Hotelaria: «negociação entre empresas e bancos, até ao fim do ano, vai ser crucial»

Segunda parte da entrevista a Raúl Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal

Apesar da retoma do turismo prevista para 2022, há ainda muitas empresas hoteleiras em dificuldades, algumas das quais poderão mesmo fechar…ou não reabrir. A questão é que o Programa Retomar, lançado pelo Governo para servir de apoio às empresas depois do fim das moratórias, em Setembro passado, não está a ter o sucesso pretendido.

Quem o afirma é Raúl Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), em entrevista ao Sul Informação, a propósito do 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que a AHP organiza em Albufeira, amanhã e depois, dias 11 e 12 de Novembro.

«A situação das negociações entre empresas hoteleiras e bancos, até ao fim do ano, vai ser crucial», alertou.

O programa Retomar tem por base uma garantia que será concedida às empresas para o refinanciamento do crédito que têm em moratória. As garantias são prestadas pelo Banco Português de Fomento, tendo um limite de 25% do crédito naquele regime.

Só que, segundo o presidente da AHP, «estes apoios do Retomar, centrados na situação das moratórias, foram mal concebidos».

«Aquilo que o governo se predispôs a dar de apoio não foi aceite pelos bancos», porque «o Estado vem dizer aos bancos o seguinte: “nós damos garantia de 25% do Estado, mas é dentro das vossas garantias”. Isto é, um banco tem uma garantia hipotecária de um bem, por uma divida de 100, e o Estado diz assim: “nós damos a garantia de 25, mas vão buscar aqueles 100 que o banco já tem”. E os bancos não aceitaram isso. Pura e simplesmente, os bancos não aceitaram!»

«As condições que o Governo colocou no Programa Retomar não são aceites e percebe-se que os bancos não o queiram fazer. É que, se esta é uma garantia do Estado, o Estado é que a devia, por si, suportar. Se a entidade não pagasse, o Estado sesria responsável por uma parte da garantia, tinha que suportar algum incumprimento que houvesse. Assim não, está a tirar o pão da boca aos bancos».

De tal modo, que «os bancos, neste momento, estão a negociar caso a caso. Receio bem que haja algumas situações que não tenham um final feliz, para as quais os bancos não venham a encontrar uma solução», acrescentou o dirigente nacional dos hoteleiros portugueses.

Raúl Martins acrescenta que, «quem estava mal antes de 2019, não vai estar bem em 2022». Isso acontecerá sobretudo com «hotéis mais pequenos, com menos capacidade financeira, que tenham sido abertos mais recentemente, em 2019 e 2018, e que já tinham uma dívida grande». A pandemia só veio agravar a sua situação e o Programa Retomar, defende, não é lá grande ajuda. Para muitos desses hotéis, será «a porta de entrada para uma situação de insolvência».

Tudo isto causa grande preocupação no setor e nos seus representantes. É por isso que o Congresso Nacional da Hotelaria «terá um painel dedicado às soluções de apoio financeiro, que não estão tanto a olhar para o passado, estão a olhar mais para o futuro» e para as novas vias de financiamento.

O presidente da AHP recorda que «hoje em dia, os hotéis em Portugal são procurados pelos fundos que querem fazer investimento». Isso já está a acontecer, com os «fundos de investimento a tomar a posição que, em algumas situações, os bancos não queiram suportar».

Se, antes da pandemia, já era hábito uma parte dos hotéis no Algarve fechar durante o Inverno, a situação agora ainda é mais evidente. «O Algarve talvez seja dos sítios do país onde esses fechos temporários têm mais relevância, será na ordem dos 20%». Até Março, as portas dessas unidades manter-se-ão fechadas.

Mas o presidente da AHP está otimista e diz acreditar que «2022 vai ser um bom ano e positivo». «Obviamente que não estaremos ainda ao nível de 2019, mas vai ser um bom ano». Por isso, defende na sua entrevista ao Sul Informação, «temos que nos preparar todos para que, em Março, haja oferta, porque a procura está aí».

 

 



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