Em Castro Marim, há testes à Covid-19 gratuitos até para quem está saudável

Concelho do Sotavento algarvio avançou para a testagem em massa da população

Neuza Monteiro a ser testada à Covid-19 – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Neuza Monteiro aguarda tranquilamente a sua vez de ser testada à Covid-19. Mas esta jovem não está no Pavilhão Municipal de Castro Marim por ter sintomas da doença, nem por ter tido algum contacto de risco. Neuza é uma dos mais de dois mil munícipes que acederam ao apelo da Câmara castromarinense e já aderiram ao programa gratuito de testagem em massa iniciado este sábado pelo município.

«Venho não só por descargo de consciência, mas também porque volto a trabalhar na segunda-feira e sou cá de Castro Marim. Acho que esta é uma excelente iniciativa do município, para rastrear o maior número de casos possível, tendo em conta que o concelho está entre os que têm o maior índice de risco», disse ao Sul Informação a jovem castromarinense.

Segundo esta habitante da Castro Marim, «já havia já aqui uma sensação de alguma insegurança, de algum receio. Temo-nos mantido todos em casa e tentado restringir ao máximo os contactos. Mas esta situação é já tão generalizada que não é possível controlar. Muitas pessoas apanharam o vírus e nem percebem como, porque têm muitos cuidados».

«É de louvar. Fossem todos os municípios assim», reforçou.

Este era o espírito que se ia captando, entre as dezenas de pessoas que iam chegando ao centro de testes montado pela Câmara de Castro Marim, a pé e de carro. Enquanto a reportagem do Sul informação esteve no local,  muitas pessoas optaram pela opção drive thru. Mas outros, como Neuza, preferiram ir a pé.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

E como é que tudo se processa?

Primeiro que tudo, os interessados devem fazer a inscrição gratuita, que «idealmente deve ser prévia» e pode ser feita através do email [email protected] ou dos contactos 281 510 747 ou 281 510 778 (9h00-17h00) e 961 743 222 (9h00-20h00).

«No entanto, também estamos a aceitar inscrições na hora. Demora mais um bocado, mas faz parte do processo de testagem», explicou ao nosso jornal Ricardo Pereira, farmacêutico que se deu como voluntário para esta iniciativa da Câmara, à semelhança de outros profissionais de saúde de diferentes áreas.

Depois de chegarem ao parque de estacionamento do pavilhão municipal, os munícipes são orientados para uma das duas grandes tendas do Drive Thru, onde são testados aqueles que chegam de carro, ou para um dos três postos de recolha existentes dentro do pavilhão, destinados a quem chega a pé.

«Não devem recear vir cá. Não há riscos, nem para elas, nem para nós. Nós temos a proteção toda pensada e temos a organização dos locais», assegurou Ricardo Pereira, que é, igualmente, o coordenador das mesas.

 

Ricardo Pereira – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Feito o teste, as pessoas «vão para casa e receberão uma mensagem ao fim do dia, caso sejam negativas. Se forem positivas, são imediatamente contactadas». Tudo isto é feito com o apoio do delegado de Saúde, que também está no local.

Esta celeridade na informação sobre o resultado tem a ver com facto dos testes serem rápidos, pelo que se sabe o desfecho em apenas «15 a 20 minutos». Ou seja, quem estiver positivo «é avisado dentro da próxima meia hora, uma hora no máximo».

«No final do dia, todos os testes vão ser reportados ao Sinave, que é quem controla os dados da testagem a nível nacional», explicou o farmacêutico.

Ricardo Pereira é um dos cerca de 20 profissionais de saúde  «que se ofereceram para fazer isto sem ganhar um tostão, entre médicos dentistas, higienistas orais, farmacêuticos, enfermeiros e outras especialidades médicas», segundo Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim.

A estes, junta-se «uma vintena de funcionários da Câmara, que estão a dar o apoio logístico e de secretariado».

 

Francisco Amaral – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O autarca, que também é médico, mostra-se satisfeito pela adesão da população a uma iniciativa que, diz, «é inédita em Portugal» e vai ao encontro das recomendações das entidades internacionais e do próprio Infarmed, que defendem a testagem em massa.

«Iniciámos as pré-inscrições e, em dois dias, tivemos logo dois mil inscritos. Estou convencido que vamos conseguir testar toda a população de Castro Marim em poucos fins de semana», disse Francisco Amaral.

O facto de ser ao fim de semana tem a ver com o carácter voluntário do trabalho dos técnicos de saúde envolvidos.

No caso de Ricardo Pereira, apesar da adesão a esta iniciativa não trazer qualquer retorno financeiro e implicar trabalhar em dias que poderiam ser de descanso, chega a garantia de que o desafio que lhe foi feito «era quase irrecusável, para mim».

«Eu trabalho no concelho de Vila Real de Santo António, mas é um concelho vizinho, isto é um meio pequeno e conhecemos muitas pessoas. Não podíamos recusar, porque a nossa missão enquanto profissionais de saúde é defender e promover a saúde pública», assegurou.

Depois de feito o desafio, por parte da Câmara, «os contactos também se promoveram entre profissionais de saúde amigos ou conhecidos uns dos outros. Acabou por haver uma adesão massiva a este projeto, à participação pro bono. No fundo, trata-se de colocar os nossos conhecimentos ao serviço deste projeto de testagem», resumiu Ricardo Pereira.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Entretanto, a Câmara de Castro Marim já encomendou mais mil testes rápidos, a juntar aos 4 mil inicialmente adquiridos, a pensar na testagem de uma população que ronda as cerca de 7 mil pessoas.

Estes testes serão os necessários para rastrear todos os munícipes que reúnem os critérios para poderem ser testados: ter mais de 10 anos e não ser já imune – por exemplo, ter sido vacinado ou ter imunidade resultante de já ter sido infetado.

Como Francisco Amaral já havia explicado ao Sul Informação, a decisão de avançar para este rastreio em massa deveu-se ao facto de Castro Marim ter atingido um nível muito elevado de risco, devido à grande quantidade de novos casos que tem surgido de há mais ou menos um mês a esta parte.

«A população estava muito preocupada, porque, repare: somos o concelho mais pandémico do Algarve e havia um descontrolo absoluto, porque os inquéritos epidemiológicos não estavam a ser bem feitos», disse o presidente da Câmara de Castro Marim.

«Eu, como autarca e como médico, não podia ficar de braços cruzados a assistir a este filme de terror. Inclusivamente, morreram adultos jovens aqui no concelho», afirmou o edil.

«Como tal, temos aqui esta operação, que estamos a preparar há 15 dias», resumiu.

A jovem adulta que Francisco Amaral referiu foi uma mulher de 42 anos, que tinha sido mãe há pouco tempo, que morreu com Covid-19 recentemente.

E este é um acontecimento que parece ter marcado a população de Castro Marim.

«Eu, felizmente, não tenho ninguém muito próximo que já tenha tido a doença, mas a rapariga que, infelizmente, faleceu, era aqui minha vizinha», contou Neuza Monteiro, que não esconde que isso ajudou à sua disponibilidade em aceder ao apelo da Câmara Municipal.

No próximo fim de semana, dias 20 e 21, os testes serão levados até junto da população que vive mais isolada, «nomeadamente nas freguesias do Azinhal e de Odeleite», através da Unidade Móvel de Saúde, disse, ainda, Francisco Amaral.

 

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

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