Algarve dá «passo importante» no turismo religioso ao formar pessoas para abrir igrejas ao público

Acordo foi assinado esta quarta-feira, 29 de Dezembro, em Vila Real de Santo António

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

O Algarve «respira uma grande identidade cristã» e, com «as obras de arte e a beleza das nossas igrejas, é essencial a dinamização do turismo religioso para fazer a ponte entre a Igreja Católica e as estruturas da sociedade civil», disse o coordenador do setor Diocesano da Pastoral do Turismo, esta quarta-feira, dia 29 de Dezembro, em Vila Real de Santo António.

O padre Miguel Neto falava durante a sua intervenção na cerimónia de assinatura do Acordo de Cooperação que a Diocese do Algarve celebrou com várias entidades algarvias, no sentido de dinamizar o turismo religioso no Sotavento algarvio.

Destas entidades, fazem parte a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, a Região de Turismo do Algarve, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), a Direção Regional de Cultura do Algarve e as Fábricas das Igrejas envolvidas.

De um sonho que vem desde 2011, «quando foi criada a Pastoral de Turismo da Diocese do Algarve», é dado agora um «importante passo» para «a dinamização do turismo religioso através da divulgação e promoção do património arquitetónico e cultural das igrejas algarvias», realçou o padre Miguel Neto.

Este é um projeto-piloto que «irá permitir a abertura das igrejas abrangidas» das paróquias de Alcoutim, Castro Marim, Tavira e Vila Real de Santo António, para que possam ser visitadas pelos cidadãos locais e pelos turistas, mas também fará com que estas se tornem parte dos roteiros turísticos do Algarve e que sejam assim «uma atração», «diversificando a oferta turística da região».

«Parte do património da Igreja, por razões diversas, possui um horário de abertura muito limitado, estando, portanto, ausente dos circuitos turísticos. Consequentemente, isto limita a sua promoção e visitação, assim como as eventuais receitas que poderiam surgir», acrescentou.

Por isso, «é essencial criar mecanismos de sustentabilidade para a comunidade, mas, simultaneamente, colocar os edifícios da Igreja ao serviço da sociedade civil para garantir a sustentabilidade do povo».

 

Miguel Neto, coordenador do setor Diocesano da Pastoral do Turismo – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

De entre os objetivos previstos neste acordo, está a necessidade da Diocese «colocar a Igreja e aquilo que esta tem ao serviço da sociedade civil, nem que seja para melhorar as condições das pessoas e criar postos de trabalho, diretos ou indiretos», sublinhou o coordenador do setor Diocesano da Pastoral do Turismo, afirmando que «este é o âmbito social da Igreja».

O projeto irá formar 40 pessoas desempregadas, desde cidadãos com difícil integração na comunidade, a alguns com deficiência, ao mesmo tempo que tentará também promover o património religioso do interior, «combatendo as assimetrias geográficas».

«Excetuando duas cidades, Tavira e Lagos, é nas igrejas do interior algarvio que se encontra maior beleza e o património mais rico, pois era lá que estava a capacidade económica nos séculos transatos. Mas são as igrejas do litoral que têm maior número de visitas», explicou.

O primeiro passo a ser dado para a concretização deste Acordo de Cooperação vai «incidir na formação do pessoal das paróquias das igrejas, sendo esta ministrada pelo IEFP».

Posteriormente, as igrejas serão preparadas para que possam ser visitadas, com «a criação de circuitos no interior e no exterior, folhetos de promoção e com explicações de cada altar, ambos os documentos em vários idiomas», bem como «será pensado merchandising para venda».

Deixando «uma palavra de compromisso e incentivo aos autarcas», o padre Miguel Neto realçou que, «no primeiro período a formação e a remuneração destas pessoas está assegurada mas é necessário que, numa segunda fase, que haja também a vontade da autarquia em valorizar a abertura das igrejas e haver uma ajuda às paróquias para manter estes postos de trabalho».

«Os municípios têm de saber que uma igreja aberta é muito mais visitável do que um posto de turismo ou qualquer outra atração», afirmou.

«Este trabalho tem de ser feito em conjunto com todas as entidades parceiras e com todas as autarquias, pois faz parte da cara do nosso Algarve», garantiu o coordenador do setor Diocesano da Pastoral do Turismo.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

D. Manuel Quintas, bispo do Algarve, afirmou ter aderido «desde a primeira e hora» a esta iniciativa e disse estar certo de que, «deste modo, será possível ter acesso a uma parte significativa do património destas localidades», algo importante, já que, «como dizem os entendidos, o património religioso constitui cerca de 80% do património cultural do nosso país».

«Temos obrigatoriamente de nos unir para promover, valorizar e dar a conhecer o testemunho que nos legaram as populações algarvias ao longo de séculos e que está condensada precisamente nas suas igrejas, de modo eloquente e sábio, como souberam conjugar a fé, a arte e a cultura, num mosaico de manifestações plásticas às quais ninguém fica indiferente»

O bispo do Algarve realçou ainda que «tudo faremos para que este projeto passe da sua condição de pioneiro a timoneiro, de modo que, aproveitando da experiência colhida na região, possa ser celebrado também noutras paróquias algarvias».

Durante a sua intervenção, José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, sublinhou que este «é um projeto piloto» e que se insere na «área de inovação social», naquilo que se refere à criação de um produto para o turismo religioso.

Já António Pina, presidente da AMAL, salientou que esta iniciativa «qualifica o Algarve» na medida em que «a região não é apenas sol e praia e tem de se qualificar e ter outras respostas».

João Fernandes, presidente da RTA, por seu turno, explicou que «sendo pioneiro, este é um motivo de orgulho para o Algarve, que é a principal região turística do país». O projeto, acrescentou, demonstra como «se pode aproveitar uma riqueza que é material e imaterial para dinamizar o património que simboliza e traduz as raízes dos locais onde se encontra e daquilo que nós próprios somos».

Durante a cerimónia, marcaram também presença, em formato de vídeo previamente gravado, a secretária de Estado do Turismo Rita Marques, e a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social Ana Mendes Godinho.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 

 



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