Rîbat da Arrifana vai ter Centro Interpretativo em 2025 e novas escavações arqueológicas

Investigadora Rosa Varela Gomes já apresentou candidatura para nova campanha arqueológica plurianual

«Este é um grande momento para Aljezur, para a região e para o país, porque este património é nacional, faz parte da nossa história», afirma José Gonçalves, presidente da Câmara de Aljezur, momentos depois da assinatura do protocolo que permitirá criar o Centro de Interpretação do Rîbat da Arrifana, um sítio arqueológico de grande importância onde o autarca também andou a escavar, em jovem, «há cerca de 20 anos».

José Gonçalves  não diz isto só por dizer. Esta é, de facto,  «umas das maiores descobertas do século XXI da presença medieval islâmica no Ocidente», como frisou Graça Fonseca, a ministra da Cultura, que foi a Aljezur esta sexta-feira, para presidir à cerimónia de assinatura do Plano de Ação Plurianual para a implementação e gestão do centro interpretativo do Ribat da Arrifana.

Como se percebe, o acordo que envolve o Ministério da Cultura, a Câmara de Aljezur, a Universidade Nova de Lisboa e o Fundo Aga Khan para a Cultura não visa, apenas, construir um centro interpretativo.

«Este plano plurianual de atividades inclui atividades de investigação, de preservação do próprio local, de definição do centro interpretativo e dos seus conteúdos, para serem realizadas nos próximos quatro anos. Eu destaquei o centro interpretativo porque vai ser uma realidade em 2025. Mas, ao longo dos próximos quatro anos será feito muito trabalho e, naturalmente, a parte da investigação será fundamental», explicou a governante.

 

 

Foi, justamente, um trabalho de investigação do casal de arqueólogos Rosa e Mário Varela Gomes que permitiu descobrir que este antigo mosteiro islâmico.

O Rîbat da Arrifana, identificado em 2001 e classificado como Monumento Nacional desde Julho de 2013, terá sido um mosteiro de monges guerreiros muçulmanos, que começou a ser edificado por volta de 1130 da era cristã, por iniciativa de Ibn Qasi, personagem histórica natural de Silves, mahdi, cabecilha da oposição aos Almorávidas e temporariamente aliado do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques.

Ao longo de 20 anos, Rosa Varela Gomes liderou campanhas neste sítio arqueológico. Mas, a dado momento, a questão da titularidade dos terrenos, que eram privados, tornou-se um problema que tinha de ser resolvido.

«A nossa posição, a partir de determinada altura, foi que a propriedade tinha de ser do Estado. E o Estado cumpriu essa parte e bem, chegou a bom porto com esse processo. Para nós foi um passo fundamental», conta o presidente da Câmara de Aljezur.

 

 

«Havia que resolver vários problemas, nomeadamente o da propriedade dos terrenos. Desde o início que nos empenhámos nisso e, todos em conjunto, resolvemos a situação», reforçou Graça Fonseca.

E isso aconteceu em 2020, com a aquisição de uma parte do terreno a uma família de Aljezur, que chegou a acordo com o Estado, e a tomada de posse administrativa da outra parte, que teve de ser expropriada.

Este passo foi determinante para que aquilo que foi protocolado em 2019 pelas entidades envolvidas neste grande projeto e o plano elaborado pelo grupo de trabalho criado na altura pudessem avançar.

Para chegar aqui, foi determinante a ação da Fundação Aga Khan, com fortes ligações à comunidade ismaelita, à qual pertencem muitos muçulmanos portugueses, uma vez que esta entidade vai cofinanciar o plano que foi raitifado.

Apesar dos representantes desta fundação com sede em Genebra, na Suiça, não terem conseguido estar presentes, devidos a dificuldades na viagem para Portugal, o Fundo Aga Khan não foi esquecido nos discursos da ministra e de Adriana Nogueira, diretora regional de Cultura do Algarve.

Graça Fonseca frisa, mesmo, que este «é um apoio muito importante».

«Por isso é que realcei a participação aqui da fundação Aga Khan, especificamente do Fundo Aga Khan, que tem sido um parceiro muito importante ao longo deste tempo. Aliás, foi das primeiras entidades com quem falámos em 2018, quando tomámos posse. Precisamente porque tem sido um parceiro, desde logo, muito ativo e sempre muito promotor de avançarmos. Tem sido um parceiro extraordinário e, por isso, acho que este é um consórcio muito importante», reforçou.

 

Rîbat da Arrifana

 

Ratificado o plano de ação, o que se seguirá?

«Foi feita uma primeira ação de limpeza, de consolidação de pequenos muretes. Agora, começar-se-á a trabalhar na consolidação das estruturas, em pôr outras à vista, identificá-las e, claro, tornar o espaço visitável, ao mesmo tempo que o protegemos», resumiu José Gonçalves.

A cereja no topo do bolo será o centro interpretativo, que deverá ser aberto em 2025.

Esta estrutura permitirá, por um lado, «que mais pessoas venham e conheçam, que exista mais divulgação, mais investigação e projeção deste espaço tão importante».

Afinal, como salientou Maria Cardeira da Silva, que representou a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa na sessão de sexta-feira, «o património islâmico em Portugal faz parte de nós».

Para que haja cada vez mais coisas para interpretar, a investigadora Rosa Varela Gomes «já apresentou uma candidatura à Direção Geral do Património Cultural para um projeto plurianual de arqueologia no Rîbat da Arrifana», segundo Adriana Nogueira.

 

 

 



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