AAA, a associação que Apoia a Arqueologia no Algarve

Associação Arqueológica do Algarve apoio projetos arqueológicos no Castelo de Alferce, Esgravatadouro e Cerro do Oiro

Humberto Veríssimo, Jenny Compton, Fábio Capela, Michele Carron e António Faustino Carvalho – Foto: Nuno Costa|Sul Informação

Chama-se Associação Arqueológica do Algarve (AAA), mas os seus membros vieram dos quatro cantos do mundo. Fundada em 1983, esta associação, desconhecida de muitos algarvios, tem desempenhado um importante papel no apoio à arqueologia na região, inclusivamente no financiamento de escavações. Os trabalhos arqueológicos no Castelo de Alferce, em Monchique, são apenas mais um exemplo.

Atualmente com cerca de 100 membros, a AAA é composta, na grande maioria, por estrangeiros que escolheram o Algarve para viver. Jenny Compton, a atual presidente, em conversa com o Sul Informação, lembra que «quando a associação nasceu, nos anos 80, havia muito pouco para os estrangeiros residentes fazerem aqui e foi isso que motivou a criação».

 

Jenny Compton – Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

Esse grupo de “pioneiros” «interessou-se pelo local onde vivia, pela história do Algarve, e sabia que certamente haveria sítios arqueológicos aqui. Aprender e investigar a história do Algarve foram os objetivos da criação da associação».

Jenny Compton diz que, com o passar dos anos, o perfil dos membros da associação mudou um pouco, porque, «nos últimos 20 anos, com as viagens mais fáceis, temos já muitos membros que não vivem cá sempre. Há pessoas que não estão cá no Verão e vêm no Inverno».

Também «os portugueses agora falam mais inglês e começaram a comparecer nas nossas palestras», realça.

 

Visita da AAA às escavações no Castelo de Alferce – Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

As palestras que, normalmente, são em inglês, realizam-se em dois pontos do Algarve (Lagoa e São Brás de Alportel), «para chegarem a toda a gente, porque temos membros de toda a região», prossegue a presidente da AAA.

Para estas palestras, são convidados arqueólogos que apresentam os resultados das suas escavações, muitas delas financiadas pela Associação Arqueológica do Algarve.

Aliás, esse papel de mecenas de projetos arqueológicos é uma das facetas invisíveis da AAA, mas que é preponderante para quem trabalha na área da arqueologia no Algarve.

António Faustino Carvalho, arqueólogo e professor da Universidade do Algarve, explica, em conversa com o nosso jornal, que a academia algarvia e a Associação Arqueológica do Algarve têm colaborado «em várias circunstâncias», sendo que o apoio às escavações arqueológicas no Cerro do Oiro, no Esgravatadouro e no Castelo de Alferce, em Monchique, é uma das situações mais recentes.

 

António Faustino Carvalho – Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

A associação, explica António Faustino Carvalho, «deu um apoio direto para estes dois projetos e isso foi muito bom para o Município, que ficou aliviado de custear algumas tarefas, e também para o projeto, que correu bem».

Além disso, prossegue, «tem havido um apoio sistemático aos nossos alunos, que estão a fazer teses de licenciatura, de mestrado, ou até de doutoramento. Por vezes, os estudantes precisam de ajudas financeiras pontuais para trabalhos de campo ou análises laboratoriais. Então, submetem esse pedido à associação e esta faz uma avaliação dos projetos mais interessantes e atribui o apoio. Eu acho isto notável».

António Faustino Carvalho explica ainda que «a única coisa que eles pedem em contrapartida é que, depois do trabalho concluído, seja feita uma apresentação, para os membros da associação, dos resultados obtidos e acabam por ter uma tarde de entretenimento sobre questões patrimoniais e arqueológicas».

Mas os membros da Associação Arqueológica do Algarve também vão ao terreno, em saídas como aquela o Sul Informação acompanhou, no final de Agosto. O Castelo de Alferce e o Esgravatadouro foram os locais visitados desta vez. Estas verdadeiras visitas de estudo «permitem um contacto direto com a investigação científica».

 

Fábio Capela, arqueólogo da Câmara de Monchique, revela as descobertas nas escavações aos membros da AAA – Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

Jenny Compton salienta que «a escavação no Alferce foi a que conhecemos primeiro, vimos na imprensa. Então viemos visitar. Perguntámos ao Fábio Capela [arqueólogo municipal de Monchique] sobre o futuro das escavações e ele contou a história. Disse que a Câmara ia comprar o terreno. Então nós perguntámos como iam financiar os trabalhos e ele respondeu que a autarquia ia ajudar e que haveria voluntários. Então, nós dissemos que também podiam candidatar-se a um financiamento nosso. Tudo isto ainda antes da Covid-19».

O arqueólogo Fábio Capela até estranhou quando Jenny Compton lhe disse que havia disponibilidade financeira para ajudar nas escavações do Castelo de Alferce porque, «quando a esmola é muita, o pobre desconfia. Foi ela que explicou que apoiavam projetos arqueológicos. No entanto, sendo este um projeto da Câmara, não podiam apoiar diretamente. Podiam, sim, apoiar os voluntários, os alunos da universidade».

Foi isso que aconteceu e, «como já estava um outro projeto em vigor, liderado pelo professor António Faustino, fizemos os cálculos dos custos previstos com os voluntários que temos cá e pedimos um apoio só para alimentação desses alunos. Foi aprovado numa hora», conclui Fábio Capela.

 

 



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