Ordem diz que Urgência de Pediatria de Faro está em «risco iminente» de fechar

As escalas de Dezembro estão asseguradas, mas médicos «estão cansados»

Foto: Nuno Costa | Sul Informação

Há «um risco iminente» de a Urgência de Pediatria do Hospital de Faro fechar devido à falta de médicos. O aviso foi deixado esta terça-feira, 23 de Novembro, por Alexandre Lourenço, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, enquanto o Centro Hospitalar Universitário do Algarve vem o apelo para que não se “entupa” as urgências e se recorra a outros mecanismos, como a Linha SNS24 e os Centros de Saúde. 

Alexandre Lourenço esteve na manhã de hoje no Hospital de Faro, onde se reuniu com médicos do Serviço de Pediatria e de Ginecologia e Obstetrícia.

Os problemas, confessou no final aos jornalistas, não só «se arrastam», como foram agravados, nos últimos dois anos, tal como um grupo de médicos já tinha dado conta em Setembro deste ano, numa carta assinada por 23 pediatras.

«Estamos ainda pior. Temos as escalas de Urgência de Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia preenchidas com muito sacrifício dos poucos especialistas que ainda podem fazer urgência. Na pediatria, temos apenas três profissionais com idade inferior a 55 anos. Por isso, a urgência socorre-se de horas extra de colegas que se multiplicam para fazer múltiplos bancos», disse este responsável.

 

Alexandre Lourenço – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

As escalas de Dezembro estão asseguradas, mas Alexandre Lourenço deu o exemplo de dois médicos que, no próximo mês, vão fazer, entre eles, «19 noites na urgência».

Na opinião de Ana Varges Gomes, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, um dos principais problemas tem sido a quantidade de crianças que têm ido às urgências.

Em declarações aos jornalistas, esta responsável explicou que, neste momento, o Hospital de Faro tem tido «uma afluência na ordem das 250 crianças por dia, o que é insustentável, com equipas grandes ou pequenas».

Apesar de admitir o problema da falta de médicos, Ana Varges Gomes também realçou que o número de profissionais não pode aumentar «de forma mágica».

«Os mecanismos que temos para contratar e fixar os nossos médicos que se formam é com as vagas carenciadas e isso temos tido todos os anos. Não temos mais do que isso. Portanto: resta-nos conseguir, realmente, que os médicos fiquem e que comecemos a alargar equipas e diminuir um bocado o esforço dos profissionais mais velhos, que têm estado a aguentar estas escalas muito além do que seriam as suas obrigações», considerou.

A presidente do Conselho de Administração do CHUA deixou ainda um pedido a todos os pais: que as crianças sejam «atendidas nos sítios certos».

 

Ana Varges Gomes – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«As pessoas deixaram de conhecer os mecanismos que havia antes – a Saúde 24, os centros de saúde, os atendimentos de doentes respiratórios, os próprios serviços de urgências básicas que existem na região – e, em todas as situações, vêm para as urgências É completamente insustentável. Portanto, faço um apelo para que as pessoas se dirijam primeiro ao centro de saúde», disse.

Na opinião de Ana Varges Gomes, estas palavras não podem ser entendidas como um desleixo da parte do Hospital.

«Nós não estamos a dizer que não atendemos as crianças. Mas não faz sentido uma criança com obstrução nasal vir para uma urgência de hospital e, inclusive, ficar à espera depois na rua, porque os pais têm medo que fiquem na sala de espera, várias horas. Temos que nos lembrar de que, se tivermos muitas pessoas que vêm cá com obstrução nasal, se calhar um doente que teve um enfarte vai ficar à espera e não devia ficar», ilustrou.

De resto, o próprio presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos admitiu que uma das chaves da resolução pode ser um maior investimento nos centros de saúde ou nos cuidados continuados.

«Mais de 80% das situações não deviam ser resolvidas sequer na urgência: podiam ser feitas ao nível da consulta», considerou.

Ainda assim, Alexandre Lourenço vincou a necessidade de «criar condições» para reter médicos no Hospital de Faro.

«Eu vi vários médicos a dizer que querem continuar a lutar por este hospital, mas vi uma emoção que já vi noutros locais. As pessoas estão cansadas e permanecem a lutar. Todos querem continuar, mas dizem que não aguentam muito mais. O risco de encerramento é enorme, fala-se disso, mas vejo vontade de lutar pelo hospital, apesar de já termos ultrapassado o limite há muito tempo», considerou.

Para este responsável, «estamos a aproximar-nos de um momento em que as decisões que não tomámos podem ter um preço a pagar».

«Ninguém me disse que tinha intenção firme de se demitir, mas ouvi colegas dizer que já tinham colocado um papel para não fazer mais urgência neste hospital. O risco [de fecho] é iminente, mas aqui tem uma importância maior porque estamos a 300 quilómetros dos hospitais que o podem substituir», concluiu.

 

 



Comentários

pub