Em São Brás de Alportel, à descoberta de um património feito «de bons ares»

Ciclo de visitas é organizado pelo Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA)

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Iva Froita ia olhando para o antigo Sanatório Carlos Vasconcelos Porto, em São Brás de Alportel, enquanto recordava a sua infância. Filha de uma funcionária, conta como os dias eram passados ali, com «uma liberdade fantástica». Os anos passaram, mas as memórias não desapareceram e Iva foi uma das pessoas que, este sábado, 25 de Setembro, participaram na visita que deu a conhecer o património daquele concelho na área da saúde.

A escolha de São Brás de Alportel, como pontapé de saída deste ciclo de visitas, organizado pelo Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), não foi inocente.

Apesar de ser um concelho relativamente recente (criado em 1914), tem a particularidade de ter muito para contar na área da saúde.

A culpa pode bem ser dos «bons ares» da serra que, em 1918, levaram a que ali fosse instalado um sanatório para tratar ferroviários assolados pela grande doença da época: a tuberculose.

Foi lá que, na manhã deste sábado, começou a visita, organizada pelo CHUA, e que teve como cicerones Cristina Fé Santos, investigadora, o arquiteto Vítor Ribeiro e Emanuel Sancho, diretor do Museu do Traje.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

No antigo Sanatório Carlos Vasconcelos Porto, que encerrou em 1991 e hoje é o Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, a cura quase não tinha medicamentos, que eram administrados só nos casos mais graves.

«Ali em cima, ainda podemos ver as famosas galerias de cura, onde se colocavam os doentes a descansar e a apanhar sol. A receita aqui era boa alimentação, descanso e os bons ares», explicou Cristina Fé Santos.

No Espaço Memória, que foi criado em salas do antigo Sanatório, ainda é possível viajar por esses tempos.

Em três salas diferentes, há as loiças que eram usadas, a recriação de um quarto, as roupas, carimbos, material médico e até máquinas, como um autoclave elétrico que era usado para esterilizações.

Quando soube que ia acontecer esta visita, Iva Froita sentiu que não podia faltar.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Inscrevi-me logo. Este local representa toda a minha infância. Até aos 9 anos, todos os dias vinha para cá!», contou ao Sul Informação. Com a mãe a trabalhar na lavandaria, era ali que «fazia os trabalhos de casa, brincava e até dormia sestas».

Mas, em São Brás de Alportel, o património ligado à saúde não se resume ao Sanatório Carlos Vasconcelos Porto, que, por si só, granjeou fama nacional.

Além de projetos do arquiteto Carlos Ramos para construir um hospital – que nunca foi concluído -, houve a edificação do Hospital José Lourenço Viegas, em 1966, que é o atual centro de saúde, e ainda ideias, nunca concretizadas, para fazer uma nova infraestrutura ao lado do Sanatório Carlos Vasconcelos Porto.

Para Cristina Fé Santos, «é interessante ver como, num concelho pequeno, se gerou a vontade de construir tantos edifícios».

E a que se deve isso?

«Há muito por responder ainda, mas penso que o clima – a questão dos bons ares, que até foi evidenciada pelo famoso doutor Sousa Martins – foi preponderante. A isto juntou-se, depois, a vontade das pessoas de terem serviços que dessem resposta às suas necessidades», enquadrou a investigadora.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Com um concelho com tanto por contar na área da saúde, o Museu do Traje, onde terminou esta visita, tem-se tornado um guardião do muito espólio que tem sido doado.

O diretor Emanuel Sancho não tem dúvidas de que «o acervo de cerca de 3000 peças que temos é único no contexto do Algarve».

«Temos vindo a integrar doações de antigas farmácias, curandeiros da terra, médicos. Recentemente, conseguimos todo este acervo que estava empacotado, espalhado por vários espaços do museu. Agora, segue-se uma fase de alguma investigação», contou.

Desse espólio faz parte, por exemplo, material médico (como tesouras ou bisturis), seringas, loiças ou um antigo medidor de tensão.

«Além de estar a nascer a ideia de que, no século XX, não houve outro concelho algarvio que tenha pensado tanto a área da saúde, este é um acervo importantíssimo para a região!», acrescentou Emanuel Sancho, em declarações ao Sul Informação. 

Dar a conhecer o rico património ligado à saúde, que existe no Algarve, é mesmo o objetivo deste ciclo de visitas que, em Outubro, rumará ao Centro de Experimentação Agrária de Tavira.

Até porque «há sempre mais e mais por descobrir».

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

 

 



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