, opera de acordo com os princípios da excelência científica, ciência aberta, autonomia, eficiência, eficácia, transparência, responsabilidade e integridade da investigação assegurada pela Comissão Europeia.

 



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