Boliqueime tem «rua que parece uma avenida» em homenagem a Maria Aliete Galhoz

Maria Aliete Galhoz foi percursora nos estudos de Fernando Pessoa

Uma «rua que parece uma avenida, virada para o mar, o mar que ela que tanto amava». Boliqueime tem, desde a passada sexta-feira, 15 de Outubro, uma rua com o nome de Maria Aliete Galhoz, poetisa, investigadora e professora natural desta localidade do concelho de Loulé e que morreu em Setembro de 2020. 

Maria Aliete Galhoz foi uma figura incontornável da crítica literária, percursora nos estudos de Fernando Pessoa, e a Câmara de Loulé quis perpetuar o nome desta boliqueimense numa das principais artérias da sua aldeia natal.

Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, salientou a importância de «despertar e sensibilizar a comunidade escolar, nomeadamente os professores do Secundário, em Quarteira e Loulé, para que possam introduzir nas suas aulas a autora Maria Aliete Galhoz, os seus escritos, a crítica literária, a poesia».

«Acho que isso seria bonito e muito interessante porque precisamos de valorizar os nossos valores locais. A Maria Aliete Galhoz pertence a essa galeria de pessoas ilustres que o concelho de Loulé tem dado ao longo dos tempos ao país e ao mundo», disse.

A escritora Lídia Jorge, influenciada pela sua conterrânea como confessou por diversas vezes, associou-se a esta cerimónia para destacar, desde logo, a «cidadã exemplar, uma lutadora, sobretudo uma resistente pela liberdade e uma progressista que teve influência em imensas pessoas».

No campo dos estudos, Lídia Jorge realçou «o papel inestimável que teve no conhecimento da figura de Fernando Pessoa, quando ainda não se falava dele; sobretudo a partir dos anos 60 é ela que dá a porta para o reconhecimento imenso da ‘galáxia de Pessoa».

E também o seu trabalho de pesquisa no acervo da poesia e dos textos da literatura tradicional, tendo a seu lado a sua prima Idália Farinho, «que sempre reconheceu como sendo o seu braço direito».

José Sérgio Galhoz, filho da homenageada, falou do seu trabalho nas áreas da literatura, linguística, recolha etnográfica, prosa ou poesia, mas, a par da questão profissional, exaltou a sua principal qualidade enquanto ser humano: a humildade.

«A posição de prestígio que lhe é devida foi conseguida com trabalho árduo e incansável dedicação, não a empurrar outros para baixo para se elevar a ela mas antes subindo a pulso – como gostava de dizer – e dando a mão a tantos outros para subirem com ela. Mais do que a intelectualidade sublime ou a profundeza dos seus trabalhos, espero que seja este modo de vida, esta humildade, que venha a ser exemplo e a produzir frutos», considerou.

A esta homenagem juntou-se ainda a jornalista Maria Elisa Domingues, antiga aluna da homenageada no antigo Liceu Feminino Dona Filipa de Lencastre, em Lisboa, que, através de uma mensagem lida por Carlos Albino falou da importância que teve nos seus estudos.

«Maria Aliete Galhoz foi uma das pessoas que mais nos ajudou a tornar-nos cidadãs atentas, empenhadas, solidárias. Ensinou-me também o valor da liberdade. Com ela aprendi um excelente Francês e iniciou-me em vários escritores, além do Círculo Espartano do Neorealismo. Acima de tudo fez-me descobrir Pessoa», disse.

A rua Maria Aliete Galhoz localiza-se na continuação da Rua Dr. João Baptista Ramos Faísca, recentemente requalificada, e passa agora a integrar a toponímica da freguesia que mostra bem «os vários notáveis nesta humilde terra que têm levado o nome de Boliqueime por todo o mundo, uns por via das artes, da literatura, do ensino, da política, investigação, desporto, entre outras; somos uma terra bafejada pela sorte», considerou o presidente da Junta de Boliqueime Nélson Brazão.

Maria Aliete das Dores Galhoz nasceu em Boliqueime, em 1929, e viria a falecer em 2020. De destacar, o seu contributo para a valorização do património oral do concelho de Loulé, tendo publicado, entre outras obras, a “Memória Tradicional de Vale Judeu” (1996), “Memória Tradicional de Vale Judeu II” (1998) e “Romanceiro do Algarve” (2005).

Colaborou igualmente na edição de “Povo, Povo, Eu te pertenço” de Filipa Faísca em 2000, bem como num conjunto de volumes subordinados ao tema “Património Oral do Concelho de Loulé” em parceria com Idália Farinho Custódio e Isabel Cardigos.

Recebeu, a Medalha Municipal de Mérito – Grau Prata, em 1994, e foi Honoris Causa pela Universidade do Algarve.

Foi homenageada nesta quinta-feira, pela Casa Fernando Pessoa, no Congresso Científico sobre o poeta e que se realiza de quatro em quatro anos.



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