António Pina quer ajudar famílias de Olhão do lado da despesa, mas também da receita

Habitação acessível, a pensar nas famílias jovens, é a grande bandeira do executivo PS para os próximos quatro anos

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

As famílias e os desafios que enfrentam, quer ao nível da receita, como da despesa, vão estar no centro das políticas do recém empossado executivo camarário olhanense, disse ao Sul Informação António Pina, que começou ontem, dia 14,  já de noite, o seu terceiro e último mandato enquanto presidente da Câmara.

O socialista, que conseguiu uma vitória «histórica», uma vez que é a segunda vez consecutiva que vence a eleição «com uma maioria esmagadora, de 5 para 2 vereadores», aproveitou o seu discurso de investidura para agradecer à família, aos antigos companheiros de vereação, falar do futuro, mas, também, para deixar recados pouco simpáticos à oposição.

De resto, a cerimónia de tomada de posse dos eleitos para os órgãos autárquicos de Olhão foi marcada por uma clara crispação dos presidentes da Câmara e da AM para com a oposição, uma consequência da campanha eleitoral que, para já, se ficou por avisos à navegação.

Certo é que, na prática, o PS tem uma maioria bem confortável quer num, quer noutro órgão, que lhe permitirá governar sem sobressaltos.

Na Câmara, o PS, além do presidente António Pina, elegeu mais quatro vereadores: Elsa Parreira, Ricardo Calé, João Evaristo e Catarina do Poço. Os outros dois vereadores, Álvaro Viegas e Daniel Santana, foram eleitos pela coligação PSD/MPT/PPM/A.

Na Assembleia Municipal, os socialistas têm 11 eleitos, a que se juntam mais três presidentes de Junta, ou seja, 14 em 25 membros deste órgão. O PSD/MPT/PPM/A tem seis elementos, cinco eleitos diretamente e um presidente de Junta. O Chega tem dois deputados municipais e a CDU, BE e PAN têm um cada.

Aqui, há um dado curioso: Os dois eleitos do Chega a este órgão são o 4º e 5º elementos da lista, «tendo em conta as renúncias apresentadas nos dias 29 e 30 de Setembro pelos cidadãos elencados em 1º, 2º e 3º lugar na lista», segundo foi anunciado na sessão.

 

António Pina (PS) a tomar posse como presidente da Câmara Municipal

 

Ao Sul Informação, António Pina antecipou como pretende usar o poder conferido por estas maiorias.

«O objetivo é servir os olhanenses e as famílias. E, como tal, vamo-nos focar naquilo que é a economia familiar e, a partir daí, fazer a abordagem de como podemos ajudar as famílias», explicou o presidente da Câmara de Olhão.

Do lado da receita, «o que temos de fazer é aumentar o nível de oferta de emprego, para que seja não só em maior quantidade, mas, acima de tudo, mais bem pago».

A Câmara vai «apostar forte em criar mais espaços para que as empresas possam crescer e instalar-se. Ao mesmo tempo, vamos preparar  complexos para empresas ligadas à inovação e à tecnologia, seja na área do mar, seja no setor do digital e da informática, para as atrair».

Por outro lado, há o turismo.

Para o presidente da Câmara, Olhão ainda tem «turismo a menos», apesar de haver vozes que criticam o crescimento deste setor.

«Essa é mais uma das narrativas erradas que são feitas por alguma oposição. É óbvio que Olhão, que não tinha turismo nenhum, sente alguns efeitos menos bom, há sempre uma pressão maior».

«Mas este setor trouxe muita empregabilidade e produziu riqueza. Daí termos passado do 2º concelho do Algarve com maior taxa de desemprego, em 2013, para o 2º município com maior percentagem de pessoas empregadas, em 2019», disse.

Investir no turismo e no setor tecnológico não significa que se deixará de «apostar naquilo que são as atividades tradicionais, nomeadamente ao desenvolvimento da aquacultura, das pescas, da indústria, da agricultura e da floricultura».

 

 

Do lado da despesa, «a maior que as famílias têm é a com a habitação. É um drama do país, das grandes cidades, principalmente no litoral».

«Vamos intensificar a oferta de habitação acessível, seja para arrendamento, seja para compra, como os 54 fogos que já estamos a fazer e em que um T2 ronda os 110 mil euros, que é um valor ao alcance de quase todas as famílias, desde que ambos trabalhem», antecipou.

Em causa está «uma renda de 350 euros por mês, o que, no caso de serem duas pessoas a receber o ordenado mínimo, é cerca de 25% do orçamento familiar».

A construção de habitação acessível, que, na prática, são casas a custos controlados, mas não de habitação social – que não está nos planos de António Pina, além dos projetos já em curso – será «a grande bandeira» deste mandato.

«Temos já contratualizado um empréstimo para a compra da antiga litografia, que mais recentemente foi a Alicoop. É um financiamento de quase 30 milhões para construir quase 300 fogos», revelou.

Outra grande despesa das famílias, nomeadamente das mais jovens, é com os filhos. «É mais caro ter um filho nos primeiros três ou quatro anos de vida do que tê-lo na universidade».

«Aqui, queremos, antes de tudo, completar a oferta pública de infantário, a partir dos três anos, nas escolas públicas, que é da responsabilidade direta do município. Estão já projetadas mais seis salas, com financiamento garantido, com as quais poderemos dar resposta a 100%», prometeu.

Ao nível das creches, para crianças dos zero aos 3, «ainda há uma grande lacuna e a oferta é muito cara».

«Queremos trabalhar com as IPSS no sentido de aproveitar os fundos europeus que aí vêm, para aumentar o número de salas. Mas, para além disso, é preciso ajudar a financiar», considerou António Pina.

 

António Cabrita depois de reeleito presidente da Assembleia Municipal de Olhão

 

Outra forma encontrada pela Câmara para ajudar as famílias é através do financiamento de passes.

«O investimento que já fizemos vai permitir que todos os cidadãos que se desloquem no sistema rodoviário dentro do concelho não paguem mais do que 13 euros mensais, aproveitando tudo o que seja a nossa rede municipal, mas também as carreiras intermunicipais, desde que em deslocações dentro do concelho».

Depois, «é continuar a tomar conta deste grande condomínio, proporcionando mais espaços de fruição, continuando com a reabilitação de mais uma avenida da frente ribeirinha, junto ao Porto de Pesca, de uma intervenção na Fuzeta semelhante à que fizemos em Olhão e as pavimentações, um trabalho que é sempre necessário e que vai começar já amanhã [hoje]. Espero é que as pessoas, depois, tenham boa memória e não digam que é só quando há eleições (risos)».

Olhão irá, igualmente, apostar na «parte desportiva e da cultura».

«A aposta no desporto é importante, não só pela questão física, mas também pela mental. Por outro lado, é uma forma de contribuir contra o isolamento dos nossos jovens, devido aos chamamentos das redes sociais. É preciso tirá-los de casa», acredita António Pina.

Também a cultura pode ajudar, neste último aspecto. «Este foi um setor que sofreu muito, com a pandemia. Tudo parou e agora é preciso dar um estímulo grande, quer seja para as produções financiadas pela autarquia, quer seja a produção cultural local».

Após a tomada de posse dos órgãos municipais de Olhão para o próximo quadriénio, teve lugar a primeira reunião da Assembleia Municipal, onde a única lista candidata à mesa, composta por António Cabrita (presidente), Alberto Dias Mestre (1º secretário) e Isilda Moreno (2ª secretária), todos eleitos pelo PS, foi eleita com 17 votos “sim”, um voto “não” e sete em branco.

António Cabrita, após ser reeleito presidente da AM, avisou que não iria permitir «ataques pessoais» nem intervenções «de promoção política própria», prometendo, ao mesmo tempo, que iria «respeitar os direitos da oposição, mesmo estando esta em minoria».

 

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 



Comentários

pub