Algarve entra na Primavera com barragens a 70%

Ainda assim, «se a seca voltar, vamos ter novamente problemas»

Barragem de Odeleite – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

As barragens do Algarve estão, no seu conjunto, com cerca de 70% da água que conseguem armazenar, um volume deste bem essencial que há muito não se via na região.

A chuva que tem caído neste ano hidrológico, que começou em Outubro, fez com que os níveis das diferentes albufeiras subissem de forma considerável, com o volume de água armazenada a quase dobrar nas barragens do Sotavento Algarvio, sub região onde, por norma, chove menos.

Mas, e apesar da água que caiu ter chegado para tirar o Algarve da situação de seca em que se encontrava há anos e para tranquilizar a região quanto à necessidade de um eventual racionamento, isto não significa que o problema da escassez de recursos hídricos está resolvido.

Pedro Coelho, diretor regional da Agência Portuguesa do Ambiente/Administração da Região Hidrográfica do Algarve, fez um balanço da situação atual, em termos de disponibilidades hídricas na região, à margem da apresentação de um projeto para aproveitar parte do volume morto da Barragem de Odeleite.

E se  é verdade que, «neste momento, estamos a 70% da capacidade, no conjunto das albufeiras do Algarve», também é verdade que, «se a seca voltar, vamos ter novamente problemas».

«As pessoas, aqui no Algarve, estão habituadas a ter pouca chuva e acham que este ano foi um ano em que houve muita. Mas, na verdade, a pluviosidade, neste ano hidrológico, está dentro da média», ilustrou.

 

Pedro Coelho – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Ou seja, este não foi um ano anormalmente chuvoso, os anteriores é que tiveram menos chuva do que é suposto. Aqui, o mais correto, provavelmente, é dizer “era”, uma vez que a tendência, segundo indicam os modelos científicos, é que caia cada vez menos chuva e que aumentem os fenómenos meteorológicos extremos (secas ou inundações), devido às alterações climáticas.

Daí que Pedro Coelho tenha feito questão de elogiar o investimento de 1,5 milhões de euros que será feito, para permitir retirar mais 15 milhões de metros cúbicos de água da albufeira de Odeleite, medida que «em boa hora a [empresa] Águas do Algarve começou a desenhar».

Certo é que, para já, a Barragem de Odeleite está numa situação bem mais “confortável” do que há um ano.

Segundo os dados mais recentes do Serviço Nacional de Informação de Recursos Hídricos, relativos ao mês de Março, o volume armazenado nesta albufeira do concelho de Castro Marim é de 71,6% da capacidade total. Há um ano, este valor ficava-se pelos 39,5%.

Ali ao lado, na Barragem do Beliche, uma albufeira bem mais pequena, também houve um incremento substancial: os últimos dados apontam para 63,7% de volume armazenado, quando em Março de 2020 estava nos 32,7%.

 

Barragem de Odelouca – Imagem de Arquivo

 

Nas quatro barragens do Barlavento Algarvio, apesar de a percentagem de água armazenada ter subido em todas elas, a diferença de um ano para o outro não é tão acentuada.

Odelouca, a maior barragem da região algarvia, está atualmente a 76,1 % da sua capacidade total, quando há um ano estava nos 53,7%.

Na albufeira do Funcho, a percentagem de água armazenada subiu para 83,4 (76,8% em Março de 2020) e, na barragem do Arade, o volume existente representa 68,3% da capacidade total (49,6% há um ano).

Na Barragem da Bravura, a subida foi pouco significativa – 35,4% agora, 31,1% há um  ano -, mas apenas se não se tiver em conta que, no final do ano hidrológico passado, esta albufeira chegou a estar abaixo dos 15% da sua capacidade.

Apesar destas boas notícias, a palavra de ordem que chega das autoridades do ambiente e da própria empresa Águas do Algarve é que se deve poupar e evitar desperdiçar água ao máximo.

Para isso, estão previstos, no Plano de Recuperação e Resiliência, avultados investimentos na melhoria da eficiência hídrica do Algarve, nomeadamente a redução das perdas tanto nos sistemas de abastecimento urbano, como nos agrícolas, bem como a reutilização de águas residuais.

O dinheiro da “bazuca” da União Europeia também servirá para construir duas grandes infraestruturas para aumentar as disponibilidades hídricas na região: a ligação ao Pomarão e uma dessalinizadora. Mas, neste caso, trata-se de investimentos não muito consensuais, até porque deverão motivar um aumento do preço da água no Algarve.

 

 

 



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