«Se forma de cálculo da incidência não mudar, Algarve não vai reerguer-se durante o Verão»

Hotéis também estão a ser prejudicados pelas medidas em Lisboa

Foto: Nuno Costa|Sul Informação

Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, exigiu esta sexta-feira ao Governo que seja adotada uma nova fórmula para contabilizar os casos positivos de Covid-19, uma vez que a atual «penaliza os concelhos com mais turismo». O autarca quer que os casos nacionais detetados sejam atribuídos ao concelho onde residem e também que os visitantes estrangeiros que estão nos hotéis passem a contar como população do município onde passam férias.

Loulé e Albufeira, dois dos concelhos com mais turísticos do Algarve, recuaram esta quinta-feira no processo de desconfinamento, o que levou à obrigatoriedade do encerramento de restaurantes e cafés às 22h30 ou das lojas e centros comerciais até às 21h00.
Casinos e parques aquáticos também foram obrigados a voltar a fechar portas.

Foi, aliás, à entrada do (encerrado) Aquashow, em Quarteira, que decorreu a conferência de imprensa que, à volta de Vítor Aleixo, contou com a presença de outros autarcas do concelho louletano e também de empresários.

Aleixo realçou aos jornalistas que «toda a região está unida neste apelo, para que sejam revistos os critérios que determinam decisões como aquela que foi tomada ontem e com a qual estamos em desacordo completo».

O problema da injustiça resolvia-se, segundo o autarca louletano, se fossem considerados «os turistas estrangeiros para o cômputo da população. Esse apuramento é fácil de fazer através das unidades hoteleiras do concelho. Isto seria motivo suficiente para imediatamente fazer baixar estes rácios e ficarmos numa linha de segurança, para que não tivéssemos agora que passar por um retrocesso relativamente às medidas que já estavam em vigor e que, de alguma maneira, já permitiam retoma da atividade económica».

O presidente da Câmara defende também que «os casos nacionais detetados sejam atribuídos ao concelho onde as pessoas residem» e não onde são identificados, algo que, diz o autarca, não está a acontecer, apesar das garantias do Governo.

A 2 de Junho, o primeiro-ministro António Costa disse aos jornalistas que «a penalização da região» está «corrigida», uma vez que «qualquer [português] não residente no Algarve, que tenha a infelicidade de testar positivo, é registado na sua morada de residência».

Por isso, garantiu Costa na altura, «não será esse o fator que alterará a taxa de incidência no Algarve».

Já esta sexta-feira, na conferência de imprensa de atualização da situação epidemiológica da Comissão Distrital de Proteção Civil, Jorge Botelho, secretário de Estado coordenador do combate à pandemia na região, lembrou que existe esse compromisso de contabilizar os «cidadãos portugueses na sua área de residência».

Mas Vítor Aleixo garante: «que eu saiba, isso não está a acontecer».

E se isso não acontece, «com esta forma de cálculo, o Algarve não irá conseguir reerguer-se durante o Verão, porque o número de turistas vai aumentar nas próximas semanas e o rácio está a ser mal calculado! Neste momento, é Loulé e Albufeira, Lagos já está em alerta e, para a próxima semana, serão outros concelhos da região», acredita o presidente louletano.

Foto: Nuno Costa|Sul Informação

Para o autarca, numa altura em que «quatro milhões de portugueses já estão vacinados, em que todo o processo de vacinação tem decorrido bastante bem a nível nacional e que a pressão dos hospitais não é tão crítica como foi em vagas anteriores, a gestão da pandemia, respeitando sempre a questão securitária, deve ter uma maior atenção à atividade económica», que é muito penalizada com este «erro de cálculo».

Para Aleixo, o retrocesso no desconfinamento «faz toda a diferença. Nós sabemos que o nosso concelho tem pequenas empresas no setor da restauração, como cafés e esplanadas. Isso tem um peso muito importante para muitas pequenas empresas e para muita da mão de obra que vive desta atividade. Nós sabemos que faz toda a diferença fechar às 22h30 ou fechar à 1 da manhã. Isto terá um efeito económico verdadeiramente devastador».

João Soares, diretor do Hotel D. José, em Quarteira, e representante da Associação de Hotelaria de Portugal no Algarve, concorda com este cenário negro.

Desde logo porque, segundo disse ao Sul Informação, o «retrocesso afeta a imagem do concelho, a imagem do Algarve e afeta a imagem do país, porque estas notícias, como sabemos hoje, com a globalização, chegam muito rapidamente a toda a comunicação internacional».

Também, «em termos operacionais e logísticos acaba por afetar muito. Como sabemos, há recuo em algumas medidas, o que altera horários e a própria necessidade de recursos humanos».

Para o diretor hoteleiro, «a restauração é muito afetada. Se funcionar até à meia noite, pode fazer dois turnos, coisa que não pode fazer até às 22h30. Há aqui todo um desorganizar daquilo que já estava organizado e que não faz qualquer sentido. Além disso, o cálculo dos números, como foi aqui dito hoje, está errado e tem que ser corrigido muito rapidamente».

Como se não bastassem as medidas locais, também as medidas aplicadas à Área Metropolitana de Lisboa, como a proibição de sair daquela região durante o fim de semana, acabam por afetar a economia algarvia indiretamente.

«Tivemos algumas alterações de grupos, bem como de clientes individuais que viriam para o Algarve. Tínhamos grupos de sábado a sábado e já não poderão vir. E depois toda a forma como as coisas são feitas de ânimo leve, anunciando a uma quinta-feira aquilo que será posto em prática a uma sexta, é impossível», considerou.

A situação do Aquashow é, para João Soares, exemplo disso mesmo. «Estamos no maior parque aquático do país, que teve de encerrar. O hotel estava cheio e vazou de um minuto para outro, porque os clientes não podem usufruir do parque. Todas estas questões são muito penalizadoras para a região», concluiu.

 

 



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