«Há um nó górdio na acessibilidade aérea em Portugal» que afeta Lisboa, mas também o Algarve

O presidente da AHP deu uma extensa entrevista ao Sul Informação, tendo como pretexto o 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que começa amanhã em Albufeira

O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) considera que «há um nó górdio na acessibilidade aérea em Portugal» que afeta Lisboa, mas também as outras regiões turísticas, como o Algarve.

É que, defende Raúl Martins, «enquanto não for decidido o hub para Lisboa (porque sabemos que Lisboa é o hub de Portugal para o mundo), temos aqui uma dificuldade de crescimento».

O tema da Acessibilidade Aérea será precisamente um dos que estará em debate, num painel a ele dedicado, durante o 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, organizado pela AHP, no Nau Salgados Palace, em Albufeira, de 10 a 12 de Novembro.

Em entrevista ao Sul Informação, o presidente da principal associação hoteleira nacional admitiu que, nas principais regiões turísticas portuguesas, o impasse tem vindo a ser ultrapassado através de «soluções alternativas». «Voltámos a ter situações de operadores a operar diretamente para o Algarve e isso é bom, porque não ficam condicionados ao hub de Lisboa. Também no Porto têm vindo a crescer as rotas com várias companhias aéreas, na própria Madeira e nos Açores vemos todos dias anúncios de novas ligações aéreas», explicou.

Para Raúl Martins, essa é «uma estratégia óbvia» para as companhias aéreas que «sabem que há turistas para essas zonas e, estando o aeroporto de Lisboa congestionado como está, decidem que vão voar diretamente para os aeroportos das outras regiões. De alguma forma, isso irá compensar este impasse da situação do hub de Lisboa».

«Se as coisas correrem bem, nós só teremos novo aeroporto em Lisboa, ou hub, o que seria o mais indicado, daqui a três ou quatro anos». Isso quer dizer, na opinião do presidente da AHP, que, entretanto, «muito dificilmente, poderemos aumentar o número de turistas e as receitas turísticas do país».

Só que, defendeu Raúl Martins na sua entrevista ao Sul Informação, «as regiões do Algarve, do Porto, da Madeira, dos Açores, têm condições e têm autonomia suficiente para criar condições de atratividade para que as companhias voem para lá, diretamente». Aliás, salientou, «todos têm feito trabalho nesse sentido».

E isso, na opinião do hoteleiro e dirigente do setor, «vai ser um caminho muito importante, nestes próximos três ou quatro anos, para que as regiões fora de Lisboa não fiquem dependentes desse nó górdio que ainda não se desatou».

 

 

 

«2022 vai ser um bom ano» de Turismo

O lema do Congresso Nacional que a AHP promove em Albufeira é «O Turismo tem futuro!». Mas, e os efeitos da pandemia, que consequências tiveram nesse futuro?

Raúl Martins considera que Portugal, com o nível de vacinação atingido e as medidas de controlo da pandemia adotadas, ficou «numa posição excelente para que a retoma do Turismo pudesse acontecer. Nós, em termos de vacinação, somos os primeiros do mundo, e isso é importante em termos de segurança daqueles que nos queiram visitar».

Tal situação «permitiu que, primeiro as zonas do interior e depois o Algarve, a Madeira e os Açores, de seguida o Porto e agora Lisboa, viessem a recuperar paulatinamente uma ocupação razoável. Hoje podemos dizer que estaremos com uma ocupação média já de cerca de 50% daquilo que foi 2019, estou a dizer em tudo, o acumulado não terá ainda, mas em Outubro aconteceu assim. Isso dá-nos a expectativa e a esperança de que a retoma começou».

«Claro que temos pela frente alguns meses difíceis de ocupação: Novembro, Dezembro, Janeiro e Fevereiro são meses em que normalmente a ocupação é menor». Mas o presidente da AHP está otimista e diz acreditar que «2022 vai ser um bom ano e positivo». «Obviamente que não estaremos ainda ao nível de 2019, mas vai ser um bom ano».

Aliás, acrescentou, na sua entrevista ao nosso jornal, «é com essa expetativa que nós organizamos o congresso, afirmando que o turismo tem futuro». É que, lamentou, «ao longo deste tempo da pandemia, parecia que o turismo era uma atividade em vias de extinção».

«Mas o ser humano é o principal ator do turismo, é a ele que nós dedicamos a nossa atenção, e o ser humano, no século XXI, gosta de viajar, gosta de ter novas experiências e gosta de conviver. E portanto, à medida que a pandemia esteja mais controlada, maior atividade iremos ter», salientou Raúl Martins.

 

 

Tipo e atitude dos turistas mudou um pouco

E será que, depois da pandemia, dos medos que trouxe, dos hábitos que mudou, os turistas que procuram Portugal são do mesmo tipo? Ou também isso mudou?

O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal admite que «temos vários exemplos de que os turistas recentes são outros». Na Madeira, por exemplo, «tivemos, ao longo deste Verão, turistas mais jovens».

Segundo Raúl Martins, o que se passa é que «os turistas com mais idade ainda estão recatados, ainda têm receio de viajar, mesmo vacinados, portanto há aqui uma alteração do perfil».

Por um lado, há uma alteração do perfil da idade, «já que são os mais jovens que estão a viajar mais. Ou estão a viajar como viajavam, mas os mais velhos é que não estão a viajar. E, dentro desses, as preferências são diferentes, quer dizer que, enquanto os seniores procuram repouso, descanso e algum sol, os mais novos procuram atividade, procuram novas experiências».

E, felizmente, «isso Portugal também tem. Nós temos colocado, ao longo destes últimos anos, uma oferta muito diversificada». Há «desde percursos pedestres fantásticos, até ciclovias fora das cidades ou situações de natureza pura».

«Hoje em dia, em Portugal, há várias ofertas desse tipo e sabemos que os hotéis do interior tiveram, durante a pandemia, uma procura superior àquilo que tinham anteriormente. Portanto, pensamos que, sendo os turistas diferentes e tendo um perfil diferente, Portugal tem oferta para os captar e isso tem-se verificado e vai continuar a verificar-se», frisou o presidente da AHP.

No que diz respeito ao Algarve, Raúl Martins recorda as «infraestruturas» que foram sendo criadas na região para responder a esta nova procura, «desde passadiços, caminhos pedestres que estão ao longo da costa, por exemplo da Quinta do Lago até Faro, percursos de aventura, rotas de trekking». E depois há o golfe, tradicionalmente importante para esbater a sazonalidade e que, este ano, já provou de novo a sua importância.

Mas, tanto na região algarvia, como no vizinho Alentejo, o dirigente dos hoteleiros salienta igualmente o papel desempenhado pelo enoturismo, como forma de captar novos turistas, até fora da época alta e mais para o interior. «Há uma situação que pode favorecer a chamada época baixa, que é o facto de as pessoas hoje não quererem grandes concentrações e fugirem mesmo de sítios ou de épocas em que haja muita concentração».

 


Quem é Raúl Martins?

Raul Martins nasceu na Labrugeira, em Alenquer, há 75 anos, tendo desenvolvido a sua atividade profissional de engenharia e de gestão nas empresas de construção Fernando Martins, SA, que desenvolveu entre outros o empreendimento imobiliário Encosta das Olaias, que veio a obter o prémio Valmor em 1982.

Desde 1974, é administrador da Altis, SA, tendo desenvolvido os projetos dos seus Hotéis Altis Suites, Altis Avenida, Altis Prime e Altis Belém, no qual se inclui o Restaurante Feitoria, distinguido com estrela Michelin desde 2012, e ainda o empreendimento Foz Residence, no Porto.

Fez o curso de Alta Direção de Empresas da AESE.

Atualmente, é presidente do Conselho de Administração do ALTIS Hotels, está ligado há mais de 40 anos à atividade hoteleira e desde 2000 à vida associativa. É presidente da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal desde 2016, tendo exercido anteriormente funções como presidente do Conselho Fiscal e da Assembleia Geral desta associação.

Foi presidente do Conselho Fiscal da Associação de Turismo de Lisboa, exerce funções como vice-presidente da CTP e é membro do Comité do Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa, em representação da AHP.

Em 2018, foi distinguido pelo Governo português com a medalha de Mérito Turístico de Grau Ouro, pelos seus mais de 40 anos de ligação ao setor, quer como empresário, quer em reconhecimento pelo trabalho associativo que tem desenvolvido.

 



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