Testagem à Covid em Castro Marim faz PS e PSD de VRSA “trocar” de lado

Candidato do PS a VRSA defende ação de autarca do PSD contra as recomendações da Autoridade de saúde Regional, PSD vila-realense apoia a ARS

Testagem em massa em Castro Marim – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O candidato do PS à Câmara de Vila Real de Santo António quer que o executivo social-democrata vila-realense siga o exemplo do concelho vizinho de Castro Marim, com um presidente do PSD, e teste toda a população à Covid-19.

Talvez para equilibrar a balança, o PSD de VRSA veio a público defender a Autoridade de Saúde Regional, que está contra a testagem em Castro Marim, manifestando-lhes «apoio e solidariedade» pelo «excelente trabalho no combate à pandemia».

Este é mais um episódio – ainda que com o seu quê de insólito – da “guerra” entre as autarquias de Castro Marim e de VRSA, ambas com executivos PSD, e a Autoridade de Saúde algarvia.

No início de Fevereiro, os dois municípios vieram a público manifestar o seu desagrado por terem visto a Administração Regional de Saúde recusar a sua ajuda no rastreio e seguimento de contactos de risco, na sequência do forte aumento de casos de Covid nos dois municípios vizinhos.

Duas semanas depois, Castro Marim acusou a Autoridade de Saúde Regional de inação e avançou para a testagem massiva, enquanto o PSD de VRSA defende a Autoridade de Saúde Regional.

Os dois principais protagonistas desta polémica são Francisco Amaral, o presidente da Câmara de Castro Marim, que foi além das críticas verbais e colocou em marcha um plano municipal de testagem em massa da população, e Ana Cristina Guerreiro, a delegada regional de Saúde, que defendeu que a medida não fazia sentido, já depois de ter garantido que a ajuda das autarquias não foi nunca necessária.

Para o edil de Castro Marim, «os inquéritos epidemiológicos não estavam a ser bem feitos».

«Os recursos humanos do Ministério da Saúde para fazer esse trabalho eram mínimos. Nós e a Câmara de Vila Real de Santo António mostrámos a vontade de colaborar com os nossos técnicos. Essa colaboração, inexplicavelmente, foi recusada e o descalabro estava aí», disse o também médico.

 

Francisco Amaral – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Ana Cristina Guerreiro justificou a recusa, alegando que esta era desnecessária.

«Castro Marim e VRSA passaram por momentos muito difíceis, com taxas de incidência a 14 dias muito elevadas. Quando surge a oferta desta colaboração, a situação já estava estabilizada e os números já tinham começado a descer», assegurou a delegada regional de Saúde do Algarve, na última conferência de imprensa de balanço da situação epidemiológica no Algarve.

Na altura em que reforçou a sua justificação, há uma semana, Ana Cristina Guerreiro deu conta que, com os números daquela semana, «Castro Marim deve ter saído do risco extremamente elevado e VRSA está a caminho».

Estes argumentos, se foram apresentados a Francisco Amaral, não o convenceram. Desta forma, Castro Marim decidiu avançar com o seu próprio processo de testagem gratuita, dirigido a toda a população.

Para fazer este rastreio em massa, a autarquia está a contar com a ajuda de profissionais de saúde voluntários e adquiriu 5 mil testes rápidos à Covid-19, com o objetivo de testar, em pouco tempo, o maior número de possível de pessoas.

Esta megaoperação foi desvalorizada por Ana Cristina Guerreiro, que afirmou, na conferência de imprensa, não ter «conhecimento do que será feito», uma vez que não foi oficialmente informada e só soube do rastreio pela comunicação social.

«Posso dizer-vos que a testagem aleatória não traz grandes benefícios. Já foi tentada em vários municípios, sem grande sucesso», afirmou a delegada regional de saúde, que também dá o exemplo da Eslováquia, onde a população foi toda testada, sem que se tenha considerado que valesse a pena.

«Este tipo de ação pode dar uma falsa sensação de segurança. No momento, uma pessoa pode não ter, mas no dia seguinte tem. A testagem deve ser orientada, feita em contextos de risco», defendeu Ana Cristina Guerreiro.

 

Ana Cristina Guerreiro – Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

Francisco Amaral não podia discordar mais, principalmente da parte em que já foi feito noutros municípios, sem sucesso.

«É mentira absoluta, até porque é a primeira vez que se está a fazer isto no país. Aliás, se a delegada tiver em atenção as recomendações do Infarmed da semana passada, elas foram neste sentido: testar em massa, que é o que nós aqui estamos a fazer», afirmou.

Quanto às afirmações de Ana Cristina Guerreiro de que não sabia o que seria feito em Castro Marim, o autarca considerou-as «lamentáveis».

«Se não sabe, informa-se, nomeadamente através do delegado de saúde local, em vez de tentar desvalorizar e boicotar esta iniciativa», falando mesmo em «ciumeira institucional».

E se, até este ponto, a troca de argumentos e a polémica segue uma lógica de combate político “normal” – o presidente de Câmara de um partido de oposição ao Governo a questionar a atuação de uma entidade desconcentrada do Estado -, a reação do PS e do PSD do município vizinho acabam por surpreender.

Numa carta aberta, dirigida à social-democrata Conceição Cabrita, presidente da Câmara de VRSA, o candidato do PS a esta autarquia, Álvaro Araújo, veio propor «uma estratégia massiva de testagem à população vilarealense», chamando, precisamente, a atenção para «a ação de vacinação que está a decorrer no concelho de Castro Marim», que foi «amplamente divulgada».

«Esta estratégia deve, obviamente, ser ponderada e organizada de forma responsável e em articulação com todas as unidades de saúde ao nível local e regional», que são tuteladas pela entidade que diz que este tipo de ação é desaconselhada.

Álvaro Araújo justifica a sua posição com «uma linha de diretivas propostas na primeira pessoa pelo pneumologista Carlos Robalo Cordeiro».

«A ideia clara que nos foi passada por aquele pneumologista foi que, objetivamente, os testes cheguem a todos e o quanto antes, independentemente do grupo a que pertence cada cidadão. Devem, primeiramente, ser tidos em conta os grupos de maior risco ou que apresentem maior suscetibilidade de infeção, não obstando que o objetivo final seja chegar a cada um de nós», explicou.

Isto, no fundo, é o que está a ser feito em Castro Marim, contra as recomendações de uma ARS cuja presidência foi nomeada pelo Governo PS.

A água na fervura chega da parte do… PSD, o partido pelo qual Francisco Amaral é eleito presidente de Câmara há três décadas, em mandatos consecutivos, primeiro em Alcoutim e, mais recentemente, em Castro Marim.

Numa curta declaração pública, o PSD de VRSA manifestou «o seu total apoio e solidariedade para com as autoridades de saúde, local e regional, pelo excelente trabalho realizado no nosso concelho no combate à crise pandémica que recentemente se agravou, mas que, segundo mostram os números, está numa fase de controlo».

«O reconhecimento às autoridades de saúde estende-se a todas as forças concelhias envolvidas na subcomissão de proteção civil, entre as quais o Município de Vila Real de Santo António, que têm feito um trabalho rigoroso e regular, sendo também seu o sucesso de todas as respostas positivas dadas mesmo nos momentos mais difíceis», acrescentaram os social-democratas, que não tecem qualquer comentário sobre a testagem no concelho vizinho e, muito menos, sobre a polémica entre Francisco Amaral e a delegada regional de Saúde.

Certo é que, independentemente das posições assumidas por cada um dos protagonistas desta “guerra”, a testagem em Castro Marim já começou e irá continuar já amanhã – e até já serviu para detetar «meia dúzia de casos positivos».

 

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