São seis milénios de história, tão bem exemplificados com peças arqueológicas de várias épocas, recortes de jornais, fotografias e mapas antigos, fatos de banho e até animações que nos fazem mergulhar naquilo que foram – e são – as vivências de uma terra com gente dentro. É isto e muito mais aquilo que se pode encontrar na exposição “Com os pés na terra e as mãos no mar”, inaugurada esta quinta-feira, 13 de Maio, na antiga lota de Quarteira.
O dia escolhido não foi inocente: Quarteira assinalou 22 anos desde a elevação da cidade, com a inauguração de uma exposição que é, nas palavras de Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, «um marco histórico».
«Pela primeira vez, temos a oportunidade de conhecer o riquíssimo património histórico de Quarteira que tem 6 mil anos», disse.
E é isso que podemos encontrar mal se entra na exposição, onde se pode apreciar vestígios das presenças, em Quarteira, de cartagineses, romanos e muçulmanos ou saber, por exemplo, que foi na antiga várzea de Quarteira que se fizeram as primeiras plantações de cana de açúcar do Algarve, o que trouxe escravos para a região.
Mas toda a exposição tem uma particularidade: o diálogo constante entre a realidade atual e a história, ambas tão ligadas ao mar ou não fosse esta uma terra de pescadores.
Tal como explicou Rui Parreira, arqueólogo, curador da exposição e diretor de Serviços de Bens Culturais da Direção Regional de Cultura do Algarve, uma das parceiras da mostra, a ideia é «vir do presente para o passado mais remoto deste território».
«Há aqui um aspeto fundamental que é a história de Quarteira mais recente. Temos coisas onde as pessoas ainda se reconhecem – o mural das emoções, onde nos podemos emocionar com esta visão de Quarteira nos últimos 100 anos», disse, na breve visita guiada que fez aos convidados, entre os quais se encontrava a secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural.
Esse mural atravessa toda a exposição e é complementado com quatro grandes mesas circulares, onde «podemos partilhar conhecimento», através de vestígios arqueológicos, como um vaso com 6 mil anos, encontrado na Retorta, ou de um ex-voto de dedicatória por pescadores que naufragaram junto ao Forte Novo, perto da Praia de Loulé Velho, onde foram descobertas também muitas peças que compõem a mostra.
Há ainda quatro animações interativas que contam a história de Quarteira ao longo dos milénios e a evolução de um território que, por exemplo, «ganhou e perdeu mar». E muito mais existia para mostrar, uma vez que a exposição só tem cerca de 10% de todo o material que foi possível amealhar.
«Recolhemos mesmo muita documentação que nos permitiu concretizar esta exposição. A quantidade de coisas que conseguimos reunir foi algo que me surpreendeu», confessou Rui Parreira.
Além da Direção-Geral do Património Cultural, que cedeu peças que estavam noutros pontos do país, como o Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, houve muitas peças doadas por quarteirenses, interessados na história da sua terra – muitos deles presentes na inauguração da exposição.
Para Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, a sua cidade vive um «momento histórico» com esta mostra.
«Isto é único. Quarteira tem uma história que merece ser contada, mas estamos habituados a ser apenas uma terra de turismo. Agora, as pessoas que nos visitam podem ver que existe mais qualquer coisa aqui: um produto diferenciador», considerou.
A mesma ideia tem Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, para quem esta exposição vem acabar com um preconceito: «que Quarteira é uma terra sem história».
«Nada me faz mais feliz do que estar aqui hoje e poder dizer que Quarteira tem uma história riquíssima de 6 mil anos!», exclamou.
Ângela Ferreira, secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, que esteve presente na inauguração, lançou mesmo o desafio para que «todos os portugueses venham conhecer a história desta terra».
«A exposição alia o conhecimento da população ao dos especialistas e isso é crucial. Há aqui memórias das pessoas, recordações, mostrando também que o património cultural desta terra é indissociável da sua geografia», acrescentou.
Durante dois anos, tempo em que a exposição ficará patente, de terça-feira a domingo (por enquanto, o horário é das 14h00 às 20h30), qualquer um pode entrar na antiga lota de Quarteira e ficar “Com os Pés na Terra e as Mãos no Mar”.
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação
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