Museu de Tavira apresenta exposição que põe visitantes «Contra-Parede»

A exposição poderá ser visitada no Museu Municipal de Tavira até dia 10 de Julho

Peça de Ana Vidigal que representa o grupo de artistas da exposição – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

Uma instalação com jornais originais pós 25 de Abril, um mural de papeis químicos ou um muro de dossiers usados, provenientes do arquivo da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe, são algumas das obras que compõem a exposição «Contra-parede».

Com curadoria de Hugo Dinis, os artistas Ana Vidigal, Nuno Nunes-Ferreira e Pedro Gomes mostram as suas obras num «diálogo frutífero sobre o papel da arte junto das comunidades locais em que se apresentam», até dia 10 de Julho, no Museu Municipal de Tavira/Palácio da Galeria.

Inicialmente com o nome de «Contra a parede», a ideia da exposição começou a ser desenvolvida desde Março de 2020, altura de plena pandemia e de confinamento, mas apenas agora em Abril do ano seguinte ganhou forma e espaço, de modo a ser implementada no Museu Municipal de Tavira.

A mostra, explica Hugo Dinis, «partiu de uma ideia de que o espaço público é um espaço de convivência e de intervenção pública».

Ainda antes da abertura oficial, que teve lugar no sábado, a exposição foi mostrada em detalhe aos jornalistas, numa espécie de visita guiada que contou com o curador, mas também com dois dos artistas, Ana Vidigal e Pedro Gomes.

 

Apresentação da exposição aos jornalistas – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

A parede, como a usada pelos antepassados nas grutas pré-históricas, nas fachadas dos edifícios de civilizações antigas, nas igrejas, na época renascentista ou até no muro de Berlim, «foi, e sempre será, o espaço privilegiado para fazer intervenções de qualquer espécie, quer seja vandalismo ou arte» acrescenta.

Ao longo das 10 salas que compõem a exposição, atravessamos por várias peças que, ao primeiro olhar, nos são estranhas, ao mesmo tempo que nos são familiares. Apenas com um olhar cuidado e rigoroso, nos é permitido descobrir o que é e qual a história por detrás das, agora, peças de arte.

«De tesoura ou de tesouro» é o nome da obra que recebe os visitantes, da autoria de Ana Vidigal. É composta por objetos que são usados no exterior, aqui transportados para o interior do museu, perdendo assim a sua função normal e ganhando uma nova: a função de obra artística.

A peça que quase resume a exposição é também da autoria de Ana Vidigal e trata-se, nada mais nada menos, do que de um tijolo de Santa Catarina. «É uma referência a nós, a um grupo que está a trabalhar em conjunto e indica que, para além disso, somos amigos. Isso é uma coisa que para mim é muito importante», revela a artista.

 

A exposição recebe o visitante com uma das obras de Ana Vidigal – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Na passagem entre salas, descobre-se uma imensidão de jornais originais, recolhidos no pós 25 de Abril, distribuídos entre duas instalações. Neste vasto arquivo, alguns dos jornais apenas realçam um título marcante, outros uma frase.

Mas muitos têm, nas suas páginas, a marca do Estado Novo e das suas questões políticas, numa alusão «à prevalência da liberdade, onde a voz e o discurso individual se encontram como um bem comunitário», alerta Hugo.

«Com estes jornais é que ele [o artista Nuno Nunes-Ferreira] percebe que, neste arquivo, todas as palavras que não podiam ser ditas entre 1969 e 1974, passam todas [com o 25 de Abril], para os jornais e para a voz pública», explica o curador da exposição.

 

Jornais originais, recolhidos no pós 25 de Abril – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

«Temos aqui imensos materiais que nos causam surpresa e onde se põe a pergunta: isto é uma obra de arte ou é o resto da realidade que nós conhecemos?». É com estas palavras que o artista plástico Pedro Gomes apresenta a exposição.

Uma das suas obras, e que salta logo à vista, é um mural onde são utilizados papeis químicos, usados na transferência ou cópia de desenhos, e que aqui ganham uma nova vida. «Estes materiais não são materiais de Belas Artes, mas sim materiais que fazem parte da nossa vida», diz o autor.

 

Pedro Gomes usa papel químico na sua obra formando «uma espécie de papel de parede» – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Quanto à obra de Nuno Nunes-Ferreira, o muro de dossiers usados, provenientes do arquivo da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe, salta à vista, ocupando uma das salas do museu. Com o título «Abate da frota pesqueira», os dossiers «contam a história dos últimos, talvez, 40 anos da indústria conserveira e da sua relação com as pescas», salienta o curador da exposição.

 

Dossiers usados, vindos da indústria conserveira, constroem o muro de Nuno Nunes-Ferreira – Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Na última sala da exposição, encontra-se uma peça mais dinâmica: um vídeo com fotos de capas de jornais, recolhidos maioritariamente da imprensa britânica, onde está centrada a palavra “vírus”. Esta peça surgiu em plena pandemia e vai sendo atualizada ao longo da exposição, sendo-lhe adicionadas as várias capas que são recolhidas por Nuno Nunes-Ferreira.

«Contra-Parede» poderá ser visitada, no Museu Municipal de Tavira | Palácio da Galeria, até dia 10 de Julho, seguindo depois viagem até às cidades de Caldas da Rainha, Abrantes e Vila Nova de Foz Côa.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 



Comentários

pub