Novo edifício da Junta de Freguesia de Portimão «dá o exemplo na defesa do património»

Obras que são inauguradas hoje mantêm «a estrutura original do edifício», bem como «preservam todo o património aqui encontrado»

Álvaro Bila – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

A recuperação da antiga Casa Nossa Senhora da Conceição e sua adaptação para acolher os serviços da Junta de Freguesia de Portimão é «um exemplo muito importante para cidade e o seu centro histórico». As palavras são de Álvaro Bila, presidente daquela autarquia, durante a visita que o Sul Informação fez ao novo edifício, que este domingo, dia 10, às 17h00, será inaugurado.

Nas novas instalações, além da grande preocupação «em garantir os acessos para pessoas com mobilidade reduzida», o objetivo passou por manter «a estrutura original do edifício», bem como «preservar todo o património que aqui fosse encontrado».

Curiosamente, Álvaro Bila termina hoje os seus dois mandatos consecutivos à frente dos destinos da Junta de Freguesia de Portimão, já que, logo após a inauguração da sede, terá lugar a tomada de posse dos novos órgãos autárquicos da freguesia, que passarão a ser presididos pela também socialista Maria da Luz Santana. E amanhã, segunda-feira, Álvaro Bila tomará ele próprio posse como vereador (e possível futuro vice-presidente) da Câmara Municipal de Portimão.

O autarca recordou que, no seu primeiro mandato à frente da Junta de Freguesia, e antes de iniciar qualquer obra, «decorreram as escavações arqueológicas no pátio do antigo edifício», que puseram a descoberto um poço romano e os vestígios de uma casa do século XVI-XVII, bem como os restos bem preservados de uma calçada.

Todos esses elementos arqueológicos foram preservados e serão agora «integrados no pátio, que estará aberto a visitas e poderá no futuro acolher iniciativas, que tornarão esta edifício da Junta mais um polo de atração no centro histórico de Portimão».

As escavações arqueológicas foram feitas por uma empresa especializada e acompanhadas por Vera Freitas, a arqueóloga do Museu de Portimão. «Este é um edifício público, situado numa zona da cidade, aqui ao pé da Igreja Matriz, onde já se sabia que deveria haver vestígios arqueológicos. Por isso, tudo foi feito como deve ser, até porque a Junta de Freguesia tem de dar o exemplo», explicou Álvaro Bila.

O pátio e os seus vestígios arqueológicos ainda não estarão visitáveis este domingo, durante a inauguração, mas sim «no próximo mês». Aliás, apesar de a obra de reabilitação e adaptação do edifício até ter terminado onze dias antes do prazo, tudo indica que os serviços da Junta só deverão mudar-se para as novas instalações no início do próximo ano. «Mas isso será o novo executivo a decidir», salientou.

 

Álvaro Bila e a nova presidente da Junta de Freguesia, à porta do novo edifício – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Não foi só ao nível do espaço exterior que houve preocupação em preservar o património. Também o edifício em si é um «exemplo» do muito que se pode fazer.

A Junta de Freguesia já tinha funcionado na antiga Casa Nossa Senhora da Conceição, há cerca de vinte anos. Nessa altura, foi até lançado um concurso de ideias para a adaptação do edifício a essas funções, ganho por dois jovens arquitetos, mas a proposta então aprovada previa uma área de construção muito maior e com mais impacto no local. Era, além disso, mais cara, não só em termos de construção, como de manutenção futura, pelo que, quando Álvaro Bila assumiu a presidência da Junta, em 2013, decidiu abandonar esse projeto.

Foi então lançado um concurso de Conceção e Execução, que foi ganho pela Stap – Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, empresa com vasta experiência de obras em edifícios antigos e de valor patrimonial, tendo sido responsável, por exemplo, por intervenções na Igreja de São Francisco, em Évora, ou na Sé do Funchal.

«O concurso foi enviado em Junho do ano passado para o Tribunal de Contas, que o aprovou em Outubro e as obras começaram de imediato», recorda Álvaro Bila. E agora, onze dias antes do prazo de execução de um ano, os trabalhos estão prontos, depois de um investimentos de pouco menos de 1,2 milhões de euros.

O cuidado na preservação do edifício situado na área de proteção da Igreja Matriz de Portimão é visível desde o exterior. O painel de azulejos amarelos e azuis que encima a porta principal foi preservado, tendo apenas sido substituídas as letras: onde antes se lia Casa Nossa Senhora da Conceição, lê-se hoje Junta de Freguesia de Portimão. «Mas mesmo esse trabalho foi feito por uma especialista em azulejos, que veio cá retirar os antigos, e depois conseguimos fazer novos, exatamente com as mesmas técnicas e cores», aponta o autarca, com orgulho.

No interior, os dois arcos do átrio de entrada, por exemplo, não estavam previstos no projeto inicial. «Aquela parede era para ter sido toda demolida, mas, quando começaram as demolições, apareceram aqueles arcos e decidimos mantê-los».

Numa das salas, foi mantida e deixada à vista uma parede em alvenaria. «Se hoje quiséssemos fazer uma parede assim, não ficava tão bem feita, nem tão bonita».

No piso inferior, que também é um rés-do-chão, porque o edifício se situa numa rua com desnível, foi preservada e deixada à mostra uma estrutura escavada na rocha calcária onde assenta a casa. «Isto aqui é uma sala de formação. A arqueóloga disse-nos que esta estrutura escavada na rocha devia ser parte dos alicerces de um armazém, talvez do século XV. Deixar isto aqui rouba-nos um metro e vinte à sala de formação…mas tinha de ser!», garante Álvaro Bila.

 

Estrutura antiga preservada no interior do edifício – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

O grande salão onde terão lugar as quatro Assembleias de Freguesia anuais, iluminado por grandes janelas, servirá também para «exposições, tertúlias e outras iniciativas».

Aspeto importante é que o pátio, com os seus vestígios arqueológicos à vista, mas preservados, bem como este grande salão polivalente e as casas de banho, têm uma entrada independente, o que significa que as exposições e outras iniciativas que aí vierem a ter lugar poderão estar abertas mesmo aos fins de semana, feriados ou nos horários em que a Junta está fechada.

Ressalvando sempre que a decisão sobre isso caberá à nova Junta, Álvaro Bila revelou que uma das primeiras exposições a ter ali lugar deverá ser organizada pelo Museu de Portimão, tendo como tema o espólio encontrado durante as escavações arqueológicas recentes em três novos edifícios do centro histórico: a própria Junta, o Edifício Mabor e o hostel.

Além de ser acessível, mesmo a utentes com mobilidade reduzida, o edifício garante todas as condições aos 14 funcionários que a Junta de Freguesia tem, nomeadamente um refeitório para o pessoal, moderno e bem equipado.

Por dentro, imperam as paredes brancas, a luz natural, que em certos locais até entra por grandes clarabóias abertas no telhado, as madeiras claras, a funcionalidade que não esqueceu a história do local. As portas e janelas são em madeira, mas com vidros duplos, aliando o tradicional às necessidades de conforto térmico atual.

A segurança também não foi esquecida: o edifício está preparado para resistir a sismos, graças à utilização de malha de fibra de carbono.

Na sexta-feira, enquanto se dava os últimos retoques na pintura e nas limpezas, os funcionários preparavam o grande átrio de entrada (onde, no futuro, funcionarão cinco postos de atendimento aos fregueses) para a tomada de posse dos novos órgãos autárquicos da Freguesia de Portimão. Hoje, às 17h00, o novo edifício será inaugurado e servirá de palco para a cerimónia.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 



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