Isilda Gomes: Decisão do Governo sobre Portimão é «castigo injusto, incompreensível e inaceitável»

«Vou esperar que o Governo decida avançar com muita rapidez com a vacinação em Portimão e no Algarve»

Isilda Gomes na conferência de imprensa – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

A decisão do Governo de obrigar o concelho de Portimão a voltar às restrições da primeira fase de desconfinamento, ontem à noite anunciadas pelo primeiro ministro, é um «castigo injusto, incompreensível e inaceitável», disse hoje Isilda Gomes, presidente da Câmara local, em conferência de imprensa.

A autarca começou por demonstrar, com os números mais recentes, que «o vírus não está espalhado nas ruas, nas casas, não está nas esplanadas» de Portimão, «tem origem em surtos que estão perfeitamente identificados, controlados e acompanhados». É que, disse, das «4187 pessoas testadas» de forma «massiva e aleatória» apenas resultaram 12 casos positivos de Covid-19. Ou seja, dos 185 casos identificados nas últimas duas semanas, apenas 12 foram detetados depois da testagem massiva e aleatória.

Aliás, explicou a presidente da Câmara, «fizemos esta testagem no sentido de comprovar que não há disseminação na comunidade e que os surtos estão bem identificados e localizados».

«Que fique bem claro: a estratégia de testagem massiva e rápida não é responsável pelo aumento do número de casos em Portimão. Não é!», garantiu Isilda Gomes.

Nos últimos dias, acrescentou, o surto da construção civil, que foi responsável pela grande maioria dos casos nas últimas semanas, está «em decréscimo acentuado», mas os casos na comunidade escolar têm «tendência de crescimento». Das 757 pessoas que, no concelho, estão em isolamento profilático, «50% relacionam-se com a comunidade escolar», havendo mesmo «22 turmas isoladas nos últimos 14 dias».

«Imagine-se que é isso [as escolas] que vai continuar aberto e a funcionar. Os locais onde não há transmissão de vírus, como é o caso das esplanadas e dos comércios, vão fechar. As escolas vão manter-se abertas, quando são exatamente o local onde nós agora temos mais casos positivos», estranhou Isilda Gomes. Os dados falam por si só, defendeu: «25% dos casos positivos estão na comunidade escolar. Isto implicou que 50% dos novos casos registados nos últimos 14 dias estejam nos agregados familiares da comunidade escolar».

 

Isilda Gomes e o restante executivo na conferência de imprensa – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

A presidente da autarquia, ladeada pelos três vereadores que compõem o executivo permanente, manifestando-se «revoltada» pela decisão anunciada ontem pelo primeiro ministro, apresentou de seguida um «caderno de encargos»  com seis reivindicações dirigidas ao Governo, a quem exige «medidas que não se limitem a paralisar a atividade económica e a vida das pessoas e das empresas».

E o que exige «de imediato» a Câmara de Portimão, nesse seu «caderno de encargos»? Primeiro, «o reforço efetivo da fiscalização, com aumento de operacionais nas forças e serviços de segurança, assim como da Autoridade das Condições de Trabalho e da ASAE».

Depois, a «priorização no reforço à vacinação, com a entrada em funcionamento do Centro Municipal de Vacinação» que, segundo frisou a autarca, «está pronto desde 3 de Março», mas «o senhor presidente das ARS teima em não abrir».

«Tenho visto o senhor primeiro ministro e a senhora ministra da Saúde a visitar centros de vacinação por esse país fora. Era altura de os dois virem visitar o nosso Centro de Vacinação e dizerem aos portimonenses porque é que têm de recuar [nas medidas de desconfinamento]. Talvez assim o senhor presidente da ARS abrisse o nosso Centro de Vacinação», acrescentou Isilda Gomes, que manifestou ainda a sua incompreensão pelo facto de os professores serem vacinados nas escolas, para onde tem de ser enviada uma ambulância, quando há um centro com todas as condições pronto a funcionar.

A terceira exigência passa por «apoios extraordinários» do Governo para a restauração e o pequeno comércio do concelho. A Câmara de Portimão, recordou, injetou na economia local, «nos últimos dois meses, dois milhões de euros», totalizando os gastos municipais com a pandemia sete milhões de euros.

Outras exigências são a «obrigatoriedade de uso de máscara na via pública», bem como o «reforço dos profissionais de saúde para acompanhamento dos positivos que não são devidamente acompanhados por não terem médico de família».

Finalmente, «acrescentar a variável do número de testes realizados nos indicadores de decisão de desconfinamento dos concelhos, valorizando a baixa taxa de p0sitividade, sempre que esta se verifique».

Por outro lado, porque o esforço de testagem feito pelo Município não foi tido em conta pelo Governo na decisão ontem anunciada, Isilda Gomes adiantou que esses testes pagos e promovidos pela autarquia vão parar: «a Câmara não fará nem mais um teste a partir deste momento».

 

Esplanada em Portimão…nem tão cedo regressa esta imagem – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

«Este é o nosso caderno de encargos para o Governo. Do seu cumprimento ou não, retirarei as devidas ilações», acrescentou a presidente da Câmara de Portimão. Instada pelos jornalistas a explicar se estas palavras significam que, caso as suas reivindicações não sejam atendidas, pondera demitir-se ou não se candidatar às Eleições Autárquicas de Outubro próximo, Isilda Gomes respondeu que «neste momento não adiantarei mais nada, mas saberei fazer a leitura do que acontecer no futuro».

É que, além de presidente de uma Câmara importante, Isilda Gomes é ainda membro da Comissão Política Nacional do Partido Socialista e vice-presidente da Associação Nacional de Municípios, o que dá ainda mais força às suas críticas à atuação do Governo.

A autarca criticou igualmente o facto de não se saber quando poderá ser alterada a situação do concelho de Portimão: ontem, quando foi comunicada pelo primeiro ministro a decisão de fazer Portimão recuar às medidas da primeira fase do desconfinamento, «devia ter sido logo dito ao fim de quantos dias seria a nova reavaliação e para qual patamar se poderá avançar, se para este onde estamos neste momento ou se para o seguinte».

Isilda Gomes acusou também o Governo do seu próprio partido de ter «um grupo de ministros que é muito securitário» e, quanto ao primeiro ministro António Costa, disse ter a ideia de que «a informação não lhe chega toda».

A autarca portimonense teceu ainda duras críticas à forma como o Algarve, que é a principal região turística do país e que, por essa via, contribui com 4% do PIB nacional, está a ser tratado nesta questão da Covid-19. «Ninguém compreende, no Algarve, o atraso na vacinação», frisou, acrescentando que vai «esperar que o Governo decida avançar com muita rapidez com a vacinação» não só em Portimão, mas em toda a região algarvia.

«O Algarve é a montra do país. Qualquer coisa que se faça no Algarve tem reflexos no turismo», defendeu Isilda Gomes, recordando que ainda hoje a Alemanha colocou a região na lista de zonas em risco.

Falando sobre a ausência de uma posição comum do Algarve, nomeadamente dos seus autarcas, a presidente da Câmara portimonense disse que, «das duas uma: ou se quer uma região turística pujante e que ainda recupere alguma coisa da sua economia durante este ano, e se avança com a vacinação, ou então deixa-se cair o Algarve». «Não é só Portimão, mas o Algarve todo devia ser olhado com outros olhos», frisou.

 

 



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