Um monólogo de uma mulher ao telemóvel com o seu amante, uma guitarra que brinda o espetáculo com acordes de um concerto de rock, numa peça de teatro fora do comum. “A Voz Humana” de Jean Cocteau, uma criação de Patrícia Andrade e David Pereira Bastos, estreia-se esta sexta-feira, 21 de Maio, às 19h, na sede do Rancho Folclórico Infantil e Juvenil de Loulé.
Patrícia Andrade, na primeira vez que teve contacto com o texto de Jean Cocteau, pensou que «um dia tinha de o fazer». Apenas não sabia como, nem quando.
«Sempre estive ligada à música, a partir dos meus vinte e tais. Então questionei-me como seria fazer um texto de teatro mais formal, e como poderia conjugar com a música, sendo estas duas dimensões que se podiam encontrar», explicou num ensaio aberto à imprensa, em que o Sul Informação participou.
Quando saiu da banda de metal/rock “Sinistro”, da qual fazia parte, a primeira coisa que a atriz decidiu fazer foi começar a planear a peça “A Voz Humana”. Estava pensada há vários anos, mas só agora decidiu «misturar estes dois mundos que me são tão caros e especiais».
Dada a sua experiência teatral, musical e de palco, a atriz diz ter andado às voltas, a pensar como ia «defender o conceito da peça». Apresentou a candidatura ao “Teatro do Elétrico” em 2019, mas devido à pandemia, a peça foi adiada para este ano.
Com ensaios a começarem em Março deste ano, a peça esteve em residência artística no Teatro do Mar, em Sines, durante duas semanas.

No início do espetáculo, uma mulher entra em cena tímida. Atravessa um processo de “divórcio” do seu amante, vai falando ao telemóvel…só que a chamada cai diversas vezes. Do outro lado, ninguém fala, mas a mulher chama incessantemente por alguém, tocando, cantando e exprimindo aquilo que sente.
Este é o último telefonema entre a mulher e o seu, agora, ex-amante. «Percebe-se que ela não está a saber lidar com a separação, ainda para mais porque ele se vai casar no dia seguinte», explicou aos jornalistas David Pereira Bastos, um dos criadores da peça.
«Percebe-se no texto, do princípio ao fim, que esta mulher, de facto, não superou a separação e que está longe do processo de superação da separação. E não se percebe, quando o texto acaba, se ela vai resolver ou vai consumar o suicídio, sendo essa a razão pela qual o ex-amante lhe telefona».

“A Voz Humana” é um espetáculo para todas as gerações, pensado para ser apresentado em espaços não-convencionais. É por isso que, em Loulé, a peça estará em cena na sede do Rancho Folclórico Infantil e Juvenil para pouco mais de 20 pessoas.
Tendo tido como uma das ideias iniciais apresentar a peça em clubes de rock, o espetáculo foi pensado para que «possa ser apresentado em qualquer espaço, sendo esse também o desafio».
Este é um «projeto híbrido» que tanto pode «funcionar numa sala de teatro, num ambiente onde está toda a gente em silêncio e a mexer nos telemóveis, como de repente funcionar num festival de música, onde estão todos a beber cerveja e a falar uns com os outros e o espetáculo comunicar na mesma», salientou David Pereira Bastos.
Durante o processo criativo do espetáculo, foi lançado o podcast “Cartas de Amor”, uma entrada para o universo da peça, com a partilha de canções e de excertos de cartas de amor anónimas, contando em cada episódio com um convidado especial.
O espetáculo estará em cena em Loulé este fim de semana, 21, 22 e 23 de Maio, às 19h, e ainda há bilhetes à venda aqui, com o custo de 5 euros.
Depois, “A Voz Humana” parte em digressão, passando pelo Funchal, em Julho, e por Sines, em Setembro.
A peça tem texto de Jean Cocteau, encenação de Patrícia Andrade e David Pereira Bastos, sonoplastia de Fernando Matias, sendo uma coprodução Cine-Teatro Louletano e Teatro do Eléctrico e tendo como parceiros o M.A.R. – Mostra de Artes de Rua.
Fotos: Rúben Bento | Sul Informação
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