Preparam-se os últimos instrumentos para o Festival de Órgão do Algarve

O Sul Informação esteve à conversa com o mestre organeiro Dinarte Machado

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

Chega em passo apressado à Sé de Faro, um pouco atrasado, mas dentro do planeado, e sobe as escadarias cumprimentando todos quantos conhece há vários anos. O mestre organeiro Dinarte Machado abre as portas do órgão, puxa o banco para trás, senta-se e começa a tocar. Depressa a melodia começa a percorrer os corredores da igreja, fazendo antever mais uma edição do Festival de Órgão do Algarve, que decorrerá de 5 a 28 de Novembro.

Logo que chega perto do órgão da Sé, o mestre organeiro, antes de começar a avaliar o estado do instrumento, aprecia os desenhos e as cores nele presentes.

Segue-se então o momento de perceber quais as condições de conservação a fim de ver que trabalhos terá ainda de fazer para que tudo fique perfeito para o concerto. Foi nesta visita à também conhecida como Igreja de Santa Maria que o Sul Informação falou com Dinarte Machado, mestre organeiro.

Tocar qualquer repertório num órgão como o da Sé de Faro é, para um organista, um desafio. Mas o de afinar e restaurar também não deixa de o ser para um mestre organeiro: «é preciso aquilo que costumamos dizer na gíria, “ter as costas largas”, para assegurar que o instrumento corresponde ao esperado pelo organista que vai tocar».

Nas pausas entre melodias, enquanto verifica se existem teclas presas ou se os fios se encontram em condições e bem ligados, Dinarte Machado conta que o órgão da Sé de Faro «foi construído no início do século XVIII», tendo sido «obrigado a uma reforma» depois de ter sofrido um acidente causado pelo colapso da torre durante o terramoto de 1755.

Apesar disso, este instrumento musical «conserva em si grande parte daquilo que é a sua historicidade sonora», realça.

Apesar deste incidente, este é «um órgão histórico, uma vez conservado», que passou a ser «uma peça que pertence à nossa história e que faz parte da nossa identidade».

Mas este instrumento musical «requer manutenção», no ideal «uma vez por ano» ou, no máximo, «de dois em dois anos», para que, em termos de equilíbrio, «ele se mantenha afinado».

Quando questionado sobre a dificuldade de fazer a manutenção de um órgão como o da Sé de Faro, Dinarte Machado salientou que «não há nenhuma, a partir do momento em que o organeiro, na sua formação, tem como aspeto da sua sensibilidade, enquanto restaurador, aquilo que é o elemento histórico do instrumento».

 

Dinarte Machado – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

«Na minha mente, a afinação dos instrumentos para o Festival de Órgão do Algarve é, por si só, quase um momento pontual da sua utilização propriamente dita» e algo que já se tornou habitual na agenda de Dinarte Machado.

Para o organeiro, este Festival do Órgão do Algarve «demorou a ser construído» mas, hoje em dia, é considerado «uma marca nacional»

A ultimarem-se os preparativos para o evento, a sua visita ao Algarve serve essencialmente para «perceber em que estado é que os órgãos algarvios se encontram, uma vez que, alguns deles, são vistos e tocados uma vez por ano».

Depois de verificados e apontadas todas as reparações a proceder, Dinarte Machado revelou que, para além dos já restaurados, «são mais três os órgãos na linha do Algarve, um deles em Tavira, que poderão vir a ser alvo de obras de restauro».

Há ainda «mais um ou dois que não oferecem condições para serem restaurados, pois o elemento histórico perdeu-se», revela o mestre organeiro.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

O mestre organeiro faz também algumas críticas aos organistas, e aos repertórios, nomeadamente o facto de «alguns tocarem contra o próprio instrumento», estando assim a sacrificá-lo «em função daquilo que é o gosto de cada um, que chega com formações diferentes, com escolas diferentes, com atitudes diferentes, perante um órgão histórico».

Os organistas devem, sim, «pôr o instrumento a favor da sua opção artística, da sua parte interpretativa como músico». Se assim for, Dinarte Machado admite que «todos os concertos serão fantásticos quando tocados nos órgãos históricos».

Ainda assim, na opinião do mestre organeiro, «falta um órgão novo no Algarve, um mais moderno construído de raiz» para aquelas pessoas que «preferem ouvir outro tipo de repertório». Este instrumento «poderá fazer com que as pessoas vejam que nas suas igrejas também há um órgão e lhe comecem a dar mais valor».

«Havendo um órgão novo, não é preciso impor aquilo que é um repertório impróprio para determinado instrumento». acredita.

Dinarte Machado confidenciou ainda ao Sul Informação que, para a ideia de montar um órgão moderno de raiz, o município de Loulé «está interessado e numa fase bastante evoluída para a construção deste instrumento na sua Igreja Matriz», processo no qual o mestre organeiro se encontra integrado.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 



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