Agricultores algarvios vão ter novos apoios para melhorar eficiência da rega a partir de 2022

Medida será financiada pelo PDR 2020, garantiu Pedro Valadas Monteiro

Pedro Valadas Monteiro – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Os agricultores algarvios vão poder candidatar-se a apoios europeus destinados especificamente à melhoria da eficiência dos sistemas de rega e à poupança de água, no âmbito de uma linha que «deverá estar disponível para o ano» no PDR 2020, anunciou Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve, à margem do 2º Balanço de Campanha dos Citrinos.

A DRAPAlg propôs aos gestores deste projeto, «que está a funcionar na transição entre um quadro de programação e o outro», a criação de uma medida que permita que, «no Algarve, trabalhemos a rega de precisão: sistemas mais eficientes, possibilidade de serem adquiridos equipamentos de rega, mas também a parte da sensorização, que permite controlar melhor as dotações e que se aplique aquilo que as plantas realmente precisam».

«Também propusemos uma medida para pomares já instalados, os quais, quando foram criados, até podiam usar a melhor tecnologia que havia no mercado, mas, entretanto, passaram-se 10, 15 ou 20 anos e os equipamentos evoluíram», acrescentou.

Hoje, a tecnologia existente é «muito mais eficiente. A ideia é que crie uma linha de apoio, para que se possa substituir, no todo ou em parte, os sistemas de rega menos eficientes, por outros mais modernos, mantendo o pomar».

«O foco, aqui, é sempre poupar água, evitar introduzir mais fertilizantes do que é necessário e, dessa forma, defender o ambiente e poupar energia», resumiu Valadas Monteiro.

Estes apoios vêm ajudar na luta contra o desperdício e em prol do uso eficiente da água, um desígnio «fundamental» na região algarvia.

 

A somar a esta ajuda financeira, que virá da União Europeia diretamente para as contas dos agricultores, estão na calha vários investimentos, uns já certos, previstos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a chamada “bazuca”, outros ainda no campo dos desejos.

«A DRAPAlg, no âmbito da preparação do Plano Nacional de Regadios, que vai definir as novas áreas de regadio para os próximos 15 anos, encomendado pelo Ministério da Agricultura à EDIA, fez uma proposta para o Algarve, de modo a fazer a transição do uso excessivo das águas subterrâneas para água superficial, bem como do regadio privado para o coletivo», disse o diretor regional de Agricultura.

«Para isso, propusemos que sejam construídos dois açudes insufláveis, ou seja, móveis, que nos permitam fazer a regularização dos caudais ecológicos e, inclusivamente, evitar situações de cheia, situados em duas ribeiras: a da Foupana e a de Monchique», acrescentou.

Esta solução, ao contrário da barragem da Foupana – que na visão deste responsável «seria o ideal», mas que «dificilmente seria aceite» -, «quer do ponto de vista ambiental, quer dos custos, é muito mais facilmente aprovada».

O objetivo é permitir, com esse reforço, «que será na ordem dos 25 a 30 hectómetros por ano», aumentar a área do Algarve infraestruturada com regadio público coletivo, com base em águas superficiais, «de maneira a que possamos desligar furos e baixar a pressão sobre os aquíferos».

«Desta forma, defendemos os próprios aquíferos, pois sabemos que têm tempos de recarga mais difíceis e que alguns deles têm problemas sérios do ponto de vista da qualidade, nomeadamente físico-química, mas também da quantidade, o que leva a que haja o risco de intrusão salina», realçou Pedro Valadas Monteiro.

A estas medidas, juntam-se as já previstas no PRR, que passam, do lado do aumento das disponibilidades hídricas, por uma ligação entre o Pomarão e a Barragem de Odeleite e pela construção de uma dessalinizadora no litoral, mas também pela poupança de água, nos sistemas urbanos e agrícolas.

 

Barragem da Bravura – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

«No plano da “bazuca”, a agricultura tem um envelope financeiro à volta de 17 milhões de euros. Há uma parte que é para a remodelação e modernização dos aproveitamentos hidroagrícolas que já existem, principalmente aquele que praticamente não teve ainda uma intervenção de fundo, que é o de Alvor».

Este sistema de regadio, assente na barragem da Bravura, «tem problemas de perdas de água e um sistema gravitacional, que é muito menos eficaz. Não é a pedido, como os outros, que funcionam com pressão».

Mais para a frente, e no âmbito do futuro quadro de programação 2021-2027, «a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, que gere o Programa Operacional regional, propôs a criação de uma Intervenção Territorial Integrada, na qual nós [DRAPAlg] temos também estado envolvidos, quer na génese da ideia, quer através de uma equipa de consultores que está a trabalhar a medida».

«A ideia é, através de um financiamento plurifundos [da União Europeia], apoiar a preservação da paisagem tradicional do Algarve, quer a produtiva, quer a não produtiva, como os muretes, os socalcos, etc., bem como os pontos de água que existiam, nomeadamente os pequenos açudes, as charcas».

Um dos objetivos é «criar vários destes pontos de água, destes pequenos reservatórios, porque são essenciais para manter a agricultura tradicional, mas também como apoio ao combate a incêndios».

O projeto integra, ainda, «uma agenda mobilizadora para água e energia, para o desenvolvimento do Algarve e Alentejo», que envolve entidades públicas, incluindo as autarquias, empresas e a academia, de onde se espera que surjam soluções tecnológicas «que permitam, desde logo, poupar água, mas também fazer a transição energética».

Há igualmente a componente ambiental, «através do restauro dos ecossistemas, do combate às invasoras e da regeneração e proteção do solo».

Por fim, este projeto contempla a vertente da digitalização, de modo a permitir, por exemplo, «a deteção precoce de fugas, a telemetria para a transmissão automática dos consumos e fazer a integração de informação que está dispersa – imagens de satélite, dados de estações agrometeorológicas, de sensorização nas parcelas – para sermos mais eficientes, pouparmos água e reduzirmos os custos de todo o sistema».

 

 



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