Pescar e comer menos, mas com qualidade. Menos é mais! Diversifique e recuse!

O consumo sustentável do pescado e a conservação dos oceanos podem coexistir. Os oceanos podem alimentar o pais e apoiar as economias e tradições das comunidades pesqueiras

Barcos de pesca no portinho da Arrifana, Costa Vicentina – Foto: Tereza Fonseca

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas é constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

O ODS12 tem por objetivo garantir padrões de produção e consumo sustentável até 2030, ou seja fazer mais e melhor com menos, aumentando a eficiência do uso dos recursos e promovendo estilos de vida sustentáveis.

Nas águas costeiras de Portugal, captura-se um número elevado de espécies. Além das populares, carapau, sardinha, polvo, este setor descarrega espécies menos conhecidas como o rascasso, tremelga, tainha-do-mar, mucharra, robalo, ferreira, peixe-porco, rodovalho, faneca, bica, baila, xaputa, charroco, entre outras.

As boas práticas na pesca, incluindo uma gestão responsável, são essenciais para gerir os recursos pesqueiros e garantir o equilíbrio ecológico dos ecossistemas marinhos (ODS14).

 

Recomendações para um consumo sustentável e responsável. Enquanto consumidores, as nossas escolhas importam. Sempre que comprar peixe, ou consumir pescado:

>>Apoie a produção local. Recorra às cadeias curtas e mercados locais de proximidade. Ajude a diminuir a distância entre o produtor e o consumidor, seguindo a campanha do Governo, “Alimenta quem o Alimente”. Se vive no Sotavento algarvio, encomende um cabaz FrescoMar da Fuzeta.

>>Quando for às compras, esteja atento ao Comprovativo de Compra em Lota (CCL) emitido pela Docapesca, presente em muitas bancas de mercado, peixarias e supermercado. A etiqueta CCL permite diferenciar o pescado capturado na nossa costa, por embarcações nacionais, desembarcado nas lotas portuguesas, fornecendo informação de valor acrescentado ao consumidor final.

>>Informe-se. Fale com o(a) pescador(a) ou o(a) peixeiro(a) e estabeleça uma relação de confiança. Pergunte o que recomenda, como deve ser consumido um peixe menos conhecido, peça uma receita. Quando for ao restaurante, antes de encomendar faça perguntas, questione a proveniência e o método de captura do pescado (se achar que a resposta não é aceitável, RECUSE).

Imagem adaptada do site da DGRM

 

 

Em termos de espécies:

>>Respeite os Tamanhos Mínimos de Referência de Conservação. Sabe que não deve comer polvo abaixo dos 750 gr, ou o carapau abaixo de 15 cm, sardinha 11 cm?

>>Identifique a espécie. Verifique se a espécie está bem identificada; caso tenha dúvidas, recuse. Sabe a diferença entre a sarda e a cavala? (Não sabe, ah pois é…!)

>>Informe-se sobre o estado do recurso pesqueiro (stock). Um stock em bom estado assegura a disponibilidade de recursos para as gerações futuras. Confirme que os limites de captura não foram ultrapassados. Recuse comer espécies proibidas ou ameaçadas, tais como lixas, carocho e cação torto. Respeite as épocas de defeso.

>>Escolha espécies alternativas, menos conhecidas e/ou de pequena dimensão, por exemplo a cavala. Reduza o consumo de pescado tradicional e diversifique.
Para mais informações sobre espécies exploradas pela pesca e a sua sustentabilidade, ver site da DGRM.

>>Método de captura. Escolha espécies capturadas por artes de pesca seletivas, caracterizadas por quantidades mínimas de capturas indesejadas e portanto por um baixo impacto no ecossistema. O palangre e as armadilhas de pesca são alguns exemplos dessa arte.

Como é que menos é mais? Em caso de sobrepesca, ao diminuir a pesca dum stock poderá atingir o Rendimento Máximo Sustentável (ODS14). Conservando o pescado, aproveitando espécies menos conhecidas, pode permitir a diminuição da pressão na pesca, aumentando a sua eficiência e os seus benefícios económicos.

Melhorar o aproveitamento das capturas também permite combater o desperdício (e perdas) alimentar e aumentar a justiça social, ou seja, haver rendimentos mais justos para os pescadores (ODS8).

Não é preciso esperar até 2030, nem deixar para as crianças essa responsabilidade. Garanta já que tem a informação relevante para ter um estilo de vida sustentável, mais em harmonia com a natureza e o planeta. Conheça e valorize os recursos marinhos.

O consumo de produtos do mar tem tradição no Algarve e em Portugal, e queremos que continue assim! A nossa consciência enquanto consumidores contribui para apoiar um pescador, uma pescaria, uma comunidade e uma região num desenvolvimento e prosperidade mais sustentáveis.

 

Autora: Tereza Pilar Fonseca é bióloga marinha, membro da Glocal Faro, colaboradora do CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar) e foi bolseira de pós-doutoramento do Projeto LESSisMORE (Menos rejeições e MENOR esforço de pesca por MAIOR eficiência na pequena pesca) na Universidade de Aveiro.

 

 



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