Golfe, eventos e férias escolares no Reino Unido “esticam” Verão até ao São Martinho

Bom desempenho turístico da região nesta reta final do ano é «balão de oxigénio» para os agentes do setor

O Verão, no Algarve, teve uma espécie de prolongamento para Outubro e Novembro, com muitas unidades hoteleiras a registar taxas de ocupação «acima do que é habitual para esta altura do ano» e aviões cheios de passageiros a chegar ao Aeroporto de Faro. A “culpa” deste bom desempenho é do golfe, que está com números acima dos de 2019, e dos britânicos, que voltaram em força à região durante o Half Term, um período de férias escolares do Reino Unido.

Desde a Região de Turismo do Algarve, aos hoteleiros, passando por agentes do setor do golfe, a opinião é unânime: o desempenho do Algarve, nesta reta final de ano, tem sido francamente bom e está a funcionar como um balão de oxigénio para as empresas turísticas, ainda à procura de recuperar das consequências da pandemia.

Para ajudar, há este fim de semana dois eventos de grande atratividade: o MotoGP no Autódromo do Algarve e o Portugal Masters em golfe, em Vilamoura. Tudo conjugado, chega para dar esperança aos agentes turísticos de que terão uma almofada para atravessar o “deserto” do Inverno que se aproxima, até à esperada retoma, a partir do 2º trimestre de 2022.

Para já, ainda é cedo para falar em retoma, até porque, apesar de haver zonas do Algarve a trabalhar melhor do que costumam, nesta altura do ano, a nível regional a ocupação média por quarto ainda está aquém da verificada em 2019, no que ao mês de Outubro diz respeito.

 

João Soares

 

Segundo revelou ao Sul Informação João Soares, diretor geral do Dom José Beach Hotel, de Quarteira, e representante da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) no Algarve, «está toda a gente acima de Outubro do ano passado, mas cerca de 20% abaixo de Outubro de 2019, se fizermos a análise a toda a região».

Mesmo sem atingir os números pré-pandemia, o desempenho positivo verificado em Outubro, que se perspetiva que se prolongue em Novembro, «é um balão de oxigénio. As coisas estão a correr bastante bem, estáveis e os clientes estão a gostar do destino».

Os mais recentes dados de outra associação empresarial, a AHETA, apontam no mesmo sentido.

«A taxa de ocupação global média/quarto foi 60,5%, 15,5% abaixo do valor registado em 2019. Comparativamente a 2020, a ocupação média subiu 31,2%», revelou, esta quinta-feira, a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve.

«Nós estamos com um bom mês de Outubro, está a correr bem. Têm havido muitas reservas em cima da hora, muito mercado britânico. O clima tem ajudado. Mas ainda há quartos (risos)», resumiu João Soares.

 

João Fernandes

 

Ainda no que diz respeito aos números, João Fernandes, presidente da RTA, também avançou alguns.

«Os mais recentes dados do INE revelam que em Setembro as dormidas dos portugueses ultrapassaram o aglomerado de 2019 e representaram 33,5% das dormidas em hotelaria classificada entre Janeiro e Setembro», disse.

Em Outubro, «entre os dias 14 e 28, foram movimentados no Aeroporto de Faro mais de 173 mil passageiros, 70% do Reino Unido. O fim de semana de 23 e 24 de Outubro, com 215 desembarques, foi o com mais passageiros movimentados desde Janeiro de 2020».

«Este é um resultado claramente bom, face ao contexto. Mas também convém lembrar que de Janeiro a Setembro tivemos menos de metade das dormidas do que em igual período de 2019», acrescentou João Fernandes.

Para se obterem estes resultados, «o golfe tem ajudado muito».

«Segundo a informação que tenho, os campos estão cheios. Também tivemos agora as férias dos miúdos britânicos, o chamado Half Term, o que acabou por ajudar a que os hotéis estejam com ocupações bastante altas», disse João Soares.

O presidente da RTA reforçou que «a partir da 2ª quinzena de Setembro, começa a época do golfe. Havia três épocas de reservas que se concentraram de 15 de Setembro em diante. Em Outubro, aos golfistas juntou-se o Half Term, com muitas famílias britânicas a vir para o Algarve.

 

João Paulo Sousa

 

«O golfe teve resultados surpreendentes nos últimos dois meses, em Setembro e Outubro, e continua a tê-los em Novembro. Dessa forma, a hotelaria está a ter maiores taxas de ocupação, muito por causa do golfe», acredita João Paulo Sousa, vice-presidente da Associação de Gestores de Golf de Portugal e diretor do Benamor Golf, na Conceição de Tavira.

«A partir de 15 de Setembro e nos meses seguintes é a época alta do golfe. Com o apaziguamento da situação pandémica, aliada ao facto da vacinação em Portugal ter já atingido 85% da população, criaram-se níveis de confiança que permitiram que isso acontecesse», enquadrou, em declarações ao Sul Informação.

Além disso, «o destino de golfe Algarve é muito prestigiado e as pessoas estavam desejosos de voltar a jogar, de voltar a viajar. Muitos deles são repeaters, o Algarve tem um grande número de golfistas que vêm repetidas vezes ao destino, e esses apareceram logo».

«Nós temos um número substancial de turistas de longa estadia, que tiveram ano e meio sem cá vir e regressaram mal puderam. Principalmente o mercado nórdico, nesta fase já regressaram todos e estão já como em 2019 ou até com mais pessoas a vir», revelou João Paulo Sousa.

Neste momento, «a procura cresceu e é até maior do que em igual período de 2019. Obviamente que, havendo mais jogadores, também há mais volume de voltas. Esta época está a ser positiva para os campos de golfe e para todo o turismo do Algarve».

 

Carlos Ferreira

 

Carlos Ferreira, fundador e gerente da Tee Times Golf Agency, uma das principais agências de golfe do país, sediada em Vilamoura, explicou ao nosso jornal que este aumento foi sentido, principalmente, em Outubro, em que o aumento, comparativamente com 2019, «foi de cerca de 20%».

Já em Setembro, os números «foram mais ou menos iguais» aos registados neste mês do último ano sem pandemia.

«Para já, Novembro também está a correr muito bem e espero que continue assim», desejou.

O empresário não esconde que o regresso em força do golfe está a ser «uma lufada de ar fresco para a parte empresarial, não só para as agências, como para os campos e para a hotelaria».

«Têm havido reservas, também para o ano que vem, mais para a frente. Ainda estamos com algum receio, mas a tentar esquecer o passado e a pedalar para o futuro», afirmou.

 

Créditos: Depositphotos

 

E se as coisas já corriam bem, este fim de semana «temos dois grandes motivos de visitação da região: o MotoGP em Portimão, que terá, pela primeira vez, público, e o Portugal Masters em Golfe. Por esta razão, há algumas unidades que costumam fechar nesta altura, que este ano se mantiveram abertas», salientou João Fernandes, da RTA.

«Sente-se que há muita confiança em viajar para o Algarve, o que não acontece em relação a destinos concorrentes. Também temos sido brindados com bom tempo, tirando a chuva do fim de semana. Estimo que esta boa procura se estenda até final de Novembro», afirmou o mesmo responsável.

A médio prazo, as expetativas também são altas, embora com uma boa dose de realismo.

«Penso que só se poderá perspetivar a retoma a partir do próximo ano. Acredito que o que está a acontecer atualmente é que pessoas que gostavam de ter vindo passar férias na região no primeiro trimestre do ano estão a vir agora para cá», ilustrou o hoteleiro João Soares.

Afinal, tudo depende de como será o Inverno, «mas já há muitas reservas para Abril e Maio e vamos sentir a retoma nessa altura».

A partir daí, e caso a situação pandémica não o impeça, João Soares está convicto que «haverá uma procura muito grande. No primeiro e segundo trimestre do próximo ano já vamos ter bastantes clientes, se as coisas se mantiverem assim – e acredito que sim».

Também o presidente da RTA vê uma luz cada vez mais forte ao fundo do túnel. «Há uma retoma progressiva. Esperamos que a partir de Março seja consentânea com um ano normal. Mas tudo dependerá sempre da evolução da pandemia».

No golfe, «as perspetivas que existem para o ano que vem são boas», uma vez que as «intenções de vir continuam consistentes, também  em 2022», concluiu João Paulo Sousa.

 

 

 



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