Não viu monstros, mas João Rodrigues trouxe um prémio do fundo do “mar” de Minde

Apesar de raro, este é um fenómeno que também acontece na Nave Barão, no interior do concelho de Loulé

Em criança, João Rodrigues ouviu histórias sobre um sítio que o fizeram imaginar monstros aquáticos e figuras quase mitológicas. Quando se começou a interessar pela fotografia subaquática, decidiu que tinha de mergulhar no “mar” de Minde, um fenómeno raro que sempre o fascinou. Foi em Janeiro de 2020 que cumpriu um sonho que agora o fez ser um dos vencedores do concurso “Underwater Photographer of The Year”, a maior montra da fotografia subaquática a nível internacional. 

Apesar de estar radicado no Algarve há vários anos, para onde veio estudar, João Rodrigues tem um carinho especial por Minde.

«É perto da minha zona natal e o meu pai trabalhou lá há muitos anos. Foi um sítio que sempre me fascinou, onde ia desde novo», começa por contar ao Sul Informação. 

Havia, em particular, algo que lhe captava a atenção.

«Sempre se soube que, a certo ponto, há lá um vale que alaga. O que acontece é que a zona cársica da Serra de Aire e Candeeiros tem muitos lençóis freáticos. Em anos com elevados níveis de precipitação, os solos começam a saturar e a brotar água cá para fora. É assim que surge o “mar” de Minde, cujo nome mais científico é Polje de Minde», relata.

Curiosamente, apesar de raro, este é um fenómeno que também acontece na Nave do Barão, no interior do concelho de Loulé.

No fundo, em Minde, «o que é uma floresta, passa a ser uma floresta submersa e eu desde miúdo que ouvia histórias sobre o que se passava ali, imaginava coisas, pensava em monstros aquáticos», diz, entre risos.

2020 foi o ano em que o fotógrafo subaquático conseguiu cumprir o seu sonho de «mostrar o que está além daquela linha de água». As expetativas de encontrar algo fora do normal nem eram grandes, mas a realidade superou a ficção (essa mesmo, a dos monstros aquáticos).

 

João Rodrigues – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação – Arquivo

 

«Eu ia sem grande expetativas – ia mais pela vegetação, mas foi um espetáculo. Não estava à espera do que aconteceu: estava focado a fotografar uns ramos de árvores e, de repente, vejo um vulto negro – depois reparei que era um casal de salamandras a copular», relata.

De máquina em punho, a cerca de 3 metros de profundidade, tirou a fotografia que, além de publicada na revista National Geographic, foi uma das vencedoras do concurso “Underwater Photographer of The Year”, na categoria “Behaviour” (comportamento), sendo o único português galardoado.

«Confesso que ver ali a nossa bandeira, chamemos-lhe assim, me deixou cheio de orgulho. Eu nem tinha grandes esperanças na categoria em que acabei por vencer, mas mais na parte da “Conservação Marinha” que é a minha área», conta.

Ainda assim, a verdade é que o fotógrafo subaquático conseguiu mesmo ser um dos vencedores com esta imagem de duas salamandras a copular.

Para João Rodrigues, o “mar” de Minde merece ser mais conhecido por mais gente. «É uma coisa tão única, mas tão desconhecida… Infelizmente foi preciso, mais uma vez, uma imagem ir lá fora para as pessoas terem interesse pelo seu património», lamenta.

É que mergulhar no Polje de Minde, para alguém que está tão habituado a fazê-lo em verdadeiros mares, foi como rumar «ao desconhecido».

«No mar, vês corais, recifes e peixes. Ali sentes que estás a voar entre as árvores e, por exemplo, até marcos de estrada encontrei. A água ali é mais esverdeada também. Na verdade, o cenário é um bocadinho Tim Burton – é mais místico, mas inesquecível», conclui.

 

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