Idosos e jovens dão “ASAS” a quem mais precisa em Alte

Escola Profissional Cândido Guerreiro é um dos parceiros

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

A dona Maria Amélia estaciona o carro e logo se apressa em abrir a porta traseira. De lá, retira vários sacos, com laranjas, cebolas, roupa e calçado. «Este ano, tive tanta laranja, vejo tanta coisa a estragar-se e não é tempo disso», confessa. Em Alte, há um novo projeto, o ASAS (Aldeia dos Saberes e dos Afetos), cujo bazar social recolhe os excedentes das hortas que ainda são cuidadas por muitos idosos para os entregar a quem mais precisa.

Este é um projeto em que «todos ganham», como diz, ao Sul Informação, Joana Camacho, um dos rostos do ASAS, enquanto dá os últimos retoques à preparação da inauguração do bazar que aconteceu este domingo, 19 de Dezembro.

A filosofia desta loja, criada nas instalações onde funcionou a Casa da Criança, é simples de entender e quer envolver toda a comunidade.

Os idosos que têm excedentes nas suas hortas, são convidados a doar essas “sobras” ao ASAS. Depois, o projeto tratará de entregar os alimentos a quem mais precisa.

A loja terá três regimes: um totalmente gratuito, outro de “moeda de troca” (com as pessoas ajudadas a poderem, por exemplo, participar em atividades do ASAS) e, por fim, bens a um preço mais baixo.

 

 

«O nosso bazar vai funcionar como apoio às famílias: vai haver uma seleção, um acompanhamento de quem vamos ajudar. Haverá uma ligação entre nós e a assistente social da Junta de Freguesia e isto vai funcionar quase em situações emergentes», explica Elsa Silva, presidente do Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte, a entidade por detrás deste projeto.

A responsável mora na serra e conta a sua experiência pessoal.

«Eu própria vejo como ainda há muita gente que cultiva muito, além do que necessita, e nós queremos fazer uma educação para que cedam. Se for preciso, nós vamos buscar esses excedentes à casa das pessoas. Vai haver também uma ação, nas aldeias, com caixinhas de excedentes que a população pode lá colocar ou tirar, conforme for a necessidade», explica.

Nos últimos anos, Alte também tem recebido «muitos imigrantes», conta. Muitos deles, ao chegarem, «têm algumas necessidades» e o ASAS quer ajudá-los a voar.

Para tal, tem havido a ajuda de senhoras como a dona Maria Amélia para quem este projeto é «uma excelente ideia».

«Há sempre pessoas que precisam de algo. Eu tenho uma hortinha e, às vezes, há coisas que se estragam sem haver necessidade. Então, vir aqui trazer isto é um ato de ajuda para alguém», considera.

É o que também pensam Marta Guerreiro, Stephanie Silva e Alexandra Guerreiro.

 

 

Alunas do curso de Técnico de Ação Educativa da Escola Profissional Cândido Guerreiro, de Alte, foi precisamente através da escola que souberam da criação do ASAS.

«A nossa professora falou-nos do projeto e começámos logo a fazer voluntariado», explica Stephanie, com as colegas de turma ao seu lado.

Juntas, têm ajudado a preparar cabazes de Natal para entregar a famílias necessitadas – outra das valências do ASAS – e também já doaram alimentos e roupa que não usavam.

«Ajudar o próximo é muito bom e bastante importante», diz Marta.

Um dos objetivos do ASAS é juntar novos e velhos, em torno do mesmo objetivo: a solidariedade. Além da loja social, estão previstos workshops de técnicas mais tradicionais e ações em que serão os jovens a ensinar os idosos a usar as tecnologias.

 

 

«Acima de tudo, este é um projeto que quer participar ativamente na vida das pessoas. Imagine que vem cá uma pessoa mais velha falar sobre a sua experiência profissional há 40 anos. Se calhar, para alguém desempregado isso vai suscitar interesse», exemplifica Joana Camacho.

Ao seu lado, Patrícia Madeira não esconde o entusiasmo que deposita no projeto do qual é uma das responsáveis.

«Logo quando abriu a candidatura, identifiquei-me. Sou altense de gema, andei aqui na Casa da Criança e foi todo um processo até chegar aqui», diz.

Apesar de ser recente – só começou em Outubro -, Elsa Silva já fala de um projeto «muito bem aceite» e que até excedeu as expetativas.

«Um projeto social desta natureza fazia falta em Alte porque não existia nada do género», relata.

A ajuda da dona Maria Amélia é garantida. «Sempre que posso, tenho divulgado esta iniciativa porque é algo com pernas para andar». Ou asas para voar.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 



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