Com «resiliência» e espírito de união, Nautiber continua a construir barcos durante a pandemia

Rui Roque, sócio-gerente da Nautiber, quer que o país retribua o forte contributo fiscal do Algarve ao longo dos anos, para compensar a crise que a região está a atravessar

Estaleiros da Nautiber –  Imagem de Arquivo – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Não tem sido fácil, mas «com resiliência» e espírito de união, a empresa de construção naval Nautiber, de Vila Real de Santo António, conseguiu nunca parar a sua atividade e ultrapassou os desafios que foram surgindo durante a pandemia.

Cerca de um ano depois da Covid-19 ter mudado a vida de todos, os estaleiros algarvios continuam a trabalhar e a contribuir para as exportações e para o equilíbrio da balança comercial nacional.

No entanto, avisa Rui Roque, sócio-gerente da Nautiber, o pior ainda está para vir e é preciso que o país retribua ao Algarve o «forte contributo» fiscal da região para os cofres nacionais, ao longo dos anos.

«Se houve uma região que foi especialmente afetada pela pandemia, foi o Algarve, que vive, essencialmente, do turismo», disse.

«Nós sempre tivemos índices de contribuição fiscal muito bons, sempre contribuímos muito para o país. É a hora, no fundo, do país retribuir ao Algarve e é muito importante que isso aconteça», defendeu Rui Roque.

Este desabafo é feito por um empresário que é um exemplo de como a economia do Algarve não tem de depender exclusivamente do Turismo e que há espaço para atividades industriais na região.

A Nautiber emprega diretamente «70 pessoas» e conta «com cerca de uma dezena de funcionários indiretos, subcontratados», revelou o empresário, à margem do bota-abaixo do navio científico “Mar Profundo”, a mais recente construção destes estaleiros vilarrealenses.

 

Rui Roque, sócio-gerente da Nautiber – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

A faturação anual deste empresa, que, em média, faz «dez a 12 embarcações por ano», anda «à volta de sete milhões de euros».

A empresa nunca parou de trabalhar, apesar de também ter sido afetada pela pandemia.

«Nós, neste momento, debatemo-nos com falta de equipamento e de material, com custos muito mais elevados de aquisição do que necessitamos. A pandemia teve como principal consequência esta situação», disse o empresário.

«Mas nós trabalhámos sempre, nunca parámos, fomos contornando os problemas que foram surgindo, houve essa resiliência e acho que foi muito importante. Penso que é aquilo que todos devem tentar fazer», acrescentou.

Neste momento, a Nautiber tem «14 embarcações em construção, das quais oito para exportação e as restantes para o mercado nacional».

«Há um peso muito grande de Angola, que, neste momento, é um mercado fundamental para nós. Temos sete embarcações alocadas a Angola e há continuidade nesse trabalho», revelou Rui Roque.

Estas são «embarcações da pesca do cerco. Para Angola, são todas cercadoras. Depois, temos uma polivalente, destinada a Moçambique».

«Tem um lado muito positivo, que é o facto de ser uma área onde nos sentimos muito à vontade, mas também um lado negativo, que é o de estar muito dependente desse mercado para a tua atividade», ilustrou o empresário algarvio.

 

Bota-abaixo Mar Profundo – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Isto faz com que as outras coisas, como o navio científico deitado ao mar na quarta-feira, «sejam tão importantes».

No entanto, a pandemia afetou um segmento que trazia muito negócio a estes estaleiros de VRSA, o das marítimo-turísticas.

«Mesmo assim, nós temos quatro embarcações marítimo-turísticas em construção. Por outro lado, tivemos de compreender as posições dos armadores a quem entregámos embarcações, em 2020, e dar-lhes outras condições», explicou.

Desta forma, a Nautiber teve de «ir à procura de soluções. As embarcações não nos servem para nada, temos de as entregar e as pessoas têm de trabalhar. Tem que haver um espírito de cooperação com esses agentes económicos».

«Tem havido aqui um esforço da nossa parte e dos nossos fornecedores. Nós não estamos sozinhos, precisamos todos uns dos outros e, nestas fases, temos de nos unir e procurar soluções. Isso é fundamental!», enquadrou.

«Não podemos começar a disparar para um lado e para o outro. Temos de estar juntos neste esforço», concluiu.

 

 

 

 



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