Loulé aprova criação de Reserva Natural Local da Foz do Almargem e do Trafal

Câmara Municipal assinou protocolos com o ICNF e WWF para plantar «centenas de milhar» de árvores no concelho de Loulé

A Câmara de Loulé aprovou, esta quarta-feira, 9 de Junho, a criação da Reserva Natural Local da Foz do Almargem e do Trafal, em Quarteira, numa área de 135,4 hectares, para que estas zonas húmidas, «com uma enorme riqueza, em termos de biodiversidade», ganhem um estatuto especial de proteção. 

A proposta, já aprovada, terá agora um período de consulta pública, bem como uma votação na Assembleia Municipal.

Em declarações aos jornalistas, à margem da assinatura de um protocolo com o Instituto da Conservação e das Naturezas e a World Wide Fund for Nature (WWF), Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, explicou que, em princípio, «daqui a nove meses» esta Reserva estará formalmente criada.

O grande objetivo da iniciativa é proteger a «vida que existe nestas duas zonas húmidas».

 

Vítor Aleixo – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

A criação da Reserva vem no seguimento da suspensão do Plano Diretor Municipal (PDM) que a Câmara de Loulé levou a cabo em Março de 2019 e que impediu a criação de um empreendimento turístico naquela zona: a Quinta do Oceano, cuja entidade promotora era o Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado — Invesfundo VII, do grupo Novo Banco.

Ainda no mesmo ano, a Associação Almargem começou um estudo sobre as duas zonas (Foz do Almargem e Trafal) que serve de «suporte técnico e científico de caracterização da riqueza de biodiversidade» destes locais.

Segundo este relatório, estas são áreas «extremamente ricas em vida selvagem, nomeadamente em espécies com estatutos de proteção elevados».

No total, foram identificadas 137 espécies, «com destaque para as aves aquáticas invernantes e migratórias, que reúnem elevadas concentrações de indivíduos nos períodos de invernada emigração, realçando-se as seguintes espécies prioritárias: zarro comum (Aythya ferina), frisada (Mareca strepera) pato-de-bico-vermelho (Netta rufina), caimão (Porphyrio porphyrio) e gaivota-de-audouin (Ichthyaetus audouinii)».

A isto junta-se ainda a presença muito forte de insetos, entre os quais «três endemismos ibéricos de escaravelhos: a espécie Pterostichus ebenus, a subespécie Carabus rugosus celtibericus e a subespécie Licinus punctatulus granulatus e a grande probabilidade de ocorrência da borboleta Melitaea aetherie, uma das espécies de borboletas mais ameaçadas em Portugal e do louva-a-deus-dos-olhos-pontiagudos (Apteromantis aptera).

Ainda segundo o estudo acima referido, «esta zona tem grande valor como área de reprodução de libélulas e libelinhas do Algarve».

Foi com base em tudo isto que a Câmara de Loulé decidiu que estas áreas mereciam ser preservadas.

«Queremos dar o nosso contributo para a proteção da vida em todas as suas manifestações. Temos ali fauna, flora, espécies de aves em grande número, numa grande riqueza ambiental», explicou Vítor Aleixo.

 

Vítor Aleixo e Castelão Rodrigues- Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

A aprovação da criação desta Reserva foi um dos pontos altos da Semana do Ambiente, promovida pela Câmara de Loulé, e que também incluiu a assinatura de protocolos com o ICNF e WWF que prevê a plantação de «centenas de milhares» de árvores, em cinco anos.

O momento realizou-se no final desta quarta-feira, na Lagoa de Momprolé, à saída de Loulé, num local simbólico, onde, em 2017, foram plantadas cerca de 5 mil árvores, na operação “Montanha Verde”, em parceria com o Zoomarine.

Segundo Vítor Aleixo, apesar das críticas que a ação teve ao longo dos anos por muitos dos espécimes terem morrido, apenas se «perderam menos de 10% das árvores».

Por isso, «dando continuidade a esta política de reflorestação», os protocolos assinados preveem a plantação de «mais de 400 mil espécimes nos próximos cinco anos», tanto na Lagoa de Momprolé, como na Serra do Caldeirão.

As árvores «serão adequadas aos territórios», sendo que «os técnicos da Câmara de Loulé e do ICNF vão definir a proporção».

«A ideia é, mais uma vez, aumentar a capacidade de captura de carbono e com isso diminuir em muito as emissões do gás carbónico para a atmosfera, com Loulé a contribuir para as metas ambientais da estratégia nacional. Ao mesmo tempo, a paisagem tem um valor associado, tem interesse económico, cultural e as consequências destas iniciativas só poderão ser muito benéficas», concluiu.

De resto, Joaquim Castelão Rodrigues, diretor regional do ICNF, presente neste momento, considerou mesmo que Loulé é um «município exemplar» e que «orgulha» os algarvios nestas questões do ambiente.

 

 



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