(Re)desenhar as comunidades de habitação para idosos pode ser uma resposta à sazonalidade

As estruturas de habitação para idosos há muito que requerem uma reavaliação no que respeita à sua forma e função

Se a pandemia mundial, provocada pela Covid-19, interferiu com vida de todos, foi nos mais idosos institucionalizados que alterou, de forma abrupta, o seu modo de vida. A maioria viu-se privada de visitas, de afetos e muitos ficaram confinados a um quarto.

As estruturas de habitação para idosos há muito que requerem uma reavaliação no que respeita à sua forma e função. Neste sentido, a Arquitetura pode contribuir com o pensamento, o desenho e o debate sobre a identidade a desenvolver para estas estruturas, visando a melhoria da qualidade de vida de quem nelas habita.

Tomemos, como ponto de partida, as grandes estruturas turísticas espalhadas pelo Algarve, concebidas segundo um modelo de habitação individual, pequenas aldeias, cuja ocupação é maioritariamente sazonal e que, por consequência, se encontram subaproveitadas e desvalorizadas ou, mesmo, abandonadas.

Poderão estas pequenas “aldeias” ser reestruturadas visando a sua ocupação para as necessidades de habitação da população idosa, seja ela permanente ou temporária?

Podemos, ainda, acrescentar os territórios do interior, em processo de despovoamento, e procurar perceber como é que estes se podem regenerar, através da implementação destas estruturas. Estas estruturas devem ser para idosos ou intergeracionais?

Estas perguntas levam-nos a pensar que poderemos encarar a possibilidade de transformar a região do Algarve num “laboratório” do que poderá ser no futuro do turismo (sénior) na Europa, ou das comunidades de habitação para idosos, que, cada vez mais, deve ser pensadas como integradas e integrantes entre gerações.

Assume-se, assim, um conceito que procura potenciar, entre outros, a inversão do despovoamento do interior; a melhoria da qualidade de vida nas estruturas de habitação para idosos; a promoção da intergeracionalidade das estruturas de habitação e dos territórios; e o atenuar da sazonalidade turística da região do Algarve.

O conceito não é único, o que o distingue dos demais é o facto de se poder aliar ao desenvolvimento turístico e económico de uma região.

A partir da segunda metade do século XX, no Norte da Europa e na América do Norte, surgiu a necessidade de conceber estruturas de habitação para idosos, que se distanciassem da imagem de institucionalização, que se aproximassem da imagem “casa” e minimizassem o isolamento, começaram a surgir modelos baseados nos princípios de vida em comunidade, tendo como referência as “cooperativas”.

Assim, tornou-se possível desenvolver unidades habitação, integradas e apoiadas por serviços diferenciados e especializados, que fazem a diferença a quem deles depende.

A possibilidade destes criarem comunidades intergeracionais sustentadas no património (abandonado) existente deve ser um fator a debater, sobretudo numa região marcada por uma vocação turística, que deixa vazios, durante grande parte do ano, milhares de metros quadrados de construção e cujo território interior vai sendo votado ao abandono.

Este pode ser o momento que pode inverter esse ciclo.

 

Autora: Ana Bordalo é diretora do Mestrado Integrado em Arquitetura do ISMAT

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