Nazis em Portimão, no 1º de Maio de 1936

Três anos antes de começar a II Guerra Mundial, dois navios alemães estiveram em Lagos e Portimão

Imagem: Carlos Osório

No 1º de Maio de 1936, Portimão recebeu com grande pompa e circunstância 300 alemães da armada do III Reich. A comissão organizadora das festas, constituída por Kurt Dircks, Júlio Calaça, António Magalhães Barros, Martinho Mergulhão e José Mendes Furtado, fretou um comboio especial para transportar, a partir de Lagos, três centenas de oficiais e marinheiros que chegaram à estação de caminho-de-ferro de Portimão, pelas 15h30.

Os alemães foram recebidos por uma enorme multidão, além das entidades oficiais, corpo consular, direções da Associação Comercial Industrial, do Clube Fraternidade, Clube União, clubes desportivos como o Portimonense Sporting Clube, o Sporting Glória ou Morte, o Juventude, o Boa Esperança, o grupo de escoteiros que se fez acompanhar dos seus estandartes e a Filarmónica Portimonense que, à chegada, executou os hinos alemão e a “Portuguesa”. Os visitantes foram saudados por uma estrondosa salva de palmas e várias aclamações.

Organizado o cortejo com guarda de honra do corpo de bombeiros, dirigiu-se para a Câmara Municipal ao som da Filarmónica que foi tocando marchas militares. Os marinheiros alemães marchavam, cantando canções do seu país.

 

O presidente da comissão administrativa, José dos Santos Ribeiro, fez um discurso em francês, no qual lembrou a determinante ação dos alemães na conquista do Algarve aos mouros e salientou os esforços que, naquela altura, Portugal e Alemanha faziam para ressurgir no meio de um mundo em ruínas.

Seguidamente, dirigiram-se as individualidades a casa do vice-cônsul da Alemanha, onde eram aguardados pela Condessa du Moulin, Madame Feu Marchena e marido e pela madame Kurt Dircks.

No consulado, foram servidos doces regionais e vinho do Porto. Pelas 17h30, perante numerosa assistência, realizou-se um desafio de futebol entre a seleção da esquadra teutónica e o Portimonense Sporting Clube. O jogo terminou em 5:2.

Às 22h00, depois de serem distribuídos os convidados pelos hotéis e pensões de Portimão e da Praia da Rocha, teve início um baile no Casino da Praia da Rocha. Uma orquestra regional e a banda de bordo tocaram alternadamente.

Havia convidados vindos de Faro e Loulé, que dançaram, e distintamente, com oficiais e marinheiros que apenas se distinguiam pelas fardas. Esteve presente o governador civil de Faro, a quem os alemães, formados em fila, ergueram o seu braço direito, com a palma estendida para baixo, enquanto gritavam as palavras “Heil Hitler!”

No dia 2 de Maio, realizou-se na então Pensão Bela Vista, na Praia da Rocha, um banquete oferecido pelos Conde e Condessa du Moulin, no qual estiveram presentes o governador civil de Faro, o capitão do Porto de Portimão e o capitão do Porto de Lagos, os presidentes das Câmaras de Lagos e Portimão e alguns membros da comissão organizadora.

 

O Conde du Moulin-Eckart (à direita) – Foto: Arquivo Nacional Torre do Tombo

O Conde du Moulin, no discurso de encerramento das festividades, salientou que se sentia bem em Portugal, por aqui encontrar tantas provas de uma orientação ao mesmo tempo conservadora de tradição e inclinada ao Progresso, manifestações estas que são familiares e queridas da sua Pátria alemã, observando aqui sobretudo, tal como no seu país, igual vontade férrea de ressurgimento, em Portugal pela criação do Estado Novo e na Alemanha pela obra do Fürher.

Por fim, sublinhou a “igual constituição de um novo edifício político tendente a afrontar todas as ideologias dissolventes e anti-nacionalistas”.

O jornal Comércio de Portimão, na semana seguinte às festividades, fez publicar as contas que compreenderam as verbas entregues pelos comandantes dos cruzadores Leipzig e Köln e pelo Conde de Moulin no valor de 5.588$00, sendo a despesa de 5.238$00. Parte do saldo foi entregue ao Hospital (200$00) e outra parte doada à “sopa dos pobres” (150$00).

Esta visita a Portimão surgiu na sequência da presença de dois navios cruzadores alemães fundeados na Baía de Lagos, de regresso de uma viagem de exercício no Atlântico.

Os navios Leipzig e Köln faziam parte de uma flotilha, cujo navio principal era o cruzador Nuernberg, que se encontrava no porto de Lisboa. A tripulação do cruzador Köln era composta por 500 homens, dos quais 24 eram oficiais.

O ministro da Alemanha enviou a Lagos para o representar nos cumprimentos aos navios visitantes o conselheiro Conde du Moulin. Após os cumprimentos oficiais das autoridades militares, os comandantes dos cruzadores foram cumprimentar as autoridades de terra e mar, tendo sido recebidos em seguida na Câmara Municipal de Lagos, onde foi oferecido o “porto de honra” e doces regionais. Mais tarde, as autoridades civis foram a bordo dos cruzadores retribuir os comprimentos.

A imprensa local escreve que a cidade de Lagos parecia ter acordado de um grande sono, indo todos a correr saudar os visitantes que enchiam os cafés e tabernas em grupos, percorrendo as ruas da cidade, fotografando os pontos mais interessantes, mostrando sempre o maior aprumo, disciplina e educação.

Vestidos de camisola e calção, dirigiram-se à Meia-Praia, onde tomaram banho sempre com alegre disposição e entoando canções tradicionais alemãs.

Durante a estadia de cinco dias, para além da visita a Portimão, houve lugar para vários eventos, tais como um desafio de futebol entre o Esperança Futebol Clube e uma equipa de marinheiros, no campo da Trindade, ganhando o Esperança por 2 a 1.

Também à noite, na Praça da República, se realizou um concerto da banda do Regimento de Infantaria n.º 15, em honra dos alemães, terminando com os hinos alemão e português. No sábado, a empresa do cinema Cine Ideal organizou sessões com a projeção de filmes alemães.

Os cruzadores ficaram cinco dias ao largo de Lagos, levantando ferro depois das 8h00 rumo a Kiel, Alemanha.

 

 

 

 
 



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