A voz do Cercal começa a “Lavrar o Mira e a Lagoa”

Sabia que o Cercal está no Guiness? E que a vila teve um papel fulcral na construção da Ponte 25 de Abril?

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

É ficção, mas inspirada na realidade de uma terra onde há histórias com abundância. “Nós de Voz” é um espetáculo de dança, música e palavra que vai percorrer esta sexta-feira, 25 de Junho, e sábado, dia 26, as ruas do Cercal do Alentejo, em Santiago do Cacém, para dar a conhecer as muitas vozes que fazem parte da identidade de uma vila de amanhadores, de mineiros e de um gaspacho muito famoso. 

Depois do mar, chegou a vez de “Lavrar o Mira e a Lagoa” – o nome do novo projeto da Cooperativa Cosanostra que, depois de Aljezur e Monchique, vai levar cultura a Odemira e Santiago do Cacém.

“Nós de Voz”, no Cercal, é o primeiro espetáculo e vai logo mostrar a filosofia de trabalho deste “Lavrar o Mira e a Lagoa”: procurar o que existe no território, envolver a população local e criar uma nova oferta cultural.

«Tudo começou há cinco semanas e temos vindo a falar com muitas pessoas cá do Cercal. Rapidamente, descobrimos que os cercalenses gostam muito de falar, de contar as suas histórias», diz, entre risos, Ricardo Machado, diretor artístico, ao Sul Informação. 

Madalena Victorino, uma das responsáveis pelo “Lavrar o Mira e a Lagoa”, explica que o objetivo sempre foi «tentar encontrar uma ponte de diálogo entre a cultura local, as pessoas que aqui vivem e os artistas, num cruzamento entre mundos diferentes».

«Foi este cruzar de dimensões que deu o título ao espetáculo “Nós de Voz”, «Nós os estrangeiros que vimos de longe e a Voz dos que pertencem ao Cercal do Alentejo, num encontro entre a vida e a arte», diz.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

E vão ser as histórias desta vila a dar corpo a um espetáculo «de percurso» que vai passar por vários locais.

Uma destas histórias é a de um famoso amanhador (ou endireita) que é recordada por António Albino, presidente da Junta de Freguesia.

«Era um senhor conhecido aqui na zona toda. Vinham pessoas de longe, de táxi, chegaram a vir autocarros com gente à procura da cura», conta.

Para “Nós de Voz”, Ricardo Machado encontrou um neto deste famoso amanhador e criou uma coreografia com base «nesta ideia dos endireitas».

«Temos toda uma parte coreográfica, começamos a entrar numa ficção de como é ser manipulado por um amanhador invisível, como é que é amanhar alguém…», explica.

Mas há mais. Em 2005, o Cercal entrou para o Livro do Guiness, com a confeção de 4524 litros de gaspacho. Foi em Julho desse ano e a sopa fria foi depois distribuída à população que assistiu.

«Interessou-me muito esta ideia mais popular. Como é que podíamos fazer um gaspacho mais requintado? Ou mais alquímico? E foi curioso porque, ao mesmo tempo, estávamos a conhecer uma rapariga palestiniana que vive cá no Cercal há três meses, que se chama Amin, e isso fez-me lembrar o mundo árabe e mouro que viveu cá no nosso território e como estes ingredientes são muito comuns aos nossos», conta Ricardo Machado.

Assim, numa «parte do espetáculo», dois atores vão beber um gaspacho…mas «especial».

“Nós de Voz” também terá Cante Alentejano e música da Banda Filarmónica e o ponto de partida de tudo também não foi escolhido ao acaso.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

O Largo dos Caeiros, com a sua grande rotunda, é «o centro da vila». «Sinto que os cercalenses vivem muito este espaço. Em tempos, era lá que acontecia a venda de gado, era onde passava a Volta a Portugal em Bicicleta. Então, o nosso espetáculo começa aí e é um convite às pessoas para mergulharem connosco», conta o diretor artístico.

Da parte dos cercalenses, depois de alguma relutância no início do projeto, há a expetativa que adiram em força a este “Nós de Voz” que terá apresentações hoje e sábado, com início às 20h30.

«Se calhar, por ser a primeira vez que se entra num projeto destes, as pessoas podem ter algum receio inicial. Não ter tanto à vontade, não são pessoas da terra, mas, depois de verem e perceberem, acho que vão gostar», garante o presidente da Junta de Freguesia.

Até porque, realça, este “Lavrar o Mira e a Lagoa” leva «algo de novo» ao concelho de Santiago do Cacém. «Nós, tanto o município como a freguesia, abraçámos logo de corpo e alma este projeto», diz António Albino.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Ele próprio vai ter um papel importante neste espetáculo, garante Ricardo Machado.

«Nós vamos terminar na horta do senhor presidente da Junta, com o Filipe e o Pedro, dois participantes, a ensinarem como é que eles  conseguem, com uma guitarra, cavar e cuidar da terra», diz, entre risos.

É uma metáfora de uma iniciativa que quer semear cultura numa vila de histórias (sabia, por exemplo, que foi de uma mina, no Cercal, que foi extraído o ferro que construiu a Ponte 25 de Abril?).

Quem quiser assistir a este espetáculo, apenas tem de se inscrever aqui. A entrada é gratuita.

 

 

 



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