Flamingos estão a nidificar em Portugal pela primeira vez

«Pela sensibilidade do momento, é importante lembrar a importância de não perturbar as áreas escolhidas por esta espécie para nidificar»

Flamingos numa zona húmida – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Há duas colónias de flamingos (Phoenicopterus roseus) a nidificar pela primeira vez em Portugal, anunciou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), para assinalar o Dia Internacional da Biodiversidade.

O ICNF recorda que, em 2010, já tinha havido uma primeira tentativa de nidificação em Portugal, mas sem sucesso.

Nos últimos anos, «a população de flamingos tem vindo a aumentar em Portugal, inclusive em muitas zonas húmidas onde antes era pouco observada. Contudo, apesar do aumento significativo, esta espécie tão emblemática e procurada por tantos investigadores e visitantes,
continuava sem nidificar efetivamente em Portugal», explica o ICNF.

As razões científicas para que a situação se alterasse «ainda não são conhecidas». Com base na observação feita pelos Vigilantes da Natureza e técnicos do Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves (CEMPA) do ICNF, «é possível constatar um aumento das áreas de alimentação e repouso desta espécie em Portugal, acompanhado pela diminuição da atividade humana devida às restrições impostas pela pandemia da COVID-19».

Além das razões identificadas, é do conhecimento da comunidade científica que os locais onde os flamingos (Phoenicopterus roseus) se reproduzem estão a sentir os efeitos da seca, desde há vários anos.

Os riscos mistos, de componente ambiental, associam-se a fenómenos potencialmente perigosos com causas combinadas, incluindo-se neste conjunto os incêndios florestais, contaminação de aquíferos e a consequente degradação dos habitats.

Sem as condições ecológicas reunidas, os flamingos não têm espaço para se reproduzirem, pelo que procuram outros locais que lhes permitam alimentar-se, nidificar e reproduzir-se, como sucede em Portugal, onde existem áreas ricas em alimento.

Este ano, e pela primeira vez, existem duas colónias de flamingos a nidificar em duas Áreas Protegidas sob a gestão do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, «onde se estima um valor considerável de ninhos nas duas colónias».

Por isso, salienta o ICNF, «contamos, muito em breve com a chegada dos primeiros juvenis nascidos em território Português».

No entanto, acrescenta aquele Instituto, «pela sensibilidade do momento, é importante lembrar a importância de não perturbar as áreas
escolhidas por esta espécie para nidificar. Em breve os ovos vão eclodir e será possível acompanhar o crescimento dos pequenos flamingos».

 

Flamingos numa zona húmida – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Com o mote “Somos parte da solução”, o Dia Internacional da Biodiversidade (ou Diversidade Biológica) «lembra-nos que a biodiversidade tem a resposta para os vários desafios que o desenvolvimento sustentável nos coloca, enquanto indivíduos e sociedade».

Para, em 2050, «se atingir o objetivo de vivermos em harmonia com a Natureza, temos de compreender que somos parte dela e que está nas nossas mãos agir para travar a perda de biodiversidade, a todos os níveis», sublinha o ICNF.

Com efeito, a biodiversidade engloba quer a variabilidade entre os organismos vivos, quer os ecossistemas terrestres e aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; bem como a diversidade dentro de cada espécie, entre as espécies e a dos ecossistemas.

«Será, e sempre foi, essa diversidade de genes, de espécies e de ecossistemas que nos permitirá: descobrir novos medicamentos; encontrar culturas agrícolas mais adaptadas às alterações climáticas; termos uma floresta mais diversa e resiliente aos incêndios; obter novas matérias primas; conseguirmos combustíveis menos poluentes; um crescimento mais verde e amigo do ambiente», explica o ICNF.

Apesar de essencial à vida humana, a biodiversidade está longe de ser bem conhecida e compreendida. «Todos os anos se descobrem espécies novas, mesmo em Portugal, mas infelizmente, também se extinguem outras que nunca se chegou a conhecer nem a saber de que forma eram e poderiam ser úteis à nossa sobrevivência».

A pandemia de COVID-19 «veio reforçar a ideia de que dependemos da natureza e que, ao ameaçá-la, colocamos também em risco a vida humana. Apenas garantindo o equilíbrio dos ecossistemas se pode assegurar a sobrevivência da nossa espécie e um desenvolvimento sustentado que permita às próximas gerações resolver novos problemas ambientais que se coloquem».

Por isso, a 5 de Junho próximo, será lançada a Década das Nações Unidas do Restauro dos Ecossistemas visando prevenir, deter e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os locais da Terra. Só mantendo a biodiversidade poderemos erradicar a pobreza, combater as mudanças climáticas e prevenir uma extinção em massa.

«Mas, para alcançarmos essa relação harmoniosa com a natureza, todas e todos temos um papel a desempenhar: investigadores que nos façam compreender como funciona a natureza para melhor a respeitarmos; habitantes e visitantes de áreas protegidas que mantenham os valores naturais e que vejam compensados os seus esforços; proprietários rurais que mantenham a biodiversidade e produtividade do solo, em colaboração com insetos, aves e outros seres que controlam pragas; habitantes das cidades que queiram e mantenham espaços mais verdes e com espécies autóctones e que compreendam a sua dependência dos meios naturais; turistas que exijam paisagens mais diversas e um turismo mais próximo e respeitador da natureza; indústrias mais verdes, mais eficientes e menos poluentes; consumidores que escolham produtos obtidos com menor impacto no meio natural», diz ainda o ICNF.

«Na natureza, tudo está interligado e cada um de nós depende dela. O oxigénio, a água, os alimentos, os medicamentos, as matérias-primas, o petróleo, o carvão, a camada de ozono, tudo isto é-nos dado pela biodiversidade».

Por isso, não só a 22 de maio, mas todos os dias, «devemos tomar consciência e agir de modo a que as nossas ações contribuam para manter a diversidade biológica, base da existência humana».

 



Comentários

pub