Observatório quer pôr os dois lados da fronteira a sentir a Eurocidade do Guadiana «como sua»

Francisco Amaral quer que a população de Castro Marim, VRSA e Ayamonte não se sinta como estrangeira no lado de lá do rio

Conseguir que a população dos municípios raianos de Castro Marim, de Vila Real de Santo António e de Ayamonte, este último em Espanha, sinta «como sua» a Eurocidade do Guadiana, através do estimulo da cidadania, é um dos objetivos do Observatório Transfronteiriço que foi ontem formalmente apresentado em Castro Marim.

Este projeto de participação cidadã, que chamará os habitantes dos três concelhos a pronunciar-se sobre os seus anseios e a identificar problemas existentes, é, no fundo, a forma encontrada pelos três municípios que compõem a Eurocidade para levar ainda mais longe a cooperação transfronteiriça e os benefícios que dela se colhem.

«É importante que a população sinta esta Eurocidade com sendo sua e que não haja a sensação que vamos ao estrangeiro quando vamos a Ayamonte e vice-versa», resumiu Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim, à margem da sessão.

«Nós temos que ouvir as pessoas: os vilarealenses, os ayamontinos, os castromarinenses. Ouvi-los, saber o que é que eles pretendem e envolvê-los na decisão. O povo tem que sentir esta Eurocidade e sentir os benefícios que ela traz», acredita o autarca.

«Já existem algumas vantagens, temos o cartão da Eurocidade que dá acesso a algumas infraestruturas do município, dá descontos em certas áreas. Agora, há que fazer um estudo aprofundado para desenvolver uma estratégia para este território. E daí a importância deste observatório, do envolvimento das Universidades do Algarve e de Huelva, para, de um modo científico, elevarmos este projeto com sustentação, com participação ativa», acredita.

 

 

Álvaro Araújo, o presidente da Câmara de VRSA, salientou, por seu lado, a importância da cooperação transfronteiriça.

«Estes territórios têm de ser complementares, nunca concorrentes. Já falei com o meu colega Francisco Amaral que ter uma colaboração mais abrangente, por exemplo, ao nível da recolha de resíduos era algo positivo. Permitiria que, em vez de três estruturas, houvesse apenas uma. É por aí que temos de ir», acredita

Para chegar junto da população dos três municípios, foi contratada uma empresa especializada, «que desenvolverá o trabalho de campo e promoverá a participação», através, por exemplo, de sessões públicas, mas não só.

O trabalho que será realizado permitirá criar uma estratégia de futuro, que Francisco Amaral, que é atualmente o presidente da Eurocidade do Guadiana (o cargo é rotativo), espera que seja «ambiciosa».

«Isto pode ser uma coisa muito importante se formos ambiciosos. Por exemplo, seria muito bom se nós pudéssemos ter acesso aos serviços de saúde espanhóis. São desumanas aquelas listas de espera enormes para uma consulta externa de especialidade ou para uma cirurgia no Hospital de Faro. Se os vilarrealenses e os castromarinenses tivessem acesso aos serviços em Espanha, se calhar o problema seria atenuado», disse.

 

 

O edil de Castro Marim também espera que possa haver uma diminuição da «carga burocrática imensa» que existe. «Não faz sentido nenhum que os bombeiros de VRSA e Castro Marim não possam ir acudir a situações em Espanha e vice-versa».

Esta situação é ainda mais caricata tendo em conta que Castro Marim se prepara para avançar com um projeto de quase um milhão de euros, financiado por fundos europeus destinados à cooperação transfronteiriça, de criação de uma unidade local de formação de bombeiros na aldeia do Azinhal, com capacidade para formar agentes de proteção civil e bombeiros portugueses, mas também espanhóis.

«Há uma carga burocrática imensa que dificulta esta relação, mas tem que ser ultrapassada e é para isso que nós estamos aqui. O observatório serve para fazer o levantamento dessas dificuldades todas e tentar encontrar as soluções. Temos uma boa equipa técnica, temos bom espírito, bons autarcas que estão envolvidos nesta Eurocidade e, como tal, há que levar isto até às últimas consequências e, acima de tudo, fazer com que a população sinta e viva esta Eurocidade», rematou Francisco Amaral.

Também Francisco Javier López, vice-alcaide de Ayamonte, destacou o papel dos técnicos da Eurocidade, «responsáveis pelos avanços conseguidos».

«Agora vamos, com convicção, trabalhar neste observatório», instou.

 

 

Também presente na sessão, esteve José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, que colocou o ênfase numa colaboração cada vez maior entre os dois lados da fronteira.

«A nossa ambição tem de ser reforçar a cooperação e aproveitar as boas relações entre os dois lados do rio para aproximar mais as pessoas», disse.

Quanto ao projeto da unidade de formação de bombeiros do Azinhal, José Apolinário revelou que foi «reconhecido por Madrid como um projeto muito importante para a cooperação transfronteiriça».

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 



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