Catarina Marques (CDU): Algarve não pode ser apenas bom para quem cá passa férias

«O que dizemos no Algarve é o que faremos na Assembleia da República»

Catarina Marques tem 44 anos, é professora de Educação Especial no Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira, em Faro. É dirigente do Sindicato dos Professores da Zona Sul. É também a cabeça-de-lista da Coligação Democrática Unitária (CDU) às Eleições Legislativas de 30 de Janeiro, pelo círculo eleitoral do Algarve, onde procura recuperar o lugar de deputado que a CDU já teve.

Com Catarina Marques, prossegue a série de entrevistas que o Sul Informação está a publicar, com todos os cabeças-de-lista de todas as forças políticas que se candidatam pelo círculo eleitoral do distrito de Faro.

A todos, e numa lógica de igualdade de oportunidades, foi enviado, atempadamente, um mesmo questionário com 12 perguntas.

As respostas são, naturalmente, diversas, como ficará claro ao longo dos próximos dias, com a publicação de todas as entrevistas.

Sul Informação – Quais são as prioridades da sua força política para a próxima legislatura para o Algarve?

Catarina Marques – Intervir no sentido do aumento geral dos salários, uma verdadeira emergência regional e nacional, combater a precariedade e a desregulação dos horários que atingem muitos trabalhadores algarvios.
Acabar com as portagens na Via do Infante, que só se mantêm pelo facto de PS e PSD chumbarem sucessivamente as propostas do PCP.
Assegurar o aumento extraordinário das pensões, para todos os pensionistas incluindo os que tiveram as suas pensões congeladas.
Reforçar os Serviços Públicos, em particular o SNS, fixando e atraindo profissionais.
Revogar a Lei das Rendas do Governo PSD/CDS e avançar com oferta pública de habitação.
Assegurar a gratuitidade das creches e a criação de uma rede pública de creches.
Investir nos transportes públicos, alargando a oferta, designadamente com a criação de um operador público rodoviário e com a modernização da Linha do Algarve.
Diversificar a atividade económica na Região.

SI – O que levou a que aceitasse ser cabeça de lista pelo partido ou força política que representa?

CM – Integrei as listas da CDU para a Assembleia da República nas últimas duas eleições. Ao assumir, desta vez, a condição de primeira candidata, estou consciente de que tenho condições, juntamente com toda a equipa da CDU, para ser a voz dos trabalhadores e das populações do Algarve na Assembleia da República.
Uma voz que ficou mais esbatida com a perda do deputado em 2019, mas estou convencida de que, no dia 30 de Janeiro, a população do Algarve irá corrigir essa situação.

SI – Quais são as expetativas e objetivos da sua força política em relação a estas Eleições Legislativas?

CM – Afirmar um rumo e uma política alternativa para o País, prestar contas, apresentar soluções para a região, ouvir e ir ao encontro das populações e reforçar o número de votos e, naturalmente, eleger um dos 9 deputados que irão do Algarve para a Assembleia da República

SI – O que falta fazer no Algarve?

CM – Uma política diferente. Uma política que, em vez de estar subordinada aos interesses dos grupos económicos e dependente das imposições da UE, responda aos problemas dos Algarvios.
Aumentando salários, valorizando os serviços públicos, diversificando a atividade económica e promovendo a produção nacional, assegurando mais justiça fiscal, e aproveitando as potencialidades de uma região que não pode ser apenas boa para quem cá vem passar férias.
Tem que ser também uma terra onde as condições de vida de quem cá vive e trabalha estejam asseguradas.

SI – A Saúde é um setor deficitário no Algarve e no país. Que medidas preconiza para resolver os problemas da Saúde no Algarve?

CM – No imediato, são necessárias medidas para atrair e fixar profissionais de saúde no SNS.
Para isso, é necessário valorizar carreiras e salários e dar incentivos à fixação de profissionais de saúde que estão a ser saqueados pelo negócio privado da doença.
Só assim é possível garantir médico e enfermeiro de família para todos, mais consultas, exames e cirurgias.
É preciso também investir na rede de cuidados primários, requalificando instalações e adquirindo equipamentos em falta.
É necessário pôr fim à externalização de muitos serviços do SNS que, por isso mesmo, se tornam mais caros para o povo português.

SI – E quanto ao Hospital Central do Algarve? Quando deve avançar e porquê?

CM – Há que avançar decididamente para a construção do Hospital Central do Algarve, promessa sucessivamente adiada, bem como para novas instalações do Hospital de Lagos.

SI – O Governo anterior avançou com a Descentralização de Competências para os Municípios. Que balanço faz desse processo?

CM – A CDU opôs-se à chamada Descentralização de Competências que decorre de um acordo entre António Costa e Rui Rio.
Mais do que competências, o que está a ser transferido para os municípios são encargos, numa lógica de desresponsabilização do Estado tendente à privatização de serviços públicos.
Os municípios que já fizeram as contas sabem que, com a transferência de competências nas áreas da saúde, educação, segurança social, etc, irão faltar recursos para responder às necessidades que já hoje são respondidas pelas autarquias.
Esta medida é também causadora de desiquilíbrios e desigualdades entre concelhos e tenderá a criar ainda mais profundas injustiças no País.

SI – Um futuro Governo deverá avançar com a Regionalização? Porquê ou porque não?

CM – A regionalização é um imperativo constitucional que tem sido sistematicamente adiado por PS e PSD.
Há muito que este nível de poder democraticamente eleito deveria estar implementado, permitindo respostas de âmbito regional, em matérias como os transportes, o abastecimento de água e recolha de resíduos, a proteção ambiental e outras matérias que requerem um nível intermédio de poder (e com meios) entre as autarquias e o Estado Central.

SI – Na Assembleia da República, têm-se sucedido as resoluções para acabar com as portagens na Via do Infante ou, pelo menos, para introduzir descontos significativos. O que pensa deste tema e que soluções preconiza?

CM – As portagens só permanecem porque PS e PSD têm chumbado sucessivamente propostas, designadamente do PCP, para acabar com elas.
A redução que foi alcançada, contra a vontade do PS, não responde globalmente ao problema.
Ao fim de 10 anos, depois da concessionária privada ter arrecadado centenas de milhões de euros pela exploração de uma infraestrutura pública, é tempo de devolver a Via do Infante aos algarvios.
Não vemos nenhuma razão para que tal não seja feito ainda em 2022.

SI – No início da atual crise da pandemia, o Governo anunciou um plano específico para o Algarve, que nunca chegou a ser concretizado. O que precisa o Turismo do Algarve para recuperar da pandemia?

CM – Não são os grandes grupos económicos que exploram as principais unidades hoteleiras que precisam de apoios.
Quem precisou e precisa de apoios são as milhares de micro, pequenas e médias empresas que foram das principais vítimas dos impactos da pandemia.
Aliás, a CDU foi a força que mais propostas apresentou na Assembleia da República para apoiar as MPME da região e do País.
Mas o Turismo na região precisa de diversificar os seus mercados, em vez de estar cada vez mais dependente de dois ou três países. É necessária uma estratégia que aposte nessa diversificação.
Há também que assegurar que o País não fica completamente dependente de companhias aéreas estrangeiras, pelo que é preciso reforçar a TAP e colocá-la também ao serviço do Turismo no Algarve.
E, por fim, desenvolver o turismo não implica deixar de diversificar outras atividades económicas, como propõe a CDU.

SI – No caso de questões mais fraturantes, como a regionalização, as portagens na Via do Infante e a saúde, entre outras, se for eleito, votará na AR de acordo com a sua convicção, mesmo que vá contra as orientações do seu partido?

CM – Não concebo que o meu partido, o PCP, tenha outras posições que não a da defesa dos interesses dos trabalhadores e das populações do Algarve e do País.
Esse dilema não se coloca à CDU.
O que dizemos no Algarve é o que faremos na Assembleia da República.

 

 



Comentários

pub