Associação contesta glifosato nas margens da Ribeira de Aljezur, Câmara garante utilização «controlada»

Arriba contesta alegada falta de transparência da autarquia

Ribeira de Aljezur, no troço que atravessa a vila – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

A Arriba – Associação de Defesa do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina contesta a utilização de glifosato para controlar as canas (Arundo donax), plantas invasoras, ao longo da Ribeira de Aljezur, por ser um «herbicida composto por um químico associado a casos de cancro», mas a Câmara Municipal garante que o produto será utilizado «de forma manual, localizada e não descontrolada» e que, além disso, serão testadas «técnicas alternativas». 

Numa nota enviada à imprensa, a Arriba explica que o «glifosato é proibido em muitos países europeus» e que a «legislação portuguesa exige permissão especial para o uso deste químico perto de cursos de água».

Contactado pelo Sul Informação, António Carvalho, vereador da Câmara de Aljezur com o pelouro do Ambiente, confirmou que o glifosato «vai ser usado», por três vezes, mas de maneira «manual, não industrial e espaçada».

«Vão ser homens a fazer esse trabalho e não máquinas. Será uma aplicação localizada, de baixo para cima, e muito pontual», disse.

O tipo de produto usado não vai ser o Piton Verde, como diz a Arriba, mas, sim, «outro mais adequado e menos diluído». «Se cair alguma gota, a presença na água será muito reduzida», explicou.

Segundo uma nota da autarquia, nos casos «em que tenha de ser aplicada em árvores/arbustos cortados, será feito por pincelamento, tal o nível de minuciosidade».

 

Câmara de Aljezur – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Os argumentos não colhem aceitação dos ambientalistas que contestam ainda o facto de os cidadãos não terem sido «informados atempadamente» pela Câmara desta operação.

«A pedido de dezenas de moradores preocupados, foi realizada uma reunião com carácter de urgência, no dia 11 de Novembro, com o intuito de serem esclarecidos sobre a obra já em curso. A audiência foi composta por vários profissionais, como biólogos, profissionais locais, ONG e associações. Não ficou provado que tenha sido efetuado um estudo de impacte ambiental com o intuito de se perceber eventuais danos nestes ecossistemas fluviais únicos», dizem.

Do lado da autarquia, todas as acusações de falta de transparência em relação a esta obra, que começou em Outubro, são negadas.

Além das publicações da comunicação social, «foram ainda realizados alguns momentos participativos, tendo ocorrido o primeiro em Agosto, numa sessão realizada a pedido da Associação RWSW, no qual aproveitámos para convidar outras personalidades, entidades/associações potencialmente interessadas na matéria», diz a Câmara Municipal.

«Já em Setembro, com alunos da EB1/JI de Aljezur e em conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente – Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Algarve e projetistas, realizaram-se jornadas de educação Ambiental na ribeira», acrescenta.

Segundo a autarquia, apesar de terem sido feitos «diversos contactos com proprietários, não foi possível chegar a todos». Alguns – «um ou outro» – questionaram «a razão e forma da intervenção».

«De forma transparente, essa informação foi dada», tendo mesmo sido decidido «realizar outra sessão de esclarecimento». A Câmara acrescenta que, «em consequência do fornecimento do projeto a alguns proprietários, surgiram várias manifestações de contestação, com origem em diversos pontos do país, o que reforçou o sentido do esclarecimento».

Nessa sessão, «foram prestados diversos esclarecimentos pela equipa projetista e o empreiteiro, não tendo dali saído contraditório consistente ou cientificamente credível para pôr em causa a intervenção».

Nessa mesma sessão, também participaram o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e a APA.

No dia 2 de Dezembro, houve mais uma reunião, entre os proprietários com terrenos adjacentes à ribeira e a Câmara, onde, diz a associação Arriba, «não se conseguiu atingir os objetivos pretendidos».

«Os cidadãos sentem-se traídos e frustrados por constatarem que as suas opiniões e sugestões não são respeitadas nem valorizadas e por sentirem que as suas perguntas são ignoradas», acusam os ambientalistas.

 

Ribeira de Aljezur, no troço que atravessa a vila – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Já segundo a Câmara, nessa sessão com proprietários, o município pediu «para que estes se pronunciassem e manifestassem», caso não concordassem com o projeto», mas, «até à data, não houve qualquer manifestação de não concordância».

Pronúncias favoráveis, por sua vez, houve «diversas».

De resto, esta intervenção já teve luz verde tanto da APA, como do ICNF. O parecer deste Instituto pede, ainda assim, que se testem «métodos alternativos» para combater as plantas invasoras, algo que o Município vai fazer, garantiu António Carvalho ao Sul Informação.

Estes métodos incluem a plantação de árvores autóctones ou a aplicação de sal, «a testar em troços a identificar».

A isto junta-se a «monitorização da qualidade da água, do solo e de fauna suscetível de ser afetada, no que se refere à presença do glifosato, devendo ser apresentado plano de monitorização que assegure o esclarecimento sobre eventual contaminação com glifosato do sistema natural, permitindo reajustes na aplicação de dosagens e métodos previstos, caso se revele necessário. Esta monitorização deverá ocorrer após cada aplicação do herbicida durante o período de, pelo menos, um ano», conclui o parecer do ICNF.

Da parte da Associação Arriba, é lançado o desafio para que a Câmara de Aljezur seja a primeira do Barlavento a aderir à campanha “Autarquias sem Glifosato”, da Quercus.

Quanto ao Município, garante que, para os próximos meses, estão ainda previstas «mais duas sessões públicas» sobre as obras na Ribeira, a serem realizadas em meados de Janeiro e na altura da conclusão da obra.

 

 



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