Secretário de Estado da Agricultura visitou Adega do Cantor…que tem novo proprietário

Rui Martinho esteve ontem de visita ao Algarve para conhecer de perto alguns investimentos e os problemas do setor

Joaquim Pires, empresário luso-francês de sucesso, cônsul honorário de Portugal em Nice, comendador, é, desde Julho passado, o novo proprietário da Adega do Cantor, perto da Guia (Albufeira).

Devido aos seus múltiplos afazeres em França, o empresário não pôde acompanhar ontem a visita que Rui Martinho, secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural fez à quinta vitivinícola.

Luísa Braziel, diretora da Adega do Cantor, que foi a anfitriã, explicou que Joaquim Pires pretende «continuar o projeto, melhorando-o».

Aliás, o próprio empresário, em entrevista ao canal Lusopress, já tinha anunciado a sua intenção de continuar a produzir aquele que considera ser «o melhor rosé de Portugal», bem como lançar o «melhor espumante da Europa».

Luísa Braziel acrescentou que a quinta costuma produzir os seus vinhos – Vida Nova e Onda Nova – a partir de uvas produzidas nos seus terrenos da Quinta do Miradouro, mas também «comprando uvas da vinha de Sir Cliff Richard», a Quinta do Moinho, situada ali ao lado, e de outro vizinho, ligado aos antigos proprietários.

Mas, revelou, «com o novo proprietário, este ano comprámos mais uva, sempre aqui de Albufeira». É que, acrescentou, «o novo proprietário quer aumentar a produção», passando das atuais 100 mil para 200 mil garrafas anuais, que é o limite de processamento da atual adega.

 

Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura do Algarve, recordou que «esta foi a adega que espoletou o novo interesse pelo vinho na região, beneficiando da notoriedade de Sir Cliff Richard», cantor britânico conhecido a nível mundial.

«Somos os pioneiros no reavivar do vinho do Algarve», corroborou Luísa Braziel.

Desde que foi criada, primeiro através do sonho de Cliff Richard de produzir vinho no Algarve que tanto ama, depois com o investimento dos antigos proprietários, Nigel e Lesley Birch, a Adega do Cantor «tem conhecido uma evolução significativa em termos de qualidade», salientou o diretor regional de Agricultura.

Para isso contribuiu a mudança de enólogo. Hoje essa tarefa «fundamental» está a cargo do jovem Ruben Pinto. «Não tem nada a ver o que fazíamos antes com o que fazemos hoje», salientou Luísa Braziel.

A receita, segundo Ruben Pinto, é simples: «respeitar a matéria prima, tentar não estragar o que é bom».

«O clima sempre tivemos, vinha sempre houve no Algarve, mas a tecnologia e os enólogos fizeram com que a produção algarvia desse um salto», sublinhou Valadas Monteiro.

A quinta de 26 hectares onde se situa a Adega do Cantor tem como horizonte, a sul, o mar. E essa influência marítima tem consequências benéficas quer na qualidade da uva, quer no facto de as vinhas apresentarem menos problemas fitossanitários e, por isso, precisarem de muito menos tratamentos. Tudo acaba por refletir-se na qualidade e nas caraterísticas do vinho. «A proximidade do mar é muito importante e dá-nos uma grande ajuda», salientou a diretora da adega.

 

 

Mercado para o seu vinho, o Algarve tem, como salientou o secretário de Estado Rui Martinho. «A procura aqui deve ser enorme», considerou.

José Carlos Rolo, presidente da Câmara de Albufeira, que acompanhou a visita do governante, contrapôs que, apesar da evolução nos últimos anos, «ainda há o preconceito de que o vinho do Algarve é muito forte», leia-se, muito alcoólico.

Mas Sara Silva, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve, explicou que hoje, graças sobretudo ao trabalho da CVA e dos produtores, essa imagem está a esbater-se. A CVA, aliás, tem organizado inúmeras iniciativas para promover o vinho algarvio, nomeadamente na própria região, em especial na restauração e hotelaria.

O novo proprietário da Adega do Cantor não pretende ficar-se apenas pelo vinho. Além de pretender expandir a área da quinta, para plantar mais vinha, Joaquim Pires projeta ainda diversificar, plantando olival e laranjal, bem como apostar no enoturismo e até no alojamento turístico. «A ideia é criarmos uma cintura rural aqui à volta da quinta», explicou a sua diretora.

São planos que vêm ao encontro do que Pedro Valadas Monteiro defendeu: «encarar a vinha como produção de vinho, mas também como forma de diversificar o setor do turismo, através do enoturismo».

 

A provar o espumante «Congratulations/Infinito»

Um dos graves problemas que estes projetos enfrentam é o custo da terra. «O problema é que a especulação imobiliária também chegou ao terreno agrícola. Há zonas do Algarve, como Tavira, onde o preço por metro quadrado de terreno agrícola está quase igual ao do terreno urbanizável. Isto está a atingir valores estratosféricos», explicou o diretor regional de Agricultura.

Sara Silva, presidente da CVA, admitiu: «uma das grandes preocupações para quem se quer instalar na agricultura é o problema do custo da terra».

Mas depois há também a questão da mão de obra, que, garantiu Ruben Pinto, «não tem a ver com o valor que se paga, que é já bastante alto».

E o enólogo dá o exemplo da vindima deste ano, cuja mão de obra suplementar foi assegurada por uma empresa de trabalho temporário, como tem acontecido nos últimos anos. «Contratámos as equipas para a vindima, estava tudo combinado, mas na véspera contactaram a dizer que, afinal, não vinham».

Ora, as uvas têm de ser apanhadas na altura certa, um atraso de um ou dois dias pode ser prejudicial para toda uma campanha. Além disso, «em termos de gestão da receção da uva na adega teve de haver uma grande flexibilidade», disse Ruben Pinto.

Questão que preocupa também quer os vitivinicultores, quer os responsáveis políticos é a das alterações climáticas e a da disponibilidade de água. As alterações, recordou Sara Silva, já se refletem na época em que se faz a vindima no Algarve. «Antes era em meados de Agosto, mas tem vindo a ser cada vez mais cedo. Agora faz-se em inícios de Agosto ou mesmo no fim de Julho».

Para o novo proprietário da Adega do Cantor, fazer vinho era «um sonho antigo» que agora conseguiu concretizar. A avaliar pela apresentação que foi feita durante a visita do secretário de Estado da Agricultura, planos e projetos não faltam ao luso-francês Joaquim Pinto.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 



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