Setor das pescas pode ficar a ganhar se Acordo de Paris for cumprido

Segundo um estudo realizado por investigadores do CCMAR e da Universidade do Algarve

Imagem de Arquivo

O cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris, que visa limitar futuras alterações climáticas, «será benéfico para a pesca comercial, uma vez que permite minimizar eventuais alterações na distribuição de espécies de peixes demersais», entre os quais o robalo, o linguado, a pescada e o bacalhau, conclui um estudo feito no Algarve.

Investigadores do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR) e da Universidade do Algarve (UAlg) juntaram-se para realizar o primeiro estudo que relaciona as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e a pesca comercial no Atlântico Norte.

Os autores do trabalho «desenvolveram modelos robustos para comparar as distribuições geográficas de 10 espécies de peixes que vivem perto dos fundos marinhos(peixes demersais) de elevado valor comercial no Atlântico Norte», segundo o CCMAR.

«Estes modelos permitiram comparar as distribuições atuais dessas espécies com dois cenários futuros distintos para o final do século XXI: um cenário em que são cumpridas as metas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa definidas pelo Acordo de Paris e outro cenário sem mitigação das emissões», acrescentou.

Os resultados do estudo «sugerem uma tendência, em ambos os cenários, para que as distribuições destas espécies de peixes se desloquem para Norte. No entanto, no cenário em que o Acordo de Paris não é cumprido, estas alterações na distribuição das espécies são muito maiores do que no cenário em que o acordo é cumprido».

Manuel Ramos Martins, autor do estudo e investigador do CCMAR, explica que «estas alterações de distribuição vão trazer grandes desafios ao setor das pescas. Se não cumprirmos o Acordo de Paris, as espécies comerciais de maior valor vão-se deslocar ainda mais para norte, para zonas muito distantes dos atuais bancos e portos de pesca, o que vai trazer custos adicionais para o setor, quer a nível de transportes quer a nível de tempo despendido na pesca».
Para além disso, o estudo prevê que também ocorram alterações a nível da composição das espécies, ou seja,« as várias espécies que hoje encontramos em determinadas áreas não serão as mesmas no futuro».
«Estas alterações vão obrigar o sector das pescas a adaptar os seus métodos de captura a uma nova realidade, o que também vai implicar custos consideráveis», salienta o autor do trabalho.

Já David Abecasis, coordenador do estudo e investigador do CCMAR e da UAlg, diz que o estudo «é uma contribuição enorme para a gestão das pescas no contexto das alterações climáticas, em que informação científica como a que apresentamos com estes modelos raramente tem sido tida em conta».

Esta situação resulta, em grande parte, na dificuldade em produzir modelos fiáveis e compreensivos.

«Os modelos que desenvolvemos destacam-se em relação a outros estudos porque incluem variáveis que normalmente não são incluídas, mas que têm elevada importância biológica, como a produtividade primária e o oxigénio dissolvido. Ao incluirmos estas variáveis nos nossos modelos, garantimos que estes são mais robustos e que se aproximam melhor dos cenários futuros», explicou, por seu lado, Jorge Assis, co-autor do estudo e também ele investigador do CCMAR e da UAlg.

 

Modelos de distribuição de espécies de peixes demersais no Atlântico Norte para dois cenários de alterações climáticas distintos. Os modelos à esquerda mostram maiores perdas de habitat adequados nos mares Mediterrâneo, Céltico e Irlandês, no sul do Mar do Norte e ao longo da costa NE da América do Norte. Os modelos à direita mostram que mais espécies ganharão novos habitats em áreas mais a Norte, especialmente se o Acordo de Paris não for cumprido.

 

 

 



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