A equipa de elite do Hospital de Portimão que trata os doentes por tu

Unidade de Hospitalização Domiciliária do Hospital de Portimão foi criada em Maio deste ano

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

O enfermeiro Humberto Ferreira e o médico Nuno Vieira tocam à campainha e logo aparece Martine Darbyshire, que lhes abre a porta da sua casa na Vila Senhora da Rocha, em Lagoa, com um sorriso que nem a máscara esconde. «Entrem, entrem, sejam bem-vindos!», exclama, em inglês. Senta-se no sofá, explica como as dores «abrandaram» e confessa: «devo-lhes muito porque nunca pensei ficar tão bem como estou agora». 

Martine, 67 anos, é inglesa, mas mudou-se para o Algarve há três anos: «um autêntico paraíso», como gosta de dizer.

Foi na região que escolheu para passar a reforma que esta inglesa apanhou um valente susto há alguns meses: uma queda provocou-lhe a fratura de um ombro.

Deu entrada no Hospital de Portimão, foi operada, mas a verdade é que continua a necessitar de apoio médico.

Agora, Martine, que foi enfermeira no Reino Unido, é uma das cinco pessoas – escolhidas de acordo com um conjunto de critérios clínicos, sociais e geográficos – que são seguidas pela Unidade de Hospitalização Domiciliária do Hospital de Portimão, um serviço criado em Maio deste ano e que vai a casa dos doentes tratar deles.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Eu só posso agradecer a maneira como sou tratada. Este apoio, este cuidado: eles são fantásticos», diz, enquanto o enfermeiro Humberto lhe vai avaliando o estado do ombro.

Ao seu lado, está Nuno Vieira, médico e coordenador deste serviço do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA).

«Podemos ver a grande diferença que há aqui: a maior atenção dada ao doente. Nós, num ambiente hospitalar, numa enfermaria, cada médico, cada enfermeiro tem vários doentes a seu cargo. Neste caso, as pessoas têm um tempo dedicado a si exclusivamente e acabam por sentir isso», explica.

Atualmente, a Unidade de Hospitalização Domiciliária conta com cinco médicos – um por semana – e outros tantos enfermeiros, esses a trabalhar em exclusivo.

Depois, há também os serviços de apoio, com uma farmacêutica, uma nutricionista e uma assistente social «que são as que nos dão mais apoio, embora haja depois outros consultores da parte médica, seja de ortopedia ou cirurgia».

Todos os dias, a equipa da Unidade de Hospitalização Domiciliária visita os doentes que tem a seu encargo. «De segunda a segunda, sem parar. Somos uma equipa de elite», comenta, entre risos, o enfermeiro Hélder.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Martine é o exemplo de um serviço que trata os doentes de forma diferenciada, como explica o coordenador Nuno Vieira.

«Nós aqui conhecemos o ambiente em que a pessoa está, a família, percebemos os recursos que a pessoa tem, podemos ver qual é a medicação que faz normalmente. Dessa forma, conseguimos preparar de uma forma mais eficiente a própria alta», diz.

Mesmo a nível internacional, esta é uma prática que é descrita como uma «mais valia, principalmente na prevenção das complicações que estão associadas ao internamento. Os internamentos hospitalares acabam por trazer muitas complicações, sejam as infeções hospitalares, complicações com a medicação. Aqui, a pessoa está na sua casa».

Que o diga Martine que, todos os dias, recebe na sua casa os enfermeiros e médicos da Unidade de Hospitalização Domiciliária e cujos cuidados já são conhecidos além-fronteiras.

«Nas chamadas e videochamadas que faço com a minha família e amigos, costumo relatar sempre o quão bem sou tratada e eles dizem: olha que nós não temos nada disso cá!», conta entre risos.

Alexandra Ferreira é outra das enfermeiras que costuma visitar os doentes e confessa como, mesmo para os profissionais, este tipo de cuidados é desafiante.

«Isto tem outros ganhos para o doente e é uma experiência também para nós. Chegar ao local, perceber, termos esta perícia e esta capacidade de como chegar às necessidades, o que nem sempre é explícito. Os profissionais têm que fazer a diferença”, diz.

Desde que foi criada, a Unidade de Hospitalização Domiciliária do Hospital de Portimão já fez 286 visitas e deu alta a 18 doentes. Em Faro, os números são maiores, mas o serviço também já existe desde 2019: além de tratar, atualmente, de 10 pessoas, já admitiu cerca de 300 doentes, no total.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

No polo de Portimão, o objetivo também é crescer, até porque, acredita Nuno Vieira, o futuro passa por este tipo de cuidados.

«É uma oportunidade de diversificar a oferta. Vendo bem, desde que seja garantido o suporte adequado em casa e que as patologias não sejam demasiado complexas e instáveis, é perfeitamente seguro ter este tipo de doente em casa. A quantidade de doentes que vão começando a poder ficar nesta tipologia vai aumentando, porque as pessoas vão-se sentido mais à vontade, os próprios doentes e familiares começam a conhecer o conceito e até são eles próprios que começarão a solicitar», perspetiva o médico.

Até agora, o feedback recebido não podia ser melhor, com uma percentagem de 95 a 98% de satisfação, por parte de doentes como Martine Darbyshire que, quando a visita do enfermeiro Humberto e do médico Nuno se aproxima do fim, faz questão de se levantar do sofá para novamente agradecer.

Acompanha-os à porta e despede-se até à próxima visita desta “equipa de elite” que trata os doentes por tu.

«See you soon!».

 

 

 



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