Nautiber e Inesc Tec lançaram um “Mar Profundo” feito em VRSA

O “Mar Profundo” é um navio científico encomendado pelo Inesc Tec, do Porto, mas também será usado por investigadores do Algarve

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Vai ter um sotaque nortenho, mas é algarvio de gema e nele são depositadas grandes esperanças. O “Mar Profundo”, um navio científico construído nos estaleiros da Nautiber, em Vila Real de Santo António, teve hoje o seu bota-abaixo e vai entrar ao serviço antes do final de 2021.

O navio hoje lançado ao mar no Algarve será, no fundo, «um laboratório», onde os investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec) da Universidade do Porto, mas também os do Centro de Investigação Tecnológica do Algarve (CINTAL), que com eles formam a parceria “TEC4SEA”, vão «validar, testar e desenvolver tecnologia para o mar», em condições reais.

«Este não é um navio oceanográfico, serve para testar tecnologia. Nós somos uma extensão que desenvolve tecnologia e esta embarcação vai ajudar-nos a fazê-lo», revelou aos jornalistas Eduardo Silva, professor do Instituto Superior de Engenharia do Porto e investigador do Inesc Tec, à margem do bota-abaixo do “Mar Profundo”.

«Nós temos o nosso laboratório, onde desenvolvemos a tecnologia, mas temos de a ir validar ao mar. Temos um tanque, onde podemos testar algumas coisas, como os problemas de entrada de água, de flutuabilidade, sempre com baixas pressões. Mas, depois, temos de ir in situ testar, a ver se o que fizemos está ou não funcional», acrescentou.

Apesar deste ser o principal enfoque do navio “Mar Profundo”, a embarcação «também pode dar um bocadinho de ajuda na oceanografia e na biologia marinha».

 

Rui Roque (Nautiber), José Manuel Mendonça (Inesc-Tec) e o ministro Manuel Heitor – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Rui Roque, sócio gerente da Nautiber, não escondeu que construir um navio desta natureza foi desafiante, mas muito positivo para a empresa.

«É sempre muito importante fazer este tipo de construção, que nos permite ganhar novas competências técnicas e mais conhecimento. Foi uma oportunidade para evoluir», disse.

Mas também há outra vertente importante. «Este trabalho foi muito especial para nós, porque nos pode abrir perspetivas de entrar noutros mercados a que, até agora, sem executar e sem fazer, não teríamos acesso».

«Esta oportunidade que o Inesc Tec nos deu é extremamente importante para a indústria naval, porque estamos a criar um produto específico, que é vendável lá fora», acredita Rui Roque.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O batismo desta embarcação, cuja madrinha é Helena Pereira, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia e, ela própria, «uma mulher ligada à náutica», e o consequente bota-abaixo, foram testemunhados por Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Durante a cerimónia e, mais tarde, aos jornalistas, o membro do Governo fez questão de frisar «a importância» do momento.

«O facto do navio ser feito num estaleiro e aqui no Algarve é particularmente simbólico, mas também muito importante, porque mostra a capacidade nacional para fazer e construir estes equipamentos de maior valor acrescentado, que posicionam Portugal no mundo», afirmou.

Outra dimensão que Manuel Heitor valorizou foi a «relação entre a comunidade cientifica e as empresas, neste caso um estaleiro», que possibilitou, «pela primeira vez, a construção integral de um navio desta natureza cá em Portugal».

«Trata-se de um navio cientifico, para ajudar a explorar o mar profundo, que irá ser equipado com os melhores equipamentos disponíveis, para poder facilitar aos investigadores nacionais e internacionais a valorização do conhecimento sobre o mar», resumiu o ministro.

Pouco depois de proferidas estas palavras, Helena Pereira cumpriu a tradição, partindo uma garrafa de champanhe contra o casco do navio e o barco foi deitado ao Rio Guadiana.

 

 

«É um marco! Como viram, esta foi uma cerimónia muito simples, foi só metê-lo na água. Ele ainda irá a acabar. Mas foi um momento com um significado muito grande. Isto vai-nos permitir dar um salto muito grande na investigação científica e tecnológica», confessou o investigador Eduardo Silva.

E o que é que o “Mar Profundo” vai, afinal, ajudar a criar?

«Nós desenvolvemos robôs. Mas antes de eles poderem fazer a função para a qual foram projetados, temos de os testar no mar, para ver se funcionam. Outra coisa que desenvolvemos são sensores, que temos de deixar no mar durante dois ou três dias», explicou o investigador.

Um exemplo concreto da aplicação da tecnologia desenvolvida por este grupo de investigadores é relacionada com «projetos para avaliação de minerais no mar profundo», nos quais o Inest Tec está envolvido.

«Para verificar se o robô chega lá, se localiza, se consegue perceber onde está e se é capaz de fazer a análise daquele terreno, este navio é fundamental», disse.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Para isso, o “Mar Profundo” será dotado, ele próprio, de muita tecnologia e de elementos muito específicos, como «computadores de bordo, sensores, sistema de comunicações e duas plataformas, bem como uma moon pool, através das quais podemos aceder ao mar».

A embarcação tem também uma A-Frame e uma grua que permitem «depositar e tirar de dentro de água equipamento até uma tonelada e meia», bem como carregar e descarregar a partir de terra.

No entanto, ainda será preciso esperar um bocado até que o “Mar Profundo” possa dar o seu contributo à ciência.

«Ainda vão ser feitos os acabamentos, aqui em VRSA. Depois, teremos de montar alguns equipamentos, já lá em cima, junto ao nosso laboratório. Nós julgamos, sem grande optimismo, que em Setembro poderá começar a fazer as primeiras missões», antecipou Eduardo Silva.

A embarcação tem 19 metros de comprimento e sete de boca. «Pode ir até às 60 milhas, dá para levar oito investigadores a bordo, mais três a quatro tripulantes. Tem uma autonomia até três dias, que é o tempo seguido que podemos estar no mar sem ir a um porto».

O navio, apesar de assentar num sistema a diesel, tem a possibilidade de funcionar a eletricidade «cerca de 20 horas», para possibilitar algumas experiências, «como, por exemplo, as acústicas».

 

Fotos e vídeo: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 



Comentários

pub