Portimão restaura traineira “Portugal Primeiro” para a tornar num museu

Recuperação da embarcação vai custar cerca de 620 mil euros

A traineira “Portugal Primeiro”, uma «das mais carismáticas embarcações do género» que operou em Portimão, vai ser restaurada pela Câmara portimonense, tendo em vista a criação de um novo apontamento museológico na zona ribeirinha da cisade.

O projeto  “Portugal Primeiro – Uma Traineira com História”, do Museu de Portimão, prevê o restauro do antigo galeão, que foi transformado em traineira, com o objetivo de «salvaguardar e valorizar» esta embarcação, outrora usada para a pesca do cerco, nomeadamente da sardinha.

«O restauro passa pela musealização e exibição da embarcação junto ao Museu de Portimão, numa estrutura especialmente construída para o efeito, a qual remeterá para uma cenografia de ambiente de estaleiros navais que outrora marcavam a paisagem da zona ribeirinha de Portimão», segundo a Câmara de Portimão.

Isso implica «recriar um ambiente de trabalho de reparação da antiga traineira “Portugal Primeiro” em estaleiro, incluindo toda a parte de carpintaria, calafetagem, ferragens e respetivo apetrechamento com equipamentos de bordo, como os acessórios da embarcação – a cordoaria e as redes».

A estrutura «será concebida de modo a garantir as boas condições de conservação da traineira, nomeadamente protegendo-a da luz solar e de intempéries, sendo incluído o imprescindível sistema de rega da embarcação com água salgada bombeada diretamente do rio, além de instalação de um sistema de iluminação cénica que possibilite a sua visualização e valorização noturna».

A recuperação e musealização da embarcação «tem na sua base um trabalho de investigação, salvaguarda e divulgação, através de ações culturais e educativas, levadas a cabo pela equipa do Museu de Portimão, reforçadas e valorizadas com a participação da comunidade piscatória antiga e presente, com trabalhadores de construção naval, antigos operários e vendedores de lota, de forma a reforçar os laços de identificação da comunidade, sobretudo os jovens, com a realidade cultural marítima da cidade».

A recuperação deste barco vai custar 621.150 euros, com um financiamento de 424.969 euros do Programa Operacional Mar 2020.

 

 

A traineira “Portugal Primeiro” começou por ser um galeão a vapor para a pesca da sardinha. «Mandado construir pelo industrial conserveiro e armador Júdice Fialho, em 1911, num estaleiro em Vigo, na Galiza, esta embarcação foi a primeira de uma frota de nove galeões, do “Portugal Primeiro” ao “Portugal Nono”», descreve a autarquia.

Em 1948, a embarcação foi adaptada ao motor a diesel, transformando-se em traineira, «mas manteve a sua popa em leque, característica distintiva, continuando no ativo até à década de 1980».

«Por volta de 1990, depois de ter estado parada alguns anos no cais de Portimão, foi comprada pela empresa Ribeiro & Quintas, que a recuperou nos estaleiros da Portinave e esteve em funcionamento pelo Algarve, até 2008», acrescentou a Câmara de Portimão.

Por essa altura, houve a intenção de ser dada para abate, «travada pela câmara local, que comprou a embarcação com o objetivo de a restaurar e musealizar na zona ribeirinha, junto ao edifício do Museu de Portimão, integrando-a no discurso expositivo que este equipamento cultural dedica à vocação marítima do município».

Tudo isto torna «assinalável a sua importância para a história de Portimão e suas gentes, enquanto testemunho singular do património marítimo local e de várias atividades com que esteve relacionada, desde a pesca à construção naval e indústria conserveira, lotas e comercialização de pescado, responsáveis pelo crescimento económico e social durante o século XX».

O projeto museográfico do “Portimão Primeiro” «que a traineira seja pretexto para ponto de reflexão sobre a própria atualidade do contexto marítimo e as questões que levanta aos profissionais nos dias que correm (apoios à pesca, defeso e restrições de pesca, dos saberes fazer às atuais inovações tecnológicas, lota e comercialização do pescado), bem como à sociedade em geral».

Face à escassez de mão de obra especializada para a recuperação de embarcações tradicionais em madeira, o Museu de Portimão encontra-se neste momento «a realizar esforços e diligências a nível regional e nacional, de modo a garantir a correta e atempada execução dos trabalhos destinados à recuperação que a embarcação “Portugal Primeiro” merece e necessita», concluiu a Câmara.

 

Fotos: Câmara de Portimão

 

 



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