Ansiedade de conhecer a secretária de Estado à mistura com o receio de perder «rebuçado»

Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, visitou nos últimos dias várias instituições de apoiam população deficiente no Algarve

Dona Susana a cumprimentar Ana Sofia Antunes – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Carina Kaupe aguarda «com ansiedade» o momento de conhecer Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, de visita à Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC) de Faro. Quer contar-lhe como ter uma assistente pessoal «mudou a minha vida em muitos sentidos», um «rebuçado» que poderá estar perto de lhe ser retirado.

Já em Tavira, a Dona Susana, bastante curiosa e sem “papas na língua”, faz questão de, sentada numa cadeira de rodas, acompanhar de perto a ida da responsável às instalações da Fundação Irene Rolo, uma das várias visitas que tiveram lugar nos últimos dias a instituições do Algarve.

Ultimam-se os preparativos na APPC de Faro para receber a governante. Começam então a chegar alguns dos jovens apoiados pelo Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI), um projeto-piloto que surgiu em Fevereiro de 2019 e que já conta com 900 beneficiários em 35 centros de norte a sul do país, dos quais faz parte o da capital algarvia.

O CAVI é «uma estrutura de apoio à vida independente» com o intuito de «promover assistência pessoal às pessoas com deficiência ou incapacidade que, devido às suas limitações, não consigam fazer as coisas por si próprias», começa por explicar Andreia Félix, diretora técnica.

Em Faro, o centro «conta com 20 beneficiários deste apoio, sendo que a maior parte tem alterações neuromusculoesqueléticas. Existem outros utentes com limitações em termos das funções cognitivas e motoras».

O assistente pessoal, escolhido por cada beneficiário, é «um serviço especializado», um profissional que, de certa forma, «vai colmatar as necessidades da pessoa», acrescenta a diretora técnica.

 

Convívio na APPC Faro – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Carina Kaupe é uma das beneficiárias deste apoio, tendo aderido ao projeto em Maio de 2019. Aguarda, «com ansiedade», a chegada de Ana Sofia Antunes, pois «era importante para ela vir conhecer a secretária de Estado», revela aos jornalistas Isabel Van Der Kelen, assistente pessoal da jovem.

Já licenciada em Psicologia aquando da entrada no projeto, Carina Kaupe conta como «isto mudou a minha vida em muitos sentidos e trouxe-me muitas coisas boas: mais autonomia, liberdade, independência e a oportunidade de estudar [mestrado] de forma mais acompanhada e desafogada, libertando um pouco os meus pais».

Para além de conseguir prosseguir nos estudos, a jovem realça que «este projeto também me trouxe a oportunidade de desenvolver atividades de lazer» que antigamente não fazia pois «os meus pais sempre trabalharam e nunca tiveram tempo para fazer o que eu quisesse».

 

Carina Kaupe e a sua assistente pessoal Isabel Van Der Kelen – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Para Carina, a questão que lhe provoca maior ansiedade é saber que faltam poucos meses para terminar o prazo deste projeto. Estando prestes a entrar no mundo laboral, este facto ainda se torna numa maior preocupação.

«Falo com a Isabel sobre esta questão e digo muitas vezes que isto é como se tivessem dado um rebuçado a uma criança e agora o tirassem de repente», exclama.

O possível fim deste projeto é também uma preocupação para Isabel Van Der Kelen, assistente pessoal de Carina: «um dos desafios é lidar com a ansiedade do beneficiário ao saber que o apoio poderá acabar». Mas Isabel não perde a esperança e afirma que «há de haver uma solução, uma resposta social».

Para Isabel, ser assistente pessoal «é bastante compensador». «Não é só a parte monetária e trabalhar para cumprir horário. É fazer a diferença e sentir que a pessoa fica beneficiada», assegura.

«Quando a Carina fez o mestrado e conseguiu completar aquela fase, senti-me orgulhosa porque consegui fazer a diferença», recorda.

Já a nível pessoal, este “emprego” «realiza-me, pois estou a contribuir para melhorar a vida de outra pessoa que é completamente capaz, mas apenas está limitada e não consegue completar certas atividades que lhe dariam prazer e que a fariam viver plenamente», salienta Isabel Van Der Kelen.

 

Graciete Campos e Ana Sofia Antunes – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

À margem da visita ao APPC em Faro, que decorreu na tarde desta quinta-feira, 7 de Outubro, Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, assegurou aos jornalistas que o Governo «fez um prolongamento de seis meses a estes projetos» como é o caso do CAVI, ou seja, para além de Janeiro de 2022, a fim de «garantir a transição com tranquilidade para o novo quadro comunitário».

Assim, as instituições «puderam candidatar-se a mais verba para assegurar esse período» e podem agora formalizar candidaturas para obterem «mais dinheiro para dar continuidade ao projeto que, por enquanto, ainda vai ser piloto».

«O nosso objetivo é que todas as pessoas que queiram, que entendam que esta é a resposta mais adequada à sua situação, possam recorrer a este apoio. Estamos a chegar a 900 pessoas mas sabemos que não estamos a chegar a todas», realça a secretária de Estado.

Até ao final do presente mandato do Governo, em 2023, Ana Sofia Antunes espera ter «um modelo definitivo, legislado e aprovado», transformando este projeto-piloto «numa resposta permanente da Segurança Social».

O Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI) é também um desafio ambicionado pela Fundação Irene Rolo, em Tavira, instituição que também recebeu, na manhã desta sexta-feira, 8 de Outubro, a visita da secretária de Estado.

Fazendo questão de falar com toda a gente, a visita às instalações foi acompanhada de perto pela Dona Susana, uma das utentes deste espaço que quis conhecer a secretária de Estado, cumprimentá-la e assistir a tudo sentada na sua cadeira de rodas, auxiliada por funcionários.

 

Visita às instalações da Fundação Irene Rolo, em Tavira – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

A Fundação Irene Rolo tem como missão «apoiar a população com deficiência e outros públicos vulneráveis no âmbito da prevenção, da reabilitação e do acolhimento na cidade de Tavira», começa por dizer Carla Pires, diretora de serviços, em declarações ao Sul Informação.

Com seis valências destinadas a pessoas com deficiência, a instituição vê a visita da governante com bons olhos, já que «é importante o poder central chegar à base, àquilo que são os trabalhos das IPSS» e ver «quais são as nossas dificuldades, como desenvolvemos o nosso trabalho e quais as nossas reais necessidades».

Por cada sala percorrida durante a visita, quem está em atividades cumprimenta a secretária de Estado de sorriso na cara. Estejam de pincel e tintas nas mãos, a fazer estampagem de artigos, ou a fazer tapetes e esculturas, os utentes da Fundação Irene Rolo param o seu trabalho para mostrar os seus mais recentes trabalhos à governante.

Com a pandemia, as dificuldades da instituição têm a ver sobretudo com a situação financeira, que «é algo que nos preocupa, mas que vamos tentando colmatar e gerir. É algo complicando, pois houve financiamentos que não vieram em tempo oportuno, o que nos trouxe alguns problemas em termos de tesouraria».

Quanto ao futuro, a diretora técnica da IPSS de Tavira realça que «temos de levar a bom porto aquilo que é a nossa missão, estarmos atentos à comunidade, às necessidades, tentando responder dentro daquilo que nos for possível, sempre».

A secretária de Estado Ana Sofia Antunes visitou ainda outras instituições algarvias durante estes dois dias, como a AAPACDM – Associação Algarvia de Pais e Amigos de Crianças Diminuídas Mentais, em Faro, e o NECI – Núcleo Especializado para o Cidadão Incluso, em Lagos.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 

 



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