Antigo bairro de barracas dá lugar a jardim no centro de Portimão [com vídeo]

O bairro de barracas da comunidade cigana foi demolido e, no seu lugar, vai surgir uma nova área verde no coração da cidade

Apresentação do projeto no local – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Duas oliveiras centenárias e os restos de uma nora com o tanque ao lado são os elementos sobreviventes da antiga quinta que serão agora integrados no jardim que vai surgir no terreno, hoje situado no centro da cidade de Portimão, onde, durante 30 anos, houve um bairro de barracas da comunidade cigana.

A demolição das barracas começou a 23 de Setembro do ano passado e terminou a 3 de Janeiro, já deste ano. Foi sendo acompanhada pelo realojamento das 28 famílias ciganas ali residentes, num total de mais de 100 pessoas, noutro local do concelho, em casas pré-fabricadas instaladas no Vale da Arrancada.

 

 

Agora, o terreno com mais de um hectare (12 mil metros quadrados), situado numa zona central da cidade, junto ao Mercado, à Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, aos Bombeiros e ao Cemitério, vai dar lugar a um jardim, com espaços para exercício físico ou passeio, sombras, relvado, prados floridos, um quiosque, bancos para ler ou descansar. «É um sonho tornado realidade», garantiu Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, esta manhã, no terreno, durante a apresentação do projeto da área verde.

Para concretizar este «velho sonho», como não se cansou de repetir a autarca, a Câmara vai investir 1 milhão de euros.

Nuno Cruz, arquiteto paisagista e chefe de Divisão de Espaços Verdes do Município, revelou que o concurso para a obra deverá ser aberto «ainda este mês», havendo depois «um prazo de execução de nove meses».

Tendo em conta os prazos normais destes procedimentos, a presidente da Câmara manifestou a esperança de que o novo parque verde da cidade possa ser inaugurado aquando das comemorações do 25 de Abril do próximo ano.

Isto, claro, se aparecerem empresas dispostas a concorrer ao concurso público. É que o Município até já tinha aberto antes um outro procedimento, com valor mais baixo, «mas ficou deserto», recordou Nuno Cruz. «Há agora esse problema acrescido da falta de empresas para fazerem estas obras, uma situação que nos afeta a nós, aqui em Portimão, mas que está a acontecer no resto do país».

 

A antiga nora e uma das oliveiras centenárias – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

E como será o novo jardim de Portimão? Nuno Cruz lembrou que o local era o de «uma antiga quinta murada, em que não havia relação com o exterior». Parte desse muro e de um antigo portão ainda hoje existe e essa separação em relação ao exterior, com prédios e ruas muito movimentadas, vai ser mantida, mas agora graças à modelação do terreno e à vegetação que será plantada.

As árvores principais – como as duas oliveiras com largas centenas de anos – serão mantidas e integradas no projeto, assim como será recuperada a estrutura em alvenaria da antiga nora e do tanque adjacente, que voltará a ter água, para «amenizar» o ambiente. A nora, revelou Nuno Cruz, «está completamente atulhada, por isso considerou-se que não podia ser posta em funcionamento».

Junto à nora e ao tanque, será criado um quiosque. Aí perto, existirá uma «zona de street workout», que é como quem diz, em bom português, de exercício ao ar livre.

Abaixo do tanque, surgirá um pequeno anfiteatro, aproveitando o declive suave do terreno. Trata-se de um espaço que poderá vir a servir para pequenos espetáculos, mas também poderá ser «aproveitado pela escola que fica aqui ao lado».

Elemento novo neste jardim será a estrutura metálica, uma espécie de caramanchão, onde serão montadas as cantarias manuelinas da Quinta do Morais, que ficava ali ao lado.

As cantarias, que foram retiradas da casa original nos anos 90, por entre muita polémica, para dar lugar à construção de diversos edifícios de habitação e serviços (num deles funciona a Repartição de Finanças), têm estado guardadas no Museu de Portimão. Mas voltarão agora a ser colocadas num local público, «num ponto com ligação visual com a sua localização original», explicou o chefe de Divisão de Espaços Verdes.

 

Nuno Cruz e Isilda Gomes a apresentar o projeto no local – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Quanto à vegetação a plantar, Nuno Cruz garantiu que se tratará «sobretudo de vegetação autóctone e com baixas necessidades de água». Numa zona mais baixa do terreno, «para onde a água escorre naturalmente, será plantada vegetação diferente», adaptada à maior humidade. Haverá ainda «zonas de relva, prados floridos, arbustos, árvores e zonas de sombra».

«O terreno, que pertencia a uma antiga quinta agrícola, presta-se a isso e serão criados ambientes diversos, também em termos de vegetação».

Será, garantiu o arquiteto paisagista, «um espaço muito acolhedor, porque é todo ele envolvido por vegetação».

 

A presidente da Câmara Isilda Gomes agradeceu aos vereadores Filipe Vital, Teresa Mendes e João Gâmboa, pelo trabalho e «pressão» exercida para que a demolição das barracas avançasse e as pessoas fossem alojadas noutro local, com mais dignidade, bem como aos técnicos e trabalhadores do Município, pela rapidez da sua atuação de limpeza do terreno e pela qualidade do projeto para a área verde.

«Temos de criar estes espaços de lazer na cidade, onde as pessoas possam sentir uma certa liberdade, sem a pressão dos prédios em cima, onde possam correr, andar e até ler ou descansar».

«Tenho a certeza de que este espaço, no centro da cidade, vai ser muito utilizado!», concluiu a autarca portimonense.

Hoje mesmo, ao lado do futuro jardim, abriu a primeira fase da requalificação de toda aquela zona: o estacionamento com 130 lugares (gratuitos), que servirá o Mercado, o Cemitério e a Escola Secundária. Nesta primeira fase, foram gastos perto de 400 mil euros. No total, estacionamento e jardim irão custar perto de 1,4 milhões de euros.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 



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