Dique reconstruído na Ria de Alvor foi inaugurado pela secretária de Estado das Pescas

Obras eram reclamadas pelos viveiristas e por alguns dos moradores

A secretária de Estado das Pescas, com o presidente da Docapesca e a presidente da Câmara de Portimão – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

O dique da Espargueira, no coração da Ria de Alvor, que tinha rebentado em 2019, provocando o alagamento com água salgada da área interior e até de caminhos rurais, bem como prejuízos aos viveiristas, foi reabilitado pela Docapesca, num investimento de cerca de 130 mil euros.

A obra, que já estava pronta desde finais de Julho passado, foi oficialmente inaugurada na quarta-feira, dia 10 de Novembro, pela secretária de Estado das Pescas e pelo presidente da Docapesca, empresa de capitais públicos responsável pela intervenção.

Os trabalhos tiveram como objetivo «reforçar a proteção contra inundações, regular o alagamento das áreas adjacentes e garantir a proteção de um ecossistema rico em avifauna».

Em declarações ao Sul Informação, Sérgio Faias, presidente do Conselho de Administração da Docapesca, admitiu que tinha havido «uma degradação do dique ao longo dos anos». «Esta é uma área que passou para a nossa jurisdição em 2014, mas que não conhecíamos, nem acompanhávamos de perto, e fomos confrontados com o degradar da situação em 2019, tendo constatado que havia uma necessidade de intervenção».

No entanto, tendo em conta que o dique se situa em plena Ria de Alvor, uma zona húmida de grande importância, «era necessário articular essa intervenção com as várias entidades, porque existiam aqui questões de proteção civil, de conservação da natureza, com o ICNF e com a APA, que tinham de ser acordadas e estabelecidas».

«Tínhamos muitas dúvidas sobre qual seria a melhor solução, até porque havia quem dissesse que o melhor seria renaturalizar» a área, ou seja, não reconstruir o troço do dique que se tinha desmoronado. «Fomos tendo reuniões com as várias entidades e optou-se pela solução de reconstruir o dique, achou-se que essa era a melhor solução e a que mais bem defendia as populações».

 

Novo dique já está a ser utilizado por caminhantes, pescadores e observadores de aves – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Durante a visita ao dique reconstruído, ao fim da manhã da passada quarta-feira, que o Sul Informação acompanhou, Sérgio Faias explicou à secretária de Estado Teresa Coelho e a Isilda Gomes, a presidente da Câmara de Portimão, as «dificuldades da obra».

«Houve a necessidade de utilizar um camião pequenino, que trazia o material», terra e pedras, até ao local do rombo e depois «tinha que fazer marcha atrás» para sair. «No meio disso, houve duas marés vivas que desfizeram o trabalho que já tinha sido feito», o que até aumentou os custos da intervenção em «mais 50%».

Só «em Abril de 2021 é que se recomeçou e se levou até ao fim», tendo a reabilitação do dique ficado concluída em finais de Julho.

Teresa Coelho admitiu os custos a mais, mas fez questão de salientar que «o que interessa é que a obra foi feita, de modo a garantir a segurança e os interesses da população e do ambiente».

A presidente da Câmara Isilda Gomes sublinhou esta era «uma obra muito desejada», que «preocupava os viveiristas desta área». «Recebemos várias vezes contactos na Câmara, dos viveiristas a pedirem esta intervenção com urgência».

A questão, ao que o nosso jornal apurou, é que os viveiros de amêijoas e ostras, sobretudo os situados já no Vale da Lama, na margem de Lagos da Ria de Alvor, eram afetados pelo maior volume de água que entrava e saía da zona interior antes defendida pelo dique.

Por seu lado, José Vitorino, presidente da Junta de Freguesia da Mexilhoeira Grande, recordou que «havia pessoas que não conseguiam chegar a casa», porque os caminhos de acesso «ficavam inundados com um metro de água». Apesar dos avisos de não circulação nesses caminhos durante a maré cheia, houve, ainda assim, muitos automobilistas que insistiram… e tiveram de ser retirados da água pelo reboque.

 

Zona do dique da Espargueira que ameaça abrir rombo – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Apesar dos 130 mil euros gastos a reconstruir a parte do dique que tinha colapsado em 2019, a verdade é que, um pouco mais à frente, há outra zona da estrutura que, mais ano, menos ano, mais mês, menos mês, poderá também abrir um rombo. O presidente da Docapesca garantiu que o problema já tinha sido identificado.

No caso, as ameaças ao dique têm sido potenciadas pelo avanço dos viveiros do Vale da Lama, que têm vindo a ganhar espaço dentro da zona lagunar, num alargamento devidamente licenciado pela Docapesca.

Só que esse avanço, segundo um especialista consultado pelo nosso jornal, «alterou a dinâmica da ria» e causou o desaparecimento de uma espécie de praia, uma zona de areia, que existia junto ao dique, protegendo-o das águas. Como irá a estrutura aguentar é algo que se irá ver no futuro.

Indiferentes a estas questões, estão os muitos observadores de aves e caminhantes que utilizam o dique para fazer um percurso na Ria de Alvor. Pouco antes da inauguração oficial das obras, um grupo de oito caminhantes estrangeiros, de binóculos ao peito e mochila às costas, avançaram pelo topo da estrutura, todos contentes.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 



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