José Carlos Barros vence prémio Leya com “As Pessoas Invisíveis”

Prémio tem um valor monetário de 50 mil euros

José Carlos Barros venceu o prémio Leya 2021 pelo seu livro “As Pessoas Invisíveis”, anunciou hoje, terça-feira, dia 7 de Dezembro, o júri do concurso, coletivo presidido por Manuel Alegre.

A obra do poeta, escritor e político algarvio foi um dos 732 originais que concorreram ao prémio, dos quais apenas 14 chegaram à seleção final apreciada pelo júri.

Com o valor de 50 mil euros, o «Prémio LeYa é o maior prémio literário para romances inéditos de todo o mundo de língua portuguesa».

Em declarações à RTP3, José Carlos Barros disse estar «entre incrédulo e feliz. São, talvez, as duas palavras que melhor descrevem o meu estado, neste momento».

«Soube do prémio há pouco. As probabilidades estavam contra cada um dos autores, porque são muitos concorrentes. Obviamente, foi uma grande surpresa e uma grande felicidade», acrescentou.

«Escrever é estarmos sentados diante de um muro, com uma página em branco, um ecrã ou uma folha de papel em branco. E quando temos um reconhecimento como este, a primeira coisa que nos ocorre é que ele compensa esses momentos roubados a outras coisas. (…) Sinto que é uma paga por este trabalho, que é duro e raramente é reconhecido», disse, ainda, o escritor algarvio.

«As Pessoas Invisíveis é uma viagem por vários tempos da história recente de Portugal desde a década de quarenta do século XX, narrada a partir de uma personagem ambígua, Xavier, que age como se tivesse um dom ou como se precisasse de acreditar que tivesse um dom», descreve o júri do prémio Leya, num comunicado.

«Dos anos 40 do século XX, com a ambição do ouro, a posição de Salazar face à Guerra, a guerra colonial com todas as questões que hoje levanta, o nascimento e os primeiros anos da democracia. Em todas essas paisagens e em todos os tempos que o romance toca, a palavra é de quem não a costuma ter. Dramática, velada, fugaz, lapidar, tocada pelo sobrenatural», acrescenta.

Nesta obra, são focados «os habitantes do mundo rural ou os negros das colónias», apresentados como «seres quase diáfanos, que sublinham uma sensação de quase perdição, que atravessa todo o livro e constitui um dos seus pontos mais magnéticos».

«Em As Pessoas Invisíveis, o leitor é convocado para preencher com a sua imaginação o não dito, os silêncios, o invisível. De salientar ainda o trabalho de linguagem, o domínio de uma oralidade telúrica a contrastar com a riqueza de vocabulário e de referências histórico-sociais», concluiu o júri.

O coletivo que atribuiu o prémio é presidido pelo também poeta e político Manuel Alegre e conta, ainda, Ana Paula Tavares, escritora e poeta angolana, Isabel Lucas, crítica literária, José Carlos Seabra Pereira, professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra, Lourenço do Rosário, professor de Letras, fundador e antigo reitor da Universidade Politécnica de Maputo, Nuno Júdice, poeta e escritor, e Paulo Werneck, editor da revista literária Quatro Cinco Um, jornalista e tradutor brasileiro.

José Carlos Barros é natural de Boticas, mas vive em Vila Nova de Cacela, em Vila Real de Santo António, concelho de cuja Câmara foi vice-presidente, eleito pelo PSD, em mais do que uma ocasião.

Foi deputado à Assembleia da República pelo círculo do Algarve, eleito pelos social-democratas, de 2015 a 2019.

Licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora, tem exercido atividade profissional nos domínios do ordenamento do território e da conservação da natureza. Foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa.

É autor, entre outros, dos livros de poesia Uma Abstracção Inútil, Todos os Náufragos, Teoria do Esquecimento, Pequenas Depressões (com Otília Monteiro Fernandes) e As Leis do Povoamento (editado também em castelhano). Com Sete Epígonos de Tebas, venceu o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2009. Em 2003 estreou-se na prosa com O Dia em Que o Mar Desapareceu.

Venceu vários prémios literários (com destaque para o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, que lhe foi atribuído duas vezes) e os seus textos poéticos estão publicados em vários países.

O Prazer e o Tédio foi o seu primeiro romance, seguido de Um Amigo Para o Inverno (Casa das Letras, 2013), com o qual foi finalista do Prémio LeYa em 2012. Os seus livros mais recentes (poesia) são os seguintes: O Uso dos Venenos, ed. Língua Morta (2ª edição, 2018), A Educação das Crianças, ed. Do Lado Esquerdo Editora, 2020, Estação – Os Poemas do DN Jovem, 1984-1989, ed. On y Va, 2020, e Penélope Escreve a Ulisses, Edições Caixa Alta, 2021.

 

 

 



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