«O mais importante foi salvo: a minha casinha»

Incêndio foi dado como dominado, mas continuam no terreno muitos operacionais e viaturas

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Ontem, houve «terror, medo e preocupação», mas hoje a esperança já é «de uma noite descansada» e mais calma. Depois de o fogo ter andado perto de habitações, na Pereira (Portimão) e na Folga (Monchique), os habitantes fazem agora conta aos estragos, na sua grande parte agrícolas. Para a dona Deonilde, o mais importante foi salvo: «a minha casinha».

O incêndio foi dado como dominado logo ao início da manhã de hoje, dia 18. Às 7h15, a Proteção Civil anunciou-o oficialmente, mas as memórias de uma tarde e noite de medo ainda estavam bem vivas este domingo, até porque os meios continuam no local para as operações de rescaldo.

Maria Ventura Gonçalves é a proprietária de um café na Pereira, em Portimão, aldeia de onde tiveram de ser retiradas de casa várias pessoas, bem como idosos de um lar que funciona sem licença.

Hoje, um dos principais temas de conversa às mesas do seu café é o incêndio que deflagrou ontem no Tojeiro (Marmelete, concelho de Monchique), mas rapidamente se alastrou ao município de Portimão.

 

Maria Ventura Gonçalves – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Há muita gente a falar disso, sim. Posso-lhe dizer que, ontem, fechei o café às 14h00, fui às compras e depois a minha filha é que me ligou a dizer que havia um fogo», conta à reportagem do Sul Informação.

À porta do seu estabelecimento, Maria Ventura Gonçalves relata que a noite «foi difícil», apesar de ter sido alcançado aquilo que mais desejava: «não nos ardeu nada de relevante. Só uns canos de água», diz, apontando para um dos seus terrenos, do outro lado da estrada.

Pior sorte teve o senhor António Manuel. Junto a sua casa, este apicultor ainda vai fazendo contas aos estragos, onde se contabilizam carros, dois contentores, uma grua e alças de mel.

«Foram horas terríveis. Uma noite sem dormir», diz, junto aos destroços, e com tristeza no olhar.

Na tarde de ontem, António Manuel estava «na zona da Abicada, a tirar mel», quando começou a ver o fumo. «Vim logo para cá e ainda não estavam aqui as chamas. Depois, é que se começaram a aproximar», conta.

 

Os estragos nos carros do senhor António Manuel – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Agarrou numa mangueira e começou a combater o fogo, apesar das dificuldades.

«Foi complicado: se salvava a casa, não combatia o fogo nos contentores», diz. No final, a casa foi mesmo salva, mas os contentores acabaram por arder.

Só nas alças de mel, o senhor António estima um prejuízo de «30 mil euros». Mais tudo o resto.

Nestes dias, o objetivo «é meter as mãos à obra e limpar isto», confessa, lembrando que, em 2003, o fogo também por ali andou, mas desta vez, em termos de estragos pessoas, «foi pior».

João Rosendo, proprietário de um terreno de medronheiros com 26 hectares, também não esconde um olhar de tristeza. «Deste incêndio fica o prejuízo de ver tudo a arder e nós imponentes sem poder fazer nada», diz ao Sul Informação.

Residente em Portimão, João Rosendo foi logo para o seu terreno mal soube do incêndio. «Foi tudo muito rápido: de repente, o fogo limpou isto tudo», lamenta. O prejuízo que teve é de, pelo menos, 300 mil euros: «perdemos tudo», diz.

À beira da estrada, Deonilde Correia e o marido Ilídio olham para os seus terrenos e para a sua casa: ao lado, está tudo queimado, mas «a nossa parte está quase toda verdinha», exclama a dona Deonilde.

A tarde e a noite foram de «muita preocupação», confessa o senhor Ilídio. «Nem imagina a aflição. Ainda nem tinha almoçado, comecei a ver o fumo e ficámos logo em sobressalto», conta.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Com a ajuda do genro, combateram o fogo, até porque tinham uma preocupação: «uma adega com destilaria».

As chamas fizeram lembrar 2003, confessa Deonilde Correia, mas, na altura, «ainda foi mais medonho».

«Olhe, nós passámos a noite em casa, mas sempre de prevenção.  A minha mulher levantou-se às 3h30, eu passado pouco tempo também vim ver como estava tudo. Foi uma noite de preocupação», conta Ilídio.

Deonilde ouve o marido, acena com a cabeça, mas logo acrescenta: «é verdade, mas o mais importante conseguimos manter – a nossa casinha».

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

 

 

 



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